Pneus podem ficar até 25% mais caros. Entenda o porquê.
Governo federal cogita aumentar a alíquota de importação de 16% para 35%
O impasse sobre a proposta de aumentar a alíquota de importação de pneus de 16% para 35% gera incertezas no setor. A Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP) defende o aumento contra a "concorrência desleal" dos pneus asiáticos, enquanto a Associação Brasileira dos Importadores e Distribuidores de Pneus (ABIDIP) alerta sobre o impacto no preço. A proposta aguarda votação na Câmara de Comércio Exterior (Camex).
A ANIP afirma que os pneus importados estão abaixo do custo de produção no Brasil, prejudicando a indústria nacional. Em posicionamento divulgado em junho deste ano, Klaus Curt Müller, presidente da ANIP, defendeu que “a concorrência desleal ameaça empregos, investimentos e desorganiza a cadeia produtiva, impactando também produtores de borracha, têxteis, produtos químicos e aço”.
De acordo com dados apresentados pela ANIP, as vendas de pneus nacionais diminuíram 18% entre 2017 e 2023, enquanto as importações cresceram 117% no mesmo período. Além disso, Klaus Curt Müller pontou que a entrada indiscriminada de pneus importados já está impactando o setor, com 2,5 mil trabalhadores enfrentando suspensão ou redução de jornada.
Na ponta do varejo, os lojistas de pneus de fabricação nacional atestam a redução nas vendas. Fábio Pontes, supervisor nacional de compras e varejo de uma loja de revenda em Belém da Bridgestone e Firestone, diz que “desde o segundo semestre do ano passado, as vendas reduziram em pelo menos 20%”. Segundo ele, o motivo é justamente “a concorrência com os importados”.
ABIDIP estima aumento de preços de 16% a 25% para consumidor
Por outro lado, a ABIDIP critica a proposta da ANIP, alertando que o aumento da alíquota de importação elevará os preços dos pneus. Ricardo Alípio da Costa, presidente da ABIDIP, estima que a medida pode resultar em aumento para o consumidor final, que deve girar em torno de 16% para pneus de passeio e 25% para pneus de caminhão, além de impactar o custo do transporte rodoviário de cargas no Brasil.
Além disso, argumenta-se que o aumento da tarifa beneficiaria “apenas um pequeno grupo de fabricantes nacionais”, em detrimento de uma ampla rede de importadores e distribuidores. Costa diz que “os defensores do aumento alegam que a concorrência é desleal, mas, uma análise mais profunda mostra que isso se traduz em um confronto entre as indústrias modernas e eficientes, e um setor nacional antiquado e sucateado”.
“Aumento resultará em queda nas vendas”, diz lojista
Belmiro Vianez, diretor comercial de uma rede de 12 lojas de pneus no Norte, sendo três no Pará, vê o debate com preocupação e acredita que o aumento resultará em queda nas vendas. Ele destaca que no Pará a maior parte das vendas é de pneus nacionais, enquanto no Amazonas, por ser "zona franca", predominam os importados. Segundo ele, a diferença de preço é de 10% a 15% para pneus de passeio e de 10% a 12% para pneus de carga.
“Essa diferença já foi mais robusta, mas com o passar do tempo, outras correções foram adotadas e esse valor também se elevou”, diz Vianez, informando que, atualmente, o preço de balcão da sua empresa para pneus de passeio aro 14 parte de R$ 299 para os importados e de R$ 349 para os nacionais. No caso de pneus de carga aro 22,5, o valor dos importados parte de R$ 1.889 enquanto que os nacionais de R$ 1.999.
“Estamos bem preocupados com o que vai acontecer. Qualquer aumento vai impactar fortemente o consumidor final. A indústria brasileira tem suas razões, pois a carga tributária é muito elevada. Eles reclamam das cargas tributárias menores para os importados. A questão é que não deveríamos pedir aumento de preço, mas pleitear a redução da carga tributária. Esse é o ponto de conflito”, opina Belmiro.
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