‘Perigo em não contarmos nossa história', alerta diretor da Fapespa sobre açaí fora do Pará

Apesar da liderança paraense, estados de outras regiões começam a despontar na produção de açaí

Emilly Melo
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Símbolo da culinária paraense, o açaí se destacou mundialmente devido às propriedades nutricionais e versatilidade, tanto alimentar quanto econômica. Apesar do Pará ainda concentrar 90,4% da produção do fruto cultivado no país, segundo dados da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisa (Fapespa), o diretor de um estudo sobre a cadeia do açaí, Márcio Ponte, alerta para a necessidade de adoção de estratégias que estimulem e mantenham a liderança produtiva do Estado, para que não ocorra com o que aconteceu com a borracha amazônica no século XIX.

Ponte destaca, inicialmente, a importância de uma indicação geográfica do açaí. “É importante você saber de que lugar está vindo o fruto. Um dia desses vimos a castanha-do-pará ser chamada de castanha do Brasil”. Segundo ele, o látex é um dos casos mais emblemáticos de biopirataria - extração de plantas medicinais sem permissão ou o patenteamento de produtos derivados sem compensar as comunidades que o desenvolveram - para a região Norte. A partir de 1876, os ingleses começaram a cultivar seringueiras em suas colônias na Ásia, como Malásia e Indonésia, o que levou a uma competição intensa e ao declínio da produção na Amazônia.

“O principal perigo é esse, de a gente não organizar a nossa produção e não contar a nossa história. Eu posso até levar uma semente de açaí para produzir em outro lugar. Veio uma notícia de que o Ceará teria um açaí mais gostoso que o nosso, mas só agora que eles estão engatinhando no processo de produção”, acrescenta o diretor.

Ricardo Polen, doutorando em geografia e pesquisador sobre a produção de açaí no Estado, afirma que alguns estados do Nordeste e Centro-oeste já estão investindo para expandir a produção de açaí.

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“Temos, hoje, a Bahia despontando e incentivando pequenos e médios produtores, inclusive na indústria, só com o açaí que eles chamam de Jussara. Mas, já existe o plantio do açaí paraense também. A Embrapa [unidade Amazônia Oriental] lançou uma nova variedade chamada BRS Pai d'Égua e fizeram uma venda de milhares de mudas. A Embrapa do centro-oeste comprou para plantar lá para região de Brasília. Outros estados e regiões estão plantando bastante açaí, então eu não posso te afirmar que vai faltar açaí para o paraense, mas a concorrência de fora vai ser muito grande”, reflete o pesquisador.

Dados do setor

De acordo com a nota técnica desenvolvida pela Fapespa, a produção de açaí no Brasil saltou de 145,8 mil toneladas para 1,9 milhão. A virada de chave no setor ocorreu em 2015, quando a produção na lavoura permanente atingiu a marca de 1 milhão de toneladas, se mantendo estável nos anos subsequentes.

Encabeçando a lista das maiores produções de açaí no Brasil, entre 2021 e 2022, está o Pará, com 1,7 milhão de toneladas; seguido do Amazonas, com 128,5 toneladas; Maranhão, com 20,3 toneladas; e Bahia, com 4,6 toneladas.

No cultivo do açaí por município, em 2022, a produção se concentrou em 10 municípios brasileiros, sendo 9 deles no Pará, liderados por Igarapé-Miri, seguido de Cametá, Abaetetuba, Limoeiro do Ajuru, Bagre, Codajás (único da lista que não é paraense, situado no Amazonas), Mocajuba, Anajás, Bujaru e Barcarena.

Em relação aos produtos exportados derivados do açaí paraense, houve um salto de comercialização de U$ 1, em 1999, para quase U$ 45 milhões, em 2023.

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