Primeira mulher a presidir ACP quer incentivar que outras tenham cargos de destaque

Embora Elizabete Grunvald queira incentivar outras mulheres, diz não ter pauta feminista, e sim de competência

Elisa Vaz

O órgão mais antigo do empresariado paraense, Associação Comercial do Pará (ACP) completa nesta semana 203 anos. Em meio a este momento marcante de celebração, a entidade acaba de eleger a primeira mulher presidente da casa: a paraense Elizabete Grunvald, economista com grande experiência no empresariado e associativismo, que foi eleita por aclamação no dia 21 de março. No mesmo dia, também foram escolhidos os presidentes do Conselho da Mulher Empresária (CME), Izabela Araújo, e do Conselho de Jovens Empresários (Conjove), João Marcelo Santos. Ambos também foram aclamados em chapa de consenso. O Grupo Liberal entrevistou a nova líder da ACP – confira a entrevista a seguir:

A senhora poderia falar um pouco de sua história profissional?

Elizabete Grunvald: Sou economista por formação, atuei durante mais ou menos 20 anos em uma instituição financeira. Fui muito feliz lá, mas chegou uma hora em que eu virei a chave e decidi que era hora de montar meu próprio negócio. Entrei na Associação Comercial, virei empreendedora. Faz quase 30 anos, e, desde esse momento, comecei a atuar. Me encantei com o empreendedorismo e fui educada do ponto de vista do empreendedorismo pela Associação Comercial. É uma entidade que faz todo o sentido para mim e que mudou a minha vida do ponto de vista empresarial. Quando saí da instituição financeira, montei uma consultoria empresarial e uma empresa de representação de produtos médicos. Hoje, ainda mantenho a consultoria e sou sócia da minha filha em uma clínica de reabilitação integrativa.

Agora, a senhora dá mais um passo na sua carreira. O que muda a partir de hoje?

É um fato superimportante, neste momento, ter assumido a presidência da ACP. Antes da pandemia, eu e meu marido tínhamos pensado em desacelerar um pouco a nossa atividade profissional, porque tínhamos planos de ganhar o mundo, de fazer alguns cursos fora do Brasil, mas a pandemia veio, acabou um pouco com tudo isso. Eu, na verdade, de início, não imaginava assumir a presidência da Associação Comercial, exatamente porque eu estava desacelerando. Mas as coisas, em um determinado momento da vida, vão caminhando e te levam por um outro caminho que não necessariamente é aquele que você escolheu.

Nestes 26 anos como membro da ACP, é a primeira vez que concorre à presidência?

Sim, é a primeira vez. Tivemos a eleição e um mote da eleição é que sou a primeira mulher a assumir a presidência em 203 anos. Isso é um peso a mais. Eu não sou bem essa pessoa que defende muito essa coisa de “primeira mulher”; prefiro acreditar que estou aqui, não porque sou mulher, mas porque eu sou capaz de estar aqui. Claro, é emblemático ser uma mulher a assumir a presidência depois de 203 anos, não posso desconsiderar isso. Então, acaba sendo um peso, porque homens e homens e homens já assumiram, mas, agora, de repente, uma mulher assume, e aí o peso parece que é: “vamos ver se ela vai dar conta disso”.

Qual é o seu principal objetivo na instituição?

A missão maior da Associação Comercial é a defesa dos interesses dos nossos associados e da classe produtiva do Estado. Mas isso envolve o estímulo ao empreendedorismo, e a gente tem uma atividade muito grande de educação, de capacitação e de desenvolvimento. É importante criar um ambiente favorável para o desenvolvimento da atividade produtiva no Estado, e, especialmente, na cidade. Isso envolve a melhoria do centro comercial e envolve discussão de impostos e uma série de condições para que a gente possa facilitar e que o exercício da atividade produtiva seja bem desenvolvida. Essa é a nossa missão, buscar um ambiente em que a atividade produtiva seja adequadamente desenvolvida.

A senhora tem uma pauta mais feminista de tentar incentivar mais empresárias mulheres?

Eu tenho, mas não acho que é uma pauta feminista. Eu entrei pelas portas do Conselho da Mulher Empresária e eu te confesso que, se agora já foi difícil, há quase 30 anos foi bem mais difícil, porque as mulheres eram muito mais predeterminadas a algumas tarefas, que eram ditas mais femininas. De lá para cá, a gente evoluiu muito em todos os níveis. Hoje, acho que as mulheres estão ainda com algumas dificuldades do ponto de vista de igualdade salarial, de igualdade de oportunidade. Mas a questão não é você concorrer ou não concorrer, é você ser considerada para isso. A questão é você ainda hoje discutir se esse ou aquele cargo pode ou não ser exercido por uma mulher. Para mim, isso não é uma discussão válida hoje. Esse ou aquele cargo precisa ser você que vai assumir independentemente do seu sexo, se você tem capacidade para tal. Portanto, é claro que uma primeira mulher assumindo a presidência da Associação Comercial tem um peso. O que eu quero dizer para todas as minhas companheiras hoje da casa é que pode assumir a presidência da Associação Comercial qualquer pessoa, qualquer mulher pode assumir a presidência de qualquer entidade, desde que ela seja capaz, e que tenha condições para isso. Então, tenho uma pauta de competência.

Qual o número de mulheres que fazem parte da ACP?

O número exato ainda não tenho aqui, mas o percentual fica entre 30% e 40% da Associação. Hoje, a gente ainda tem, então, cerca de 70% de homens. O exercício do Conselho da Mulher Empresária é muito importante, porque algumas empresárias que já são empreendedoras demoram a despertar e, de repente, descobrem que podem fazer na sala da casa, se não tiverem condições, colocar uma vendinha e, a partir daí, elas vão crescendo e vão percebendo que podem se tornar empreendedoras. Portanto, a pauta feminina é uma pauta um pouquinho diferente, não menos importante, que o Conselho da Mulher Empresária hoje estimula muito: o empreendedorismo e a capacitação; que as mulheres percebam que não importa o tamanho, elas podem se capacitar.

A ACP completa agora 203 anos. Como a senhora acha que a Associação tem se fortalecido com o passar do tempo?

A Associação Comercial tem sido muito importante. Como eu disse: a história dela se funde à história do Pará. Já tivemos eventos extremamente importantes ao longo da nossa história e, diferentemente das outras entidades de classe, especialmente a Federação da Indústria, do Comércio, da Agricultura, somos uma entidade multissetorial. Abrigamos nos nossos quadros pessoas de comércio, indústria, serviços, mas o nosso foco maior é efetivamente o empreendedorismo, apoiar todas as iniciativas que melhorem a condição da atividade, seja ela em qualquer nível. A ACP, ao longo da sua vida, tem protagonizado como testemunha ou ator principal de uma série de mudanças que aconteceram para o empresariado. Nossa maneira de desenvolver o empresariado é trabalhar o desenvolvimento sustentável da atividade produtiva.

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