Primeira parcela do décimo terceiro deve ser usada para quitar dívidas

Empresários optam por parcelar o pagamento de dinheiro extra

Abílio Dantas
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Com quase dois anos de pandemia e crise econômica, o pagamento da primeira parcela do décimo terceiro salário, que deve ser quitada até esta terça-feira (30), será utilizada pela população para o pagamento de dívidas. É o que afirmam o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos do Pará (Dieese-PA), o setor de bares e restaurantes de Belém e um segmento do movimento sindical do Pará.

De acordo com levantamento do Dieese, o pagamento das duas parcelas do décimo terceiro vai injetar R$ 4,5 bilhões na economia paraense até o final deste ano, e quase duas milhões de pessoas serão beneficiadas. Trabalhadores do mercado formal representam 63% desse total (1.199.923 pessoas), enquanto aposentados e pensionistas são 37% (704.771 pessoas).

O economista e supervisor técnico do órgão, Roberto Sena, avalia que o poder de compra de qualquer salário neste ano, incluindo o décimo terceiro, foi reduzido em comparação com 2020. Roberto Sena acrescenta também que o dinheiro extra deve ser usado para o pagamento de dívidas. “O cenário é muito preocupante. A queda de poder aquisitivo foi geral e mais da metade das famílias paraenses estão endividadas. Por isso, é fundamental ter bastante cuidado com as rolagens de dívida, quer sejam de crediário, bancários ou cartões de crédito. É importante lembrar também que após os gastos de final de ano, há ainda as despesas presumidas para o início do próximo ano.  Portanto, já a partir de Janeiro de 2022, teremos gastos com IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores), despesa com férias, pagamento do IPTU, matrículas escolares e os pagamentos das despesas feitas neste final de ano”, alerta.

O empresário do ramo de bares e restaurantes, Francisco Oliveira, afirma que o movimento do seu estabelecimento ainda não retomou o mesmo nível de antes da pandemia, por isso a administração financeira requer cuidados, com estratégias para conseguir cumprir com a obrigação. “Tenho 24 funcionários. O que decidi fazer foi começar a pagar de forma parcelada desde agosto. Se fosse deixar para pagar tudo no final do ano, ia ficar muito pesado. Tenho certeza que muitos empresários terão dificuldade. E, apesar de o décimo sempre dinamizar a economia, acredito que o movimento do público nos restaurantes não será tão grande, já que muita gente vai usar o dinheiro para pagar dívida”, destaca.

Para Francisco Oliveira, a abertura de cerca de 80% do mercado de bares e restaurantes ainda não foi suficiente para que os empresários do setor estejam “confortáveis” com as contas. “O setor de shows voltou com tudo, você pode notar pelo número de grandes shows que está ocorrendo na cidade, todos lotados. Mas os restaurantes não estão assim, porque as pessoas mais maduras, que são o nosso público, estão bem ‘pé no chão’ em relação aos gastos”, opina.

O economista e consultor empresarial Edson Moreira aconselha a todos que vão receber o décimo terceiro salário que façam um planejamento orçamentário e priorizem compras necessárias e quitação de dívidas. “Todo trabalhador brasileiro tem direito ao décimo terceiro salário, diretamente proporcional ao tempo de serviço. A partir de 12 meses de carteira assinada na empresa o 13 é integral (um salário a mais). E quem tiver tempo de serviço inferior, o pagamento é proporcional”, explica.

Para o diretor administrativo do Sindicato dos Bancários do Pará, Gilmar Santos, o décimo terceiro é sempre encarado pelo trabalhador como um alívio, mas isso não significa que a situação financeira da maioria fica confortável. “Gostaríamos que o trabalhador pudesse fazer uma compra de algo diferente para a família o que pudesse investir, mas a realidade é outra. A maioria vai mesmo pagar dívida, já está inclusive com o dinheiro comprometido”, afirma.

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