Na entressafra, litro do açaí já alcança R$ 50 em estabelecimentos de Belém

Vários pontos de vendas já fecharam as portas, enquanto outros elevaram preço do produto

Maycon Marte | Especial para O Liberal
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A entressafra do açaí no Pará tem elevado, semana após semana, o preço do litro em Belém, que pode ser encontrado por até R$ 50. A produção do fruto encontra dificuldade no chamado inverno amazônico. Quanto mais chuva, mais escasso e de qualidade inferior fica o açaí. Em toda a capital, vários pontos de venda deixaram as portas fechadas, pois não conseguem comprar o produto, e quem consegue, abre as portas, mas precisa repassar o reajuste aos consumidores.

“Hoje eu fiquei de portas fechadas, porque eu teria que pagar as diárias de funcionários… eu poderia tirar o dinheiro do fruto, porém não seria viável eu ter que pagar do bolso as diárias, não iria compensar”, desabafa Heron Rocha, proprietário de um ponto de açaí. A oscilação no preço do produto na feira fez com que ele interrompesse as vendas. “Sábado foi o último dia que eu trabalhei e consegui pagar R$ 110 [no açaí para revenda] e agora já está R$ 200. Então, foi um aumento muito brusco”, avalia.

Outros empresários do ramo explicam que a entressafra, período em que a produção reduz, faz parte do mercado. O proprietário Anderson Pires conta que “acabou o açaí das ilhas próximas, ilha das Onças, Marajó, Ponta de Pedras etc”. Para manter as vendas, ele explica que está pagando mais caro pela lata do açaí, agora importando de outros estados. No seu estabelecimento, os preços variam de R$ 30 a R$ 50 de acordo com a textura do açaí.

O empresário também reforça que a razão pela qual a sua loja segue abastecida do fruto se dá devido a sua atuação como revendedor do produto no comércio de Belém. “Trabalho com revenda do fruto no Ver-o-Peso, por isso minhas lojas têm açaí direto, vem barco direto para eu revender, mas a quantidade do açaí não é igual a da safra, é inferior”, observa. Segundo ele, o valor do paneiro de açaí está em R$ 130 reais, contra R$50 durante o período da safra.

A manipuladora de açaí, Railana Silva vende o produto há seis anos na cidade e já percebeu a recepção negativa dos consumidores nesta época. “Eles reclamam porque dói no bolso… mas é essa a questão, não é que nós queremos vender a esse valor, é porque na feira mesmo está saindo caro para revender o produto”, explica. Railana lembra que, para além do valor do fruto, o cálculo é feito com base em outras despesas, como insumos e aluguel do estabelecimento. “Devido a ter aluguel, água, energia, funcionários que ele tem que pagar, neste período a gente trabalha mais para manter os funcionários e também o local”.

Consumidores sentem no bolso

Apesar dos preços elevados, consumidores não deixaram de sair em busca do açaí. O eletricitário Carlos Pereira contou à reportagem que não abre mão de comprar para agradar à família. “Não é por mim mesmo, mas por causa do meu filho; ele gosta muito de açaí, e eu compro para ele. Por mim, não, deixaria melhorar o preço do açaí”, afirma. A situação não o surpreende, “já faz parte da vida do paraense: quando chega nessa época do inverno, a safra diminui e consequentemente o preço aumenta”.

Entressafra

O presidente da Associação dos Vendedores Artesanais de Açaí de Belém (Avabel), Carlos Noronha, explica que a entressafra corresponde ao período do fim da última colheita e à espera da próxima. O presidente destaca que a região do Marajó, principal fornecedor de açaí para a capital, é afetada pelo excesso de chuvas neste período. “A gente fica sendo abastecido mais pela região do Marajó que já está no final de safra. Aí começa a vir de Macapá. Só que nesse período de carnaval, choveu muito para lá, então, não teve a demanda do fruto”.

Segundo o representante, os paneiros de açaí eram comercializados por R$ 110 reais e agora “o pouco açaí que veio do Marajó chegou a dar R$ 200 reais”. Em contrapartida, o paneiro vindo de Macapá alcançou os R$ 130 reais, entretanto, não teria a mesma qualidade. O representante destaca que, desde a segunda-feira (12), os pontos de venda do produto começaram a fechar as portas devido à escassez e lembra que na principal região fornecedora, já estão fazendo a “catação no mato”, momento final da colheita.

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