Nômades digitais trabalham enquanto viajam o mundo e Alter do Chão pode ser 'escritório'

Adeptos da prática compartilham experiências e dicas

Eduardo Laviano
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Uma nova categoria de trabalhadores tem aumentado nos últimos anos: os nômades digitais, que só precisam de um computador e de concentração para trabalhar em qualquer lugar do mundo. O novo estilo de vida acabou ganhando força com a pandemia de covid-19, que popularizou o home office, e já soma mais de 35 milhões de adeptos pelo mundo, de acordo com o Relatório Global de Tendências Migratórias 2022. A estimativa é que até 2035 existam cerca de 1 bilhão de nômades digitais.

Os principais profissionais adeptos da prática são escritores, jornalistas, programadores, publicitários e diretores-executivos. Atualmente, 23 países possuem vistos específicos para os nômades digitais. Entre eles, Brasil, Islândia, Tailândia, Emirados Árabes, Costa Rica, Grécia e Argentina.

Sonho antigo vira realidade

A jornalista Gisele Rodrigues sempre sonhou em viajar pelo mundo, um desejo que aflorou ainda mais em 2015, quando ela fez um intercâmbio de um mês. Em 2017, ela pediu demissão da TV onde trabalhava, mas ainda não pensava em ser uma nômade digital. Ela embarcou para Barcelona, na Espanha, para fazer um mestrado e trabalhar. "Eu queria ter a experiência do nomadismo e não sabia como começar. Foi quando, na pandemia, eu acabei voltando para o Brasil e aí fiquei presa. Não pude voltar para casa. Daí, percebi que não tinha necessidade de ter uma casa, pois tudo que eu precisava estava na minha mochila", conta.

image Gisele Rodrigues afirma ter percebido que não precisava de uma casa fixa (Arquivo pessoal/ Gisele Rodrigues)

Rodrigues começou a jornada como nômade digital na Bahia, onde morou por quatro meses. Ela trabalhava on-line, fazia serviços como freelancer na área de jornalismo e ainda fazia trabalho voluntário, para não pagar hospedagem. E repetiu a fórmula em Tocantins, Rio de Janeiro e São Paulo. Hoje, na Romênia, ela conseguiu uma bolsa de estudos e trabalho viajando por diversos países da Europa. Ela acredita que se trata de uma vida muito aventureira e que não é para todos. "É um estilo de vida para quem realmente gosta da instabilidade, conhecer novas culturas, fazer amizades e de saber ser sua própria companhia. A maior parte do tempo você vai estar sozinho. Você faz amizades todos os dias, e, ainda assim, é uma vida solitária. Trabalhar online é um desafio muito grande e, quando ele te dá liberdade geográfica, você acaba se afastando da família e dos amigos. As pessoas, às vezes, acham que é fácil. Mas quem gosta de muito conforto não vai conseguir se acostumar", afirma, que agora é professora universitária de jornalismo de viagens, com aulas virtuais.

Veja as dicas para ser nômades

Gisele elenca algumas dicas importantes para quem pensa em ser nômade digital: a primeira é aprender a ter uma vida mais minimalista. Ela conta que a mochila que carrega nas costas é a casa dela. Outra dica é a pessoa testar antes se sai bem com o trabalho virtual, longe de escritórios. Já as primeiras experiências de trabalhar viajando podem ser feitas dentro do próprio estado, em cidades do interior, ou em outros estados brasileiros. O objetivo é não ficar tão longe da própria zona de conforto. "Uma coisa que ajuda muito a economizar é o couchsurfing, pois posso me hospedar na casa de alguém e trabalhar em um café ou em um coworking, por exemplo. Há diversos sites que estimam os custos de vida específicos de cada cidade. Isso ajuda muito também. Acredito que a parte mais difícil é planejamento de tempo. Às vezes a gente está em um lugar com tanta opção de turismo e atividade para fazer que a gente se perde. E você tem que saber que vai viver uma vida solitária e que a despedida é algo que você vai conviver diariamente. Hoje tenho amigos da estrada, mas poucos levei pra vida. Isso dói. É bom estar ciente disso", aconselha.

Alter do Chão como escritório

O fisioterapeuta Saulo Rodrigues trabalhou na linha de frente do combate a pandemia de covid-19, em uma Unidade de Terapia Intensiva, e acabou concluindo que a vida era curta demais e que merecia ser mais bem aproveitada. "Foi o pior momento da minha vida. Muita coisa ruim, muita morte, muita impotência nossa, enquanto profissional da saúde, diante daquele cenário. Então comecei a reestruturar minha vida para viajar, uma coisa que eu amo mais do que qualquer outra coisa", conta ele, que hoje é agente de viagens, com clientes em vários lugares.

image Saulo Rodriges conta que reestruturou a vida para poder viajar (Arquivo pessoal / Saulo Rodrigues)

Para ele, trabalhar de onde quiser e a hora que quiser é uma vantagem impagável. Já a principal desvantagem, paradoxalmente, é estar viajando e trabalhando. "Nem sempre você consegue aproveitar tudo. Às vezes, você está em um destino maravilhoso, quer ir para praia, mas está com a cabeça no trabalho. Tem que bater meta, ganhar dinheiro para continuar viajando. Você tem que se virar. Eu vim para Alter do Chão e tive que dar meu jeito para não ser uma viagem muito cara. Tem que saber separar das viagens de turismo comuns. Tem que estabelecer limites para conciliar o lazer e o trabalho", afirma ele, que planeja fazer um mochilão pela América do Sul.

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