Impacto da guerra entre Israel e Hamas na economia brasileira depende da ação de grandes potências, diz economista
Alguns dos indicadores que podem ser afetados mais drasticamente são o preço do dólar, a inflação e a balança comercial
A economia brasileira pode ser impactada negativamente pelo conflito entre Israel e o grupo militante palestino Hamas, que já deixou quase dois mil mortos desde sábado (7), quando a primeira movimentação terrorista recente ocorreu na Faixa de Gaza. Até agora, apenas o barril de petróleo sofreu alterações mais significativas, porém, caso outras nações entrem nos confrontos apoiando um ou outro lado, o cenário poderá ser de risco à estabilidade do dólar, da inflação e até da balança comercial local.
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Economista e doutor em relações internacionais, Mário Tito Almeida explica que o confronto entre Israel e Hamas representa um perigo para aquela área geopolítica, que enfrenta tensão profunda há muito tempo. Futuramente e a depender do ritmo do conflito, pode haver desequilíbrios, muito mais nas proximidades do Oriente Médio, mas com alguma reverberação no mercado internacional como um todo.
“Eu acredito que, enquanto a coisa ficar restrita ali entre Hamas e Israel, sem a entrada das grandes potências, isso pode não ameaçar o mercado mundial. Por outro lado, podem surgir ameaças se países importantes naquela geopolítica entrarem no conflito, mesmo de maneira indireta. Por exemplo, quando os Estados Unidos deslocam seus porta-aviões para o Mar Mediterrâneo de modo a gerar um ‘hard power’ sobre o Hamas, isso significa uma ação externa que pode, sim, ensejar um efeito dominó, especialmente no que se refere ao apoio que o Irã dá ao Hamas. São elementos que podem vir a piorar. Nesse momento, ainda não, mas pode acontecer uma escalada dessa violência e, aí sim, afetar em dinâmica maior o comércio internacional”, afirma.
Economia local
No caso do Brasil, um possível impacto, segundo análises de especialistas, seria no valor do dólar frente ao real ou na alta da inflação. Mas, para Tito, embora o dólar possa, de fato, sofrer mudanças, elas não se darão apenas pelo conflito no Oriente Médio, mas também pela aceleração da economia dos Estados Unidos, pela continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia e pelas dificuldades econômicas que a União Europeia está passando.
Como o território brasileiro tem mais parcerias comerciais com os investimentos dos Brics - Rússia, Índia, China e África do Sul -, depende muito menos dos rumores do dólar. “Com os investimentos externos entrando no Brasil, seja de forma direta ou indireta, o país tem uma reserva de dólar muito boa, e o Banco Central pode jogar muito bem para que não deixe o dólar crescer demais. Então, esse tipo de coisa ajuda a entender que o Brasil tem como segurar a perspectiva do dólar e não permitir que isso tenha um rebatimento na inflação no país”, opina.
O Pará, por sua vez, tem relações pouco estreitas com Israel, por exemplo. O economista cita que o volume líquido de importação e exportação entre o Brasil e o país do Oriente Médio representa menos de 0,5% da balança comercial nacional, o que dá a entender que o Estado paraense não sofrerá grandes impactos a partir do conflito. Em outro cenário, caso o Líbano, por exemplo, que é um grande parceiro do Pará e do Brasil, entre no confronto, pode haver consequências negativas para a balança comercial local.
Combustíveis
Na segunda-feira (9), o preço do petróleo disparou e o valor do barril do tipo Brent, referência mundial, havia subido 3,71%, cotado a US$ 87,69. O barril do tipo West Texas Intermediate (WTI), que serve de padrão para o mercado americano, aumentou 3,72%, negociado a US$ 84,30. Em conversa com a reportagem do Grupo Liberal, o advogado do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado do Pará (Sindicombustíveis-PA), Pietro Gasparetto, disse que ainda não é possível fazer previsões, especialmente porque não há conhecimento detalhado sobre o conflito geopolítico.
“Mas, a questão agora é diferente da guerra na Ucrânia, quando houve influência nos estoques e produção. Até onde sabemos, a oscilação agora é especulativa e natural. Além disso, a Petrobras alterou sua política de preços recentemente, de modo a tentar evitar que oscilações pequenas influenciem o preço no Brasil. Entretanto, em um cenário de eventual alteração significativa do preço do petróleo, bem como do dólar, pode haver impacto. Será necessário aguardar”, afirma.
O economista Mário Tito diz que o preço do barril do petróleo é importante para analisar a situação. “Nós estamos falando do Oriente Médio, a zona do globo que tem a maior produção de petróleo, que é a fonte energética mais utilizada no mundo, que move a economia mundial. Então, quando a gente fala do preço do petróleo, a gente fica logo atento para saber se isso não vai ter reverberação no preço dos combustíveis no Brasil. Porém, por mais que o preço do petróleo esteja girando quase a US$ 90 dólares o barril, a gente lembra que houve uma queda nas semanas passadas. Então, a subida agora em torno de 5% a 6% não vai representar ainda um impacto muito grande no preço final”, adianta.
Outro ponto que ele cita, em concordância com Gasparetto, é que nem a Palestina nem Israel são produtores de petróleo, portanto, não há mudança na produção efetiva do petróleo pelo mundo. “Aí, eu volto a dizer, se o Irã entrar no conflito, ou mesmo Líbano e a Síria, lá pelo norte de Israel, isso vai gerar um efeito dominó e, aí sim, nós poderíamos nos preocupar. Então, tudo gira ao redor da escalada e da entrada de novos players, como os estados produtores de petróleo, nessa questão”, diz. Por enquanto, as oscilações estão dentro da normalidade, segundo ele.
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