Paraenses relembram implantação do Plano Real: ‘comprava um quilo de arroz por menos de R$ 1'

Projeto de estabilização econômica teve o objetivo de acabar com a hiperinflação da época

Emilly Melo
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Há 30 anos, os brasileiros experimentaram uma nova moeda que tinha o objetivo de estabilizar a economia do país, que sofria com uma hiperinflação desde a década de 1980. Comerciante há 47 anos no Ver-O-Peso, em Belém, Orioswaldo Santos, de 67 anos, conta que os preços da época eram inconstantes, tanto para os clientes quanto para quem tinha algum negócio.

O dono de uma barraca de alimentos relembra que, antes da implantação do Plano Real, para conseguir ter algum lucro, precisava montar alguns estoques de produtos quando os preços caíam. “Em um dia, você comprava uma lata de óleo por R$ 5, no outro dia já estava R$ 6, depois R$ 7. Então, a pessoa comprava de muito para poder ganhar, sabendo que todo dia aquilo aumentava, até que foi ficando absurdo”, afirma Santos.

“Vendia mais porque vendia além do que a pessoa precisava. Ela não levava um quilo de charque, já levava cinco, porque sabia que no outro dia ia estar mais caro. Então estocava para poder ganhar dinheiro”, completa o comerciante.

A empresária Odileide Alcântara, de 54 anos, aponta que, no início da implantação do real, houve uma certa explosão de consumo. “O bom do real era a facilidade, a gente achava que R$ 0,10, R$ 0,30, valia muito. Eu conseguia comprar um quilo de arroz, um quilo de açúcar, tudo com menos de R$ 1”, detalha a paraense.

Hiperinflação é um termo adotado por especialistas para indicar o crescimento acelerado da inflação de um país. Economistas usam essa classificação quando a taxa inflacionária mensal excede 50%. No período mais crítico, o Brasil chegou a registrar inflação de 82% ao mês, em março de 1990, segundo o IBGE.

Transição de moeda

O real entrou em circulação no Brasil no dia 1° de julho de 1994 durante o governo de Itamar Franco, que assumiu a presidência após o impeachment de Fernando Collor por denúncias de corrupção. A nova moeda, que ficou no lugar do cruzado, fez parte de um conjunto de medidas econômicas para conter o processo de escalada extrema dos preços.

“Os problemas da inflação tornaram-se uma questão prioritária do Brasil. Após a virada do regime militar para a democracia, a inflação estava bem acentuada devido ao modelo econômico implantado nesse regime anterior”, explica o doutor e professor de economia da Universidade Federal do Pará, Wallace Pereira.

À frente do primeiro governo civil após o regime militar, a gestão de José Sarney desenvolveu, pelo menos, três planos de estabilização econômica, dos cinco que foram implantados no país para tentar controlar os índices inflacionários antes do real. O primeiro deles foi o Plano Cruzado (1986), seguido dos Planos Bresser (1987), Verão (1989), Collor I (1990) e Collor II (1991).

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De acordo com Wallace Pereira, os planos anteriores tinham como meta diminuir os gastos públicos, aumentar as taxas de juros e promover um congelamento de preços. “O ambiente social da época era de escalada inflacionária. Isso inviabilizava os investimentos de empresários no país. A população não conseguia poupar e o ambiente doméstico era muito ruim. Além de que os empresários aumentavam os seus preços durante o período de congelamento”, destaca o especialista.

O economista ressalta também que os anos de 1980 e 1990 foram difíceis para vários países. Naquela época, a guerra entre o Irã e o Iraque provocou um aumento nos barris de petróleo, o que elevou os custos de produção e do produto para todo o mundo. Além disso, a dívida externa brasileira também disparou.

Para uma implantação de sucesso, o Plano Real incluiu três fases: reformas fiscais, criação da Unidade Real de Valor (URV), como índice para estabilizar preços, e a implantação de uma nova moeda em circulação.

“O real se aproveitou do fluxo internacional de capitais para fazer a equiparação com o dólar. O Brasil estabeleceu um câmbio fixo e promoveu a abertura comercial, com isso o país estaria travando o empresário local de aumentar o preço”, detalha o professor.

Embora, nos dias atuais, o acesso a alguns itens não seja completamente acessível, especialmente para as populações mais pobres, Wallace Pereira avalia que há poucas chances do Brasil sofrer com a hiperinflação, como ocorreu no passado.

“Hoje a inflação está mais controlada. O real tem confiança da população. A política monetária tem que ter credibilidade e a moeda tem que ser confiável. As variações de hoje decorrem de fatores conjunturais. Aquele comportamento do passado não vai existir porque o Banco Central tem instrumentos que conseguem mitigar e controlar a inflação e reduzir a taxa de crescimento da inflação”, finaliza o professor.

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