Norte continua atrasado no acesso à banda larga fixa

Apenas 55% dos domicílios têm acesso a esse tipo de conexão; 5G quer mudar panorama

Elisa Vaz / Da Redação
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Mais de 12 milhões de domicílios do Brasil não têm acesso à internet, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes ao ano de 2019, última pesquisa disponível. Somente no Pará, eram 687 mil domicílios nessa situação. Embora seja um serviço quase essencial no dia a dia, ele ainda não é democratizado e muitas pessoas estão excluídas do mundo digital. Com as recentes discussões sobre a implantação da conexão 5G no Brasil, é preciso pensar em soluções para que toda a população tenha acesso garantido à internet.

Entre as regiões do país, a mais atrasada no uso da banda larga fixa é o Norte, com acesso de 55% dos domicílios, bem abaixo das demais, cujos resultados variaram de 77,3% a 81,4%. O engenheiro de computação e doutor em engenharia elétrica, com ênfase em telecomunicações, pela Universidade Federal do Pará (UFPA), professor Leonardo Lira Ramalho, explica que, na região Norte, há três fatores que ajudam a explicar o baixo percentual de domicílios com banda larga fixa: menor poder aquisitivo da população em relação ao restante do Brasil; falta de investimento privado na região; e grandes áreas com baixa densidade populacional.

De acordo com ele, que é também diretor da Faculdade de Engenharia da Computação e Telecomunicações da UFPA, a banda larga fixa cabeada exige que uma infraestrutura física seja montada para ser compartilhada entre vários usuários de uma região e outra para que chegue até a casa do cliente. Este investimento é pago ao longo dos anos, à medida que as pessoas contratam e assinam o serviço. Então, se a empresa acredita que não haverá um retorno compatível com o investimento devido ao baixo poder aquisitivo de alguma região, a fornecedora do serviço pode optar por não criar a infraestrutura naquele local.

“O baixo poder aquisitivo pode afastar o investimento de empresas que buscam lucro e também impede que algumas famílias possam contratar o serviço em uma região onde a banda larga fixa esteja disponível. A vasta área da região Norte pode também impactar na criação da infraestrutura necessária entre o backbone de internet e a casa do potencial cliente. Mesmo próximo das grandes cidades, a topografia da região Norte pode impactar negativamente na distribuição de banda larga fixa. Por exemplo, ribeirinhos que moram na beira do rio, mesmo estando geograficamente próximos de Belém, podem ter dificuldades em encontrar um prestador de serviço em sua localidade, por estarem em locais de difícil acesso. O mesmo pode ocorrer nos interiores da região Norte, onde há vilarejos que estão bem distantes de pontos de acesso à internet, o que inviabiliza a criação da infraestrutura”, avalia o especialista.

Banda larga

Quanto ao uso da banda larga móvel, a região Norte desponta com o maior percentual (88,6%) – menor foi o do Nordeste (63,8%), a única região em que o percentual de domicílios com banda larga móvel foi menor que o da banda larga fixa. No Norte, a diferença entre o percentual de domicílios em que havia uso da banda larga móvel e o referente à banda larga fixa (33,6 pontos percentuais) foi muito maior que nas demais regiões – variou de 1 a 9,8 pontos.

Para o professor Leonardo Ramalho, o que explica o baixo acesso à banda larga fixa e o alto índice do uso da banda larga móvel é a facilidade do fornecimento desta última. Nos grandes centros, segundo o engenheiro, a banda larga móvel é geralmente fornecida por operadoras de telefonia celular, onde há planos que permitem que o usuário tenha acesso com um custo menor do que a banda larga fixa. Por parte da empresa, uma grande diferença entre as duas é que a infraestrutura criada na banda larga móvel não precisa ser levada fisicamente até a casa do usuário. Por exemplo, com uma antena de telefonia celular, é possível que o sinal emitido por aquela antena alcance vários quarteirões, então todos no raio de cobertura estarão aptos a contratar o serviço de banda larga móvel. Por outro lado, na banda larga fixa, a empresa necessita instalar uma infraestrutura cabeada na região antes de levar o cabeamento para a casa do cliente e fornecer o serviço de internet. Portanto, ele diz que é de se esperar que a pessoa que não tem acesso à banda larga fixa procure outros meios de conexão.

Fibra ótica

Em se tratando da banda larga fixa, as redes de acesso mais comuns destacadas por Leonardo são baseadas em fibra, que tem transporte da informação por luz; em cabo coaxial, com transporte da informação por sinais elétricos; Digital Subscriber Line (DSL), que transporta a informação por sinais elétricos, usando a infraestrutura cabeada de telefone residencial; rádio ponto a ponto, que é um enlace de rádio dedicado entre a casa do usuário e um centro de distribuição; e satélite. Já a banda larga móvel utiliza a mesma infraestrutura de rede das operadoras de telefonia celular. Dentro dessa tecnologia, há as redes 2G, 3G, 4G e as futuras redes 5G.

Esta última ainda está em fase de implantação no Brasil. O professor explica que as empresas precisam pagar para utilizar certas faixas de frequência para transmitir o sinal. Nesse sentido, no início do mês, foi realizado o leilão do 5G, em que as empresas pagaram pelo direito de operar em certas faixas de frequência para disponibilizar as redes 5G. Além disso, a implementação desta conexão depende da compra de novos equipamentos e atualização dos sistemas de telecomunicações. O leilão da Anatel estabeleceu prazos para que o serviço de 5G fosse oferecido – por exemplo, para as capitais, o leilão exige que as operadoras vencedoras forneçam o serviço até o dia 31 de julho de 2022.

Falta rede

Mesmo sem o 5G em funcionamento, há muitas outras redes disponíveis no país que ainda não chegam a toda a população. O professor especialista em telecomunicações Leonardo Ramalho lembra que parte do problema não é tecnológico, e sim socioeconômico. “Para as grandes cidades, como Belém, Santarém e Marabá, o problema é mais uma questão de custo e tempo para fornecer a infraestrutura do que uma questão de falta de opções de tecnologia. Nesses grandes centros, várias regiões da cidade são atendidas, mas algumas outras regiões podem não ser porque, por exemplo, não há infraestrutura fornecida por nenhuma empresa devido à falta de viabilidade econômica”, ressalta.

Além disso, mesmo havendo a infraestrutura, algumas pessoas podem não conseguir pagar pelo serviço de banda larga fixa oferecido no local. Por outro lado, ele pontua que a região Norte possui uma característica peculiar de ter grandes distâncias e locais de difícil acesso. Nesse caso, à medida que a tecnologia avança, pode haver o barateamento dos equipamentos utilizados para prover o sistema de comunicação de banda larga fixa baseado em rádio, ou seja, sem fio.

Em audiência pública na Câmara dos Deputados, na última quinta-feira (17), representantes do governo e da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) afirmaram que até 2029 todos os municípios terão internet móvel de quinta geração, o 5G. Do total, 1.174 municípios com mais de 30 mil habitantes terão pelo menos três prestadoras ofertando o sinal, e 4.396 municípios com menos de 30 mil habitantes terão pelo menos uma prestadora ofertando o 5G.

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