Ovos ficam mais caros na Grande Belém, mas não falta abastecimento
Um fator que impacta nos preços desse alimento, segundo especialista, é o alto custo dos insumos na avicultura
A crise no mercado dos ovos, com falta de abastecimento por conta de uma gripe aviária, tem impactado diversos países do mundo, inclusive o Brasil. No Estado do Pará, no entanto, não é possível observar o mesmo cenário. Ainda que o preço dos ovos tenha subido de forma disparada na Grande Belém, assim como outros alimentos da cesta básica dos paraenses, não falta o produto nas feiras e nos supermercados, e os clientes também não deixam de comprar.
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Em uma feira da capital, localizada no bairro do Marco, a funcionária de um mercado, Tereza Freitas, de 61 anos, explica que a gripe aviária e a consequente crise na comercialização de ovos não afetaram suas vendas, mas, de uns tempos para cá, os preços subiram. Um levantamento do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que, de janeiro do ano passado a janeiro deste ano, as altas chegaram a 18% no custo do alimento na Grande Belém. “A farinha aumentou, a carne aumentou, o que foi que não teve aumento?”, questiona a vendedora.
O motivo para as altas, segundo ela, é que, em dezembro e janeiro, a quantidade de ovos no mercado diminui. “Eles tiram o abate, a galinha não pode ser maltratada, colocar muito ovo, porque o jumbo tem ciclo. Não estamos com crise, não está faltando ovo no mercado, só está aumentando o preço. Começou agora em janeiro. Antes era uma alta de R$ 2 ou R$ 3, agora é de R$ 10 a cada caixa”, comenta.
Os ovos jumbo, citados por Tereza, estão acima dos tipo extra e são produzidos por aves mais maduras. Uma caixa com 30 unidades de ovos grandes custa R$ 22; do médio, cerca de R$ 19. Antes, a vendedora afirma que essa última caixa tinha o valor de R$ 14 ou R$ 15. Mesmo com os reajustes, os consumidores continuam comprando - havia, inclusive, uma fila em frente ao estabelecimento. “Eles compram assim mesmo, porque precisam. Vai ficar caro quando for R$ 1 o ovo, aí sim, acho caro”.
Consumo
Aposentado, Álvaro Jardim, de 73 anos, só compra ovos no mesmo local e, portanto, não conhece os preços mais gerais do mercado. Segundo ele, houve uma alta no estabelecimento que costuma frequentar e, embora seja “anormal”, o consumidor já se acostumou. “É anormal, mas temos que nos acostumar. Não posso deixar de comprar”, afirma. Em sua casa, são cerca de três a quatro ovos por dia, para duas pessoas. “Sempre tem aqui, nunca faltou, só aumentou um pouco o preço”.
Já o comprador Fernando Valente, de 62 anos, que não citou sua ocupação profissional, disse que tem sentido altas, mas não muito grandes. “A diferença é pouca, pelo menos na região que eu ando, na 25. São alguns reais. Estava R$ 17, subiu para R$ 18, R$ 19, R$ 20, agora caiu para R$ 19 de novo. Que eu tenha notado, nunca faltou o produto no mercado, sempre que procurei encontrei”, diz. Apesar dos reajustes de preços, o orçamento de Fernando não foi impactado e ele não deixou de comprar ovos. “Não abro mão porque é um complemento, é um alimento completo e nutritivo, não pode faltar”, declara o consumidor.
Crise
As altas que têm sido observadas no mercado nada têm a ver com a crise aviária, mas, sim, com o reajuste nos preços dos insumos para produção dos ovos, segundo o zootecnista Guilherme Minssen, que é diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa). “A produção de ovos vive uma crise, principalmente por causa do custo dos insumos, como a parte energética e proteica. Para se produzir ovos, é preciso, claro, uma boa e balanceada nutrição. E subiu muito esse preço nos últimos tempos”, relata.
Ele discorda que os ovos estejam caros. Embora tenham ocorrido reajustes, como a própria pesquisa do Dieese aponta, além de vendedores e consumidores ouvidos pela reportagem, cada unidade rende muito pouco aos produtores, de acordo com Guilherme. “Eu compro, em Santa Isabel, uma caixa com 350 ovos e, arredondando, sai a 51 centavos cada um. Isso ele já colheu dentro na granja, transportou e colocou ali. O produtor, dono da granja, deve receber 35 centavos por unidade, e os custos subiram uma barbaridade. Isso vale para todos os insumos da avicultura. A gente esquece desses custos e confunde falta de poder aquisitivo com alta de preços. A sociedade está apertada, mas por outros motivos”, opina o diretor.
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O zootecnista ainda diz que faz pouco tempo que a avicultura paraense se desenvolveu para alimentar grandes centros, como Belém e Paragominas, porque as aves são mais produzidas em clima frio, a exemplo de Santa Catarina, que tem a maior produção. Mas, para Guilherme, o mercado paraense tem tido uma evolução, e a prova é que, durante o período mais crítico da pandemia da covid-19, não faltaram ovos nem frangos nos supermercados de Belém.
Para este ano, o diretor da Faepa espera alta na inflação e consequente impacto em alguns setores do agronegócio. Mas, um dos fatores que podem favorecer o Pará quanto à avicultura é a produção de grãos no Estado - soja e milho. “Isso é hoje um dos principais motivos para nós estarmos otimistas em relação à produção de ovos e de frango. O agronegócio de grãos, tanto soja como milho, é responsável por ainda segurar um preço bastante razoável, se você pensar no comércio mundial”.
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