Neste Dia da Mulher, 45% das famílias da região Norte são chefiadas por mulheres, afirma Dieese
Do total de 5,5 milhões de domicílios, as mulheres nortistas chefiam 2,5 milhões
O Dia Internacional da Mulher, que transcorre neste 8 de março, não é apenas dia de homenagear as trabalhadoras do mundo, mas também de comunicar as desigualdades enfrentadas por quem ainda precisa enfrentar jornadas de trabalho desgastantes diariamente. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos no Pará (Dieese-PA), com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 45% das famílias da região Norte são chefiadas por mulheres, o que significa que 2,5 milhões de lares são administrados por mães que, na maioria das vezes, exercem pelo menos três jornadas de trabalho e frequentemente sofrem com o risco da violência doméstica.
No Pará, também segundo o Dieese, do total de aproximadamente 2,5 milhões de domicílios, cerca de 1,1 milhão são chefiados por mulheres. “Ao longo dos anos, o Dieese-PA tem acompanhado estudos da luta da mulher por melhores condições de vida. Dentre estes estudos, um dos principais diz respeito ao mercado de trabalho feminino, que demonstra que as mulheres têm tido mais dificuldade de conseguir emprego”, diz o órgão, em boletim.
O Governo do Pará, por meio da Fundação ParáPaz, afirma que trabalha pela inserção da mulher paraense no mercado de trabalho por meio dos projetos Capacita Mais Pará; Mulher, Arte e Costura: Confeccionando Sonhos, e o projeto Entre Elas. O primeiro “atende o público em geral, oportunizando acesso a cursos profissionalizantes”, explica a assessoria de comunicação da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (SejuDH).
O projeto Mulher, Arte e Costura, por sua vez, foi desenvolvido para capacitar mulheres em vulnerabilidade. E, o projeto Entre Elas, “além de trabalhar com a prevenção e orientação da violência doméstica e familiar às mulheres, promove acesso a diversos serviços públicos através de parcerias, gerando emprego e renda”, completa a Secretaria.
Ainda sobre a temática da violência de gênero, a Coordenadoria de Integração de Políticas para as Mulheres, unidade da SejuDH, tem como papel trabalhar por meio de “campanhas educativas contra a violência de gênero e em atividades de incentivo financeiro, por meio de cursos profissionalizantes, para mulheres em diversas situações. Só em 2021, o projeto Girândola atendeu mulheres em seis municípios paraenses. Em 2022, o objetivo é levar o projeto para mais dez cidades do Estado”, informa a Secretaria.
Em 2021, no Pará, 7.255 mulheres foram vítimas de algum crime de violência de gênero. Um aumento de 30%, em relação ao ano passado, que registrou 5.435 casos, de acordo com a Secretaria de Segurança pública do Estado (Segup).
Monoparentalidade
Para a advogada Daniela Salviano, de 44 anos, mãe solo e chefe de família, vários fatores contribuem para o aumento do número de mulheres chefes de família, a chamada monoparentalidade. “Pode decorrer de divórcio, viuvez, abandono ou por opção. No meu caso, fui mãe aos 31 anos, ainda quando namorava, e o pai da criança não quis assumir seus compromissos familiares. Naquele momento, em 2008, ainda não era advogada e tive que ‘correr atrás de minha OAB’. Estudava somente aos sábados e acordava às 5h da manhã, para uma jornada de oito horas de estudo”, recorda.
Depois de aprovada no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Daniela assumiu os compromissos da maternidade solo e de profissional liberal. “Os homens têm deixado de cumprir o papel de provedor ou responsável pelo lar. Isso deixou de ser uma regra em face dos movimentos feministas, que cumprem uma pauta de independência feminina, que provocou aumento de divórcios e, por conseguinte, aumento de mulheres como chefe de família. Outro motivo que aumenta a quantidade de mulheres como chefe de família é a violência doméstica, isto tem acarretado muitos divórcios e muitas mulheres precisam assumir a dupla jornada”, reflete.
A rotina de mãe solo da advogada exige que ela acorde às 5h da manhã para organizar as tarefas do dia, como preparar o café da manhã, deixar o filho de 13 anos na escola e desempenhar as funções forenses. “Confesso que não é fácil. É um desafio diário, mas sinto-me capacitada por Deus em prosseguir”, afirma.
Para Daniela, o Estado deveria garantir às mães solo cotas em concurso público e para o ingresso em universidades. “Seria um passo para minimizar os impactos sociais de muitas mulheres que sonham em ingressar em estudos universitários e conquistar melhores salários, para educar e viver uma vida com menos desigualdades”, conclui.
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