Mais de R$ 500 milhões já foram investidos na construção de pontes desde 2019, diz governo do Pará
Obras substituem estruturas antigas e prometem melhorar a mobilidade e logística no estado. Pesquisador da UFPA defende a necessidade de integração com alternativas fluviais.
Desde 2019, foram construídas 115 pontes em diversas regiões do Pará e outras 241 foram erguidas em parceria com prefeituras, afirma o governo do estado. Além dessas, há 91 novas pontes em construção, somando um investimento que ultrapassa os R$ 500 milhões. Segundo a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Seinfra), o objetivo dessas obras é substituir estruturas comprometidas, como pontes de madeira, e garantir maior segurança e eficiência no transporte de pessoas e mercadorias. Na opinião de especialistas, projetos rodoviários, na Amazônia, precisam integrar alternativas modais, como o aproveitamento de hidrovias para o desenvolvimento sustentável da região.
De acordo com a Seinfra, a escolha das pontes a serem reformadas ou construídas segue critérios técnicos e estratégicos, levando em conta o estado da estrutura existente, a complexidade da obra e o impacto na mobilidade local. O governo afirma que a troca de pontes antigas por modelos de concreto armado traz benefícios como maior resistência, redução de custos de manutenção e mais segurança para motoristas e pedestres.
Segundo a Seinfra, um dos desafios da execução desses projetos são as condições geográficas e climáticas do estado. Terrenos instáveis, áreas alagadas e períodos de chuvas intensas dificultam a construção e exigem planejamento técnico detalhado. Para contornar esses desafios, a secretaria afirma que tem investido em tecnologias inovadoras e métodos construtivos avançados.
Além dos ganhos em mobilidade, a Secretaria de Estado de Obras Públicas (Seop) aponta que essas obras têm impacto econômico e social significativo, facilitando o escoamento da produção industrial e agrícola, o transporte de mercadorias e o acesso da população a diferentes regiões do estado. Segundo a secretaria, o turismo também se beneficia, já que algumas dessas pontes melhoram o acesso a praias e outros atrativos naturais.
A expectativa da Seop é de que a substituição de pontes de madeira por modelos de concreto continue avançando nos próximos anos. O governo do estado afirma que seguirá monitorando as estruturas que precisam de modernização e buscando otimizar o transporte em diferentes regiões.
Ponte de Barcarena deve reforçar logística e transporte na região
Entre os projetos de maior destaque, está a Ponte sobre o Rio Itaporanga, em Barcarena, cuja ordem de serviço deve ser assinada às 16h desta segunda-feira (17) pelo governador Helder Barbalho. De acordo com a prefeitura do município, a obra interligará a Vila dos Cabanos à sede de Barcarena, reduzindo distâncias e facilitando o deslocamento da população.
A construção da nova ponte é apontada pela prefeitura do município como uma obra estratégica para a mobilidade local e o desenvolvimento econômico da região. Segundo o prefeito Renato Ogawa, a ponte reduzirá o tempo de deslocamento entre áreas centrais do município e facilitará o acesso a serviços essenciais.
“Essa obra interligará a Vila dos Cabanos à sede de Barcarena, reduzindo distâncias e facilitando o acesso a serviços essenciais. Além disso, impulsionará o comércio local e atrairá novos investimentos, consolidando Barcarena como um polo estratégico no estado do Pará”, afirma.
A ponte também deve impactar a logística do município, que abriga um dos principais portos do estado. Segundo Ogawa, a estrutura será fundamental para o escoamento da produção industrial e agrícola, ajudando a reduzir custos de transporte.
“Como Barcarena é um importante corredor logístico do Pará, essa infraestrutura otimizará o escoamento da produção, beneficiando tanto grandes indústrias quanto pequenos produtores rurais. A interligação eficiente entre a sede do município, a Vila dos Cabanos e o distrito industrial de Vila do Conde contribuirá para dinamizar a economia local”, argumenta.
Além da mobilidade e da economia, a prefeitura destaca que a ponte trará benefícios urbanos. Segundo Ogawa, a obra melhorará a segurança no deslocamento diário da população e contribuirá para a valorização imobiliária das áreas próximas.
“A ponte garantirá mais conforto e segurança no deslocamento diário, além de impulsionar o desenvolvimento urbano e a valorização imobiliária das áreas próximas”, acrescenta.
A prefeitura informou que o projeto prevê um sistema estrutural estaiado, além de ciclovia, calçada e sinalização viária, para garantir a segurança de pedestres e ciclistas. Segundo a administração municipal, a ponte faz parte de um conjunto de investimentos que inclui, além da infraestrutura viária, a construção de um novo hospital em Barcarena.
“A obra da ponte integra um conjunto de investimentos estratégicos para o município, incluindo o novo hospital e outras melhorias na infraestrutura viária e urbana. A gestão municipal segue em articulação com o governo do estado para garantir que Barcarena continue recebendo obras estruturantes que beneficiem diretamente a população”, finaliza.
Planejamento deve integrar alternativas fluviais, defende pesquisador da UFPA
Se por um lado, a construção de pontes é frequentemente associada à integração e ao desenvolvimento econômico, por outro, especialistas ressaltam que a infraestrutura viária precisa ser planejada levando em conta as particularidades da Amazônia. O professor Juliano Ximenes, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPA, afirma que as pontes devem ser pensadas dentro de um sistema de transporte mais amplo, que leve em consideração a interligação entre modais rodoviários e fluviais.
“Quando você fala em ponte, pode falar, claro, na transposição de rios, lagos para poder acessar por terra outras localidades. Isso, sem dúvida, é um benefício, uma integração espacial. Mas, por estarmos na Amazônia, isso inevitavelmente leva a outra discussão”, pontua.
Ele lembra que a Amazônia possui uma vasta rede de rios navegáveis, que há séculos servem como principal meio de deslocamento na região. Segundo o professor, essa característica deveria ser mais aproveitada no planejamento da infraestrutura.
“A região tem uma forma de acesso que já está na paisagem e que deveria ser mais aproveitada. Exige obra, investimento, principalmente para grandes volumes de carga, mas não é a mesma coisa que a estrada. Ou seja, ela é ambientalmente muito menos impactante, exige proporcionalmente menos intervenção e deveria ser uma alternativa para nós.”
Ximenes afirma que a infraestrutura viária deve ser pensada de forma equilibrada, combinando diferentes formas de transporte para reduzir impactos ambientais e otimizar a logística.
“Não se trata de ser contra as alternativas terrestres, como pontes ou estradas. Mas sim de pensar que elas devem ser restritas a exemplos micro-regionais, em vez de serem uma grande forma de conexão”, complementa.
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