Inflação é mais alta para consumidores de baixa renda da região Norte, revela pesquisa
Alta de preços foi influenciada pelo botijão de gás, tarifa elétrica, aluguel e alimentação
Uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que as taxas de inflação são mais acentuadas para os consumidores de menor renda no Brasil, especialmente os da Região Norte. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Regional (IPC-Regional), medido pela FGV, a inflação para os consumidores de menor poder aquisitivo, que ganham até 1,5 salário, ficou em 4,70% no Norte e Nordeste, conforme a taxa acumulada em 12 meses, até março deste ano.
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Ainda no Norte, a inflação para aqueles com renda mais baixa superou a alta de preços para os consumidores com renda mais alta, maior que 11,5 salário, que tiveram inflação de 4,14%.
Os dados analisados foram no período acumulado de janeiro de 2020 a março deste ano. A alta de preços nesse período foi influenciada pelo botijão de gás, tarifa elétrica, aluguel, e, principalmente, alguns itens de alimentação.
A trabalhadora autônoma Antônia Silva, de 53 anos, pontua que os últimos anos foram marcados pela oscilação de preços no mercado, com destaque para os constantes aumentos no segmento de alimentação. “A carne, peixes, ovos, óleo e legumes, como tomate e cebola, ficaram muito mais caros.”
Mudanças de hábitos
Para driblar os aumentos generalizados, Antônia precisou mudar os hábitos de consumo. “Algumas vezes tive que procurar produtos mais em conta e, outras vezes, precisei até parar de comprar certos cortes de carne bovina.
A carne moída, considerada acessível por grande parte da população, também registrou aumentos expressivos no preço. Outros itens como carnes frias e lanches se tornaram menos frequentes no cotidiano dos consumidores de classes mais baixas.
“Até o picadinho, que era tão barato, ficou um absurdo, e está como se fosse, tempos atrás, a carne de primeira. Antes também eu comprava queijo, presunto, pizza, mas, hoje, esses alimentos não fazem mais parte do nosso cardápio”, relata Ana Cláudia Lobão, de 52 anos, revendedora de cosméticos.
Além do setor alimentício, Ana Cláudia também ressalta que os custos com a saúde e energia elétrica subiram expressivamente no último ano.
“Anos atrás, eu pagava plano de saúde para a minha filha, mas agora não tenho mais condições. Até os medicamentos subiram de preço. Antigamente, eu tinha uma farmacinha em casa, com remédios para dor de cabeça e febre, mas já não tenho mais condições de manter isso, porque a prioridade é comprar os alimentos”, desabafa a revendedora.
Ana Cláudia lamenta e diz que as prioridades foram mudando nos últimos anos. Ela conta que antes era comum incluir biscoitos, iogurtes e frios nas compras do mercado, mas, devido aos custos dos produtos precisou readaptar a lista de compras para conseguir arcar com as despesas básicas, como vestuário, água, luz e telefone.
“A luz também aumentou demais, na minha residência moram cinco pessoas e, mesmo não tendo muitos eletrodomésticos, a conta de luz vem cara. Além disso, o vestir e o calçar também aumentou muito”, afirma.
Alta renda
De acordo com a FGV, a inflação de alta renda foi impactada pelos preços do automóvel novo, material para reparos domésticos e licenciamento de IPVA.
Nas demais regiões, os alimentos também aparecem como destaques na faixa de renda mais baixa, assim itens como gás de botijão, energia elétrica e aluguel. Já entre os mais ricos, são itens comuns entre as regiões, itens como automóvel novo, plano de saúde, gasolina, comida fora de casa e IPVA.
(*Emilly Melo, estagiária, sob supervisão de Keila Ferreira, coordenadora do Núcleo de Política)
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