Mulheres paraenses sonham com carteira assinada
Situação econômica do Brasil levam mais trabalhadoras a quererem abandonar informalidade, mas disparidade de oportunidades e salários em relação aos homens ainda é desafio
A crise econômica no Brasil e a onda de desemprego que abala o país reforçou o desejo pelo trabalho de carteira assinada no Brasil, com todos os direitos previstos nas leis trabalhistas garantidos.
Entre as mulheres, esse sonho pode ser sinônimo de autonomia e liberdade. Fernanda Sousa é modelo e mora no Distrito Industrial em Ananindeua. Além de ajudar a avó Silvia na feira da Pedreira, onde ela vende farinha, Fernanda iniciou uma carreira como modelo, mas ainda é freelancer.
Segundo ela, o objetivo é se inserir no mercado de trabalho de maneira formal o mais breve possível.
"Vai fazer dois meses que fui aprovada na seletiva de uma agência de modelos e estou bem feliz pela oportunidade. Ainda não é aquela coisa 'nossa olha que modelo famosa' mas estou trilhando meu caminho para conquistar meus sonhos. É freelancer mas sonho em um dia trabalhar com carteira assinada, pois sei que é algo que te traz segurança, direitos garantidos. O trabalho ideal, para mim, seria com carteira assinada, já que tenho o sonho de ser advogada", conta ela.
Fernanda se diz muito inspirada por ver tantas mulheres batalhando para ocuparem espaços no mercado de trabalho e nota que isso se trata de um fenômeno crescente, pois há mais consciência sobre o assunto do que antigamente.
"Não é fácil ser mulher. Ainda mais sendo negra, com tanto racismo e crítica. Acho que a gente tem batalhado cada vez mais para garantir a independência da mulher por meio do trabalho. Sou muito agradecida pela época que vivo porque anos atrás esse debate não existia. Me sinto muito inspirada em ver tantas mulheres, mulheres negras, batalhando para ganhar o próprio dinheiro, porque não está fácil", diz.
Betânia Almeida concorda e acho que as mulheres serão cada vez mais independentes, pois não fazem corpo mole para trabalhar. Há 26 anos trabalhando como vendedora no mesmo local, ela conta que nunca trabalhou de carteira assinada.
"Sempre corri atrás de trabalhar para mim mesma. Queria eu mesma gerar minha própria renda. Sei que tem toda a questão dos direitos, mas para ser sincera nunca pensei nisso de INSS, aposentadoria. Nem nunca tive esse desejo. Não parei para avaliar ainda, não me preocupo com isso enquanto. Trabalhar para si mesma também é muito bom, pois tem o direito de se comandar, ter dinheiro todo dia. Mas hoje vejo que as mulheres estão mais bem colocadas no mercado de trabalho, pararam de depender de homens e se valorizam mais. Isso é importante, com ou sem carteira assinada", avalia.
Já Luziane Batista trabalha em uma loja do centro comercial de Belém e recebe a remuneração dela todas as semanas, em acordo oral com a contratante. Para ela, o trabalho é na verdade um "bico", pois desde cedo aprendeu com a mãe que sem carteira assinada o empregado fica desamparado.
"A minha mãe já está há quase 20 anos numa terceirizada de serviços gerais e sempre me diz que carteira assinada é um privilégio. Aqui eu me mantenho para seguir com meu curso de estética e quem sabe um dia conseguir me colocar no mercado, né? Ser contratada mesmo com plano, vale transporte. Porque essas coisas pesam e quem tem carteira tem essas vantagens", diz.
Na opinião da economista Izabel Ferreira, apesar da participação das mulheres estar crescendo no mercado formal de trabalho, ainda há muita disparidade salarial, muito por conta do número reduzido de mulheres em cargos de chefia.
Ela lembra que dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística em 2021 apontaram que a taxa de participação feminina na força de trabalho no período pré-pandemia era de 54,5% no Brasil, enquanto a masculina era de 73,7%.
"Isso não significa que essas mulheres não estejam trabalhando, pois essa discriminação no mercado de trabalho leva muitas ao empreendedorismo, tanto como microempreendedor individual como de maneira informal. A carteira assinada pode ser sinônimo de liberdade, mas também de ganhar menos em um mercado tão machista. Acho interessante esse movimento. Além disso, há o trabalho doméstico não remunerado. Imagina quanto seria o produto interno bruto do Brasil se as mães e donas de casa recebessem salários por seus serviços? Os homens são a maior fatia da força de trabalho ativa porque historicamente não ocupam esses espaços", lamenta.
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