Mineradoras impulsionam participação feminina na ciência
De acordo com dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no Brasil, as mulheres constituem 43,7% do número de pesquisadores
No Dia Internacional das Meninas e Mulheres na Ciência, mineradoras como a Vale e a Hydro se destacam por promoverem a representatividade feminina, incentivando mais meninas e jovens mulheres a seguirem carreiras científicas. Essa iniciativa busca não apenas aumentar a diversidade, mas também enriquecer a investigação científica com diferentes perspectivas, estimular a inovação e criar ambientes mais inclusivos e equitativos para as próximas gerações.
De acordo com dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no Brasil, as mulheres constituem 43,7% do número de pesquisadores. No Instituto Tecnológico Vale – Desenvolvimento Sustentável (ITV-DS) a diversidade é importante para promover diferentes perspectivas na investigação científica, estimular a inovação e criar ambientes mais inclusivos e equitativos.
Em todo o contingente do Instituto, de acordo com dados do ITV-DS de 2023, elas correspondem a 42% do total. Entre pesquisadoras e bolsistas, são 260 mulheres que se dedicam todos os dias a contribuir com os avanços e soluções para os desafios da sustentabilidade no Pará, na Amazônia e no Brasil. No ITV-DS, elas também são líderes de dez projetos desenvolvidos em diversos temas na área de clima, floresta, biodiversidade e socioeconomia. Entre o quadro de bolsistas pesquisadores do Instituto as mulheres correspondem a 55% do total, segundo os dados da pesquisa de 2023.
O despertar para a atuação na ciência pode começar de diferentes formas. No entanto, referências de mulheres pioneiras da ciência são essenciais para quebrar estereótipos de gênero e inspirar futuras gerações. Pesquisadoras como a física polonesa Marie Curie e a húngara laureada com o Nobel de medicina em 2023, Dra. Katalin Karikó, inspiram e reforçam a mensagem para as meninas e jovens mulheres de que a ciência é um lugar que podem construir seus sonhos.
Para a pesquisadora Rosane Cavalcante, engenheira civil que atua no ITV-DS há 5 anos, o interesse veio ainda na universidade. “No segundo ano de Engenharia Civil tive uma disciplina chamada Hidrologia e, ali, eu decidi que queria me especializar e estudar sobre a água. Fui fazendo iniciação científica, mas acho que foi no mestrado que percebi o que queria fazer para a vida: identificar um problema ambiental, verificar se já há uma resposta, pensar em maneiras para responder as demandas e usar isso para ajudar empresas a serem mais sustentáveis”, explica a pesquisadora.
Já para a engenheira ambiental e pesquisadora do ITV-DS, Sâmia Nunes, que atua com a geração e compartilhamento de dados relevantes para tomadas de decisão sobre a implementação da restauração florestal na Amazônia, a decisão veio depois de uma pesquisa sobre profissões promissoras. “Li em uma matéria, há 25 anos, que Engenharia Florestal seria a profissão do futuro , devido ao possível cenário de mudanças climáticas. Mal se falava em aquecimento global naquela época. O futuro chegou. Estamos lutando contra as emergências climáticas, para restaurar florestas. Por isso ainda vejo minha área de atuação como uma das que ajudará a Amazônia a superar os desafios ambientais. É a profissão do presente e do futuro, assim como várias outras”, comenta a pesquisadora.
Optar pela carreira científica também fez diferença na vida da cientista social Maria das Graças Bezerra. Atuante na área de Socioeconomia do ITV-DS, a pesquisadora de 68 anos que, aos 17 escolheu a cidade de Belém para morar e se qualificar, decidiu estudar as interações e as especificidades sociais e culturais das comunidades e acompanhou, ao longo de sua trajetória profissional, a evolução da participação feminina na ciência. “Houve uma mudança considerável, especialmente quando se fala em quantidade de mulheres que atuam no ensino e na pesquisa. Vamos lembrar que o ensino pré-universitário, durante muitos anos, foi facultado às mulheres e, ser professora era quase o caminho a ser trilhado por aquelas que desejavam atuar na educação. O caminho da pesquisa foi mais difícil, mas conseguimos. O que se discute fortemente, hoje, são as posições que as mulheres ocupam no cenário brasileiro onde se tomam as decisões. Precisamos deixar o preconceito de lado e dar a mulheres e homens as mesmas chances”, diz a pesquisadora.
Apesar dos avanços ao longo dos anos, o preconceito não é a única adversidade ainda enfrentada pelas mulheres cientistas. Disparidades de gênero e até mesmo a escolha pela maternidade podem influenciar nas carreiras daquelas que escolhem a ciência para viver. Mesmo assim, a bióloga e engenheira ambiental, mestra pelo ITV-DS, Fábia Cavalcante, que atua na Vale há mais de 13 anos contribuindo com ações de conservação ambiental da mineradora em Carajás, soube lidar com as adversidades e conciliar a maternidade com a vida profissional, que começou ainda quando era estagiária na companhia. Mãe da pequena Eduarda, de seis anos de idade, Fábia deixa uma mensagem para as mulheres que também pretendem se dedicar à ciência. “A demanda do mercado de trabalho por profissionais cada vez mais capacitadas é uma forma de as mulheres conseguirem demonstrar a sua competência e a qualidade das entregas. Manter o foco e a dedicação nos seus objetivos e acreditar primeiro em si mesma são atitudes fundamentais, pois como mulher, mãe, profissional da Vale e agora formada no mestrado profissional do ITV-DS, lembro que ainda quando aluna, precisei conciliar toda a rotina de trabalho e os cuidados com a filha, com a casa, e só desta forma consegui superar os desafios. Não é fácil, mas precisamos acreditar em nós mesmas”, ressalta.
Pesquisadoras unem os mundos profissional e acadêmico e tornam-se referências para mulheres e meninas
Quando era mais nova, Thaísa entrou na fase do “porquê” pois, como a maioria das crianças, ela estava curiosa sobre o mundo ao seu redor. As respostas dos seus pais costumavam ir na mesma direção: “Isso é assim porque alguém estudou e chegou neste resultado. Isso é fazer ciência.”
Alguns anos depois, em 2021, já como ecóloga e professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), Thaísa Sala Michelan foi reconhecida na categoria Ciências da Vida, do Programa "Para Mulheres na Ciência" (For Women in Science), iniciativa da Unesco, L'Oréal Brasil e Academia Brasileira de Ciências (ABC). A mesma Unesco que também implementou o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado em 11 de fevereiro.
“Quando a gente fala sobre Ecologia, nós temos as interações entre espécies, indivíduos, etc. Algumas dessas interações podem ser prejudiciais e outras são positivas, certo? Então meu conselho para as mulheres é praticar a união e a empatia. Eu tenho muito orgulho de quando uma mulher alcança algo, pois ali tem a força de muitas outras meninas e mulheres. O apoio mútuo torna o trajeto dentro da academia e da ciência menos doloroso”, comenta Thaísa.
Criada para fomentar o papel de mulheres e meninas na ciência, o dia 11 de fevereiro chama atenção para dados que ainda são muito baixos, por exemplo: apenas 28% dos pesquisadores no mundo são mulheres, de acordo com os dados divulgados no último relatório da Unesco. Segundo a agência, essa porcentagem ocorre por diversos fatores: difícil acesso a investimentos; redes de estudos; questão racial; classe e gênero. Felizmente, é possível perceber um aumento geral no Brasil, ainda que discreto. De acordo com um levantamento feito pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), houve aumento de mulheres com mestrado (2%), doutorado (3%) e na docência (5%) em diversas áreas do conhecimento no país, de 2004 a 2020.
“Para meninas e mulheres que querem entrar na ciência, eu sempre digo que não subestime sua capacidade. Submeta propostas independente de edital, da concorrência, acreditem que vocês são capazes. As empresas, entidades, órgãos que fomentam a pesquisa precisam ver que existem mulheres que fazem ciência no Brasil e habilitadas para realizar projetos fantásticos. Assim você vai abrindo caminho para que mais mulheres alcancem posições de destaque e virem referência para outras que estão almejando chegar lá”, comenta Thaísa.
Profissional e acadêmico em harmonia
Mayra Barral, graduada pela UFPA, inclusive entrou no mundo da ciência se inspirando em uma amiga. “Eu observei que, principalmente na área de ciências ambientais, havia profissionais cada vez mais capacitados, com graus altos de graduação e eu precisava correr atrás. Então uma amiga minha concluiu o mestrado dela e me inspirei nesse movimento dela para buscar novas possibilidades”, conta a engenheira ambiental que hoje atua como analista de Meio Ambiente na Hydro Paragominas, possui graduação sanduíche pela University of Ottawa, no Canadá e mestrado também pela UFPA.
A dissertação de mestrado de Mayra foi produzida, inclusive, dentro da própria Hydro Paragominas, unindo experiência profissional e acadêmica no Programa de Pós-graduação em Engenharia de Barragem e Gestão Ambiental da UFPA. “Na minha carreira hoje eu vejo como a experiência profissional contribuiu muito para a acadêmica. Acho que o primeiro passo para uma mulher que está começando, lá na graduação, seja descobrir o que ela realmente gosta e avaliar como uma pesquisa do tema vai trazer resultados aplicáveis para a sociedade, atendendo demandas da indústria, por exemplo, e a solução da academia”, conclui.
Thaísa Michelan, por exemplo, hoje atua no monitoramento de plantas aquáticas na região da Hydro Paragominas, pesquisando sobre o padrão de ocorrência delas no ambiente. O projeto faz parte do Consórcio de Pesquisa em Biodiversidade Brasil- Noruega (BRC na sigla em inglês), que é formado pela Hydro, Universidade de Oslo, da Noruega, Museu Paraense Emílio Goeldi, UFPA e Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). “Nossa participação em projetos precisa desse incentivo, então eu sempre destaco a importância das empresas no fomento à pesquisa. A Hydro, por meio do BRC, contribuiu para a construção do laboratório, formação de vários alunos e abriu muitas portas para mim como pesquisadora. Esse foi um dos primeiros projetos que fui aprovada como coordenadora. Para a comunidade científica ela é extremamente importante para incentivar novas pesquisadoras”, explica.
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