Modelo de negócio iniciado no RS tem efeitos positivos na Amazônia
Além de protagonizar o desenvolvimento social e econômico, o cooperativismo também dá destaque para o meio ambiente
Unir benefício social com desenvolvimento econômico é uma proposta que o cooperativismo, iniciado há mais de um século no Rio Grande do Sul, tem colocado em prática na Amazônia. Os resultados do modelo de negócio são expressivos: no Pará, um dos principais estados do bioma, apenas uma dessas instituições disponibilizou mais de R$ 5,126 bilhões em créditos para apoiar a economia local. O número é referente a janeiro e setembro de 2024 e representa um aumento de 5% em relação ao ano anterior.
No mesmo período, a cooperativa apoiou 202 projetos sociais do estado e destinou mais de R$ 1,5 milhão em recursos para essas ações. No Amazonas, maior unidade da Amazônia em questão territorial, foram mais de R$ 49 mil em repasses. A ideia do programa, que tem viés comunitário e é promovido pelo Sicredi, é facilitar o processo de solicitação de apoio a entidades que trabalham com a temática, otimizar a gestão de concessão financeira e estimular os moradores a fazer a diferença dentro da realidade do local.
David Silva, gerente regional do Sicredi Grandes Rios, braço da instituição que atua no Amazonas, Pará e Mato Grosso, destaca que o cooperativismo na região tem proporcionado, também, o desenvolvimento sustentável. “Ao criar empregos e apoiar negócios locais, as cooperativas oferecem oportunidades de trabalho e renda, estimulando o crescimento econômico. Valorizam ainda a produção amazônica, incentivando produtores a investir em qualidade e diversidade, o que preserva a cultura e os recursos naturais da região", afirma.
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“Ao facilitar o acesso a mercados, as cooperativas ampliam as oportunidades de negócio, garantindo melhores condições de negociação. Além disso, promovem práticas responsáveis de uso dos recursos, contribuindo para a conservação ambiental e a sustentabilidade. Por fim, fortalecem a comunidade ao incentivar a união e o trabalho conjunto, criando soluções para desafios locais e promovendo um desenvolvimento mais inclusivo”, adiciona David.
Desafios
No entanto, as particularidades da região são um desafio para que a abrangência das cooperativas seja total. Feulga Reis, analista de relações institucionais da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), afirma que o modelo está presente, sim, na Amazônia, com experiências significativas para ajudar a reduzir os índices ruins, mas ainda há dificuldades na instalação do negócio. “Em algumas cooperativas, temos que andar mais de 4h de barco para poder chegar”.
“São desafios logísticos que as cooperativas têm enfrentado, com as suas limitações de patrimônio e capacitação de pessoal. Como a gente percebeu, várias partes das sedes estão mais situadas na região Sul e Sudeste [do Brasil] e esse desafio de levar a cooperativa para tão distante da sua sede tem sido feito com muito cuidado. Podemos expandir com a mesma forma que temos no Sul, mas já temos casos muito legais de estados da Amazônia [com projetos que deram certo]”, adiciona Feulga.
Um levantado realizado pela OCB, em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) aponta que o Produto Interno Bruto (PIB) por habitante em municípios com a presença de cooperativas é de mais de R$ 3.852 - o valor representa um diferencial de 10% em relação às cidades sem o modelo de negócios. “Esse princípio de coletividade tem muito a contribuir com a Amazônia, essa construção coletiva traz benefícios sociais e econômicos. É importante que isso seja fortalecido”, destaca a analista.
Efeitos na prática
O cooperativismo na Amazônia foi o responsável por levar energia elétrica para seis mil habitantes de Rio Pardo, em Rondônia. Além disso, os efeitos também são visíveis na forma como os grandes bancos se comportam. De acordo com Tiago Schmidt, presidente da Sicredi Pioneira, localizada em Nova Petrópolis, no Rio Grande do Sul, a presença de cooperativas nas cidades forçam as demais agências a reduzir suas taxas - para conseguirem competitividade. “Os bancos têm que ajustar seus marcos e isso vem acontecendo”.
“As cooperativas têm uma presença muito forte no interior do Brasil, especialmente nas pequenas cidades. Estudos mostram que uma cooperativa, a partir de um município com 2.000 ou 2.500 habitantes, já é viável, ela consegue instalar um ponto de atendimento. Os bancos partem de um corte de 10 mil habitantes para instalar suas agências. Segundo o Banco Central, no último relatório, em setembro do ano passado, as cooperativas custam, em média, 26% a menos do que o sistema financeiro nacional. E isso faz com que haja uma pressão para baixo dos bancos tradicionais na sua precificação também”, finaliza.
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