Guerra trava exportação de fertilizantes e preocupa agronegócio paraense

Belarus tem sido atingido por sanções contra o governo russo. País é responsável por mais de 20% dos fertilizantes usados no Brasil e empresários paraenses já relatam falta

Eduardo Laviano
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O Brasil foi avisado nesta terça-feira (1º) que não conseguirá mais comprar fertilizantes de Belarus, país que é responsável por mais de 20% de todo o produto utilizado pelo agronegócio brasileiro.

O anúncio acende um alerta para o agronegócio paraense, que mantém negócios constantes no ramo de fertilizantes não só de Belarus, mas também com a Rússia e a Ucrânia, ambos envolvidos na guerra iniciada no último dia 24 de fevereiro.

Problema antigo

Segundo Paulo Quartiero, que é produtor de arroz no arquipélago do Marajó, o comunicado na verdade acentua um problema que já vinha se fortalecendo nos últimos meses, com o aumento das tensões no leste europeu, e também nos últimos dois anos, por conta da pandemia de covid-19.

"Essa questão dos fertilizantes já vem de longo tempo. Depois da pandemia quase triplicou o preço, pois os fretes aumentaram. Há uma série de argumentos justificando a alta. Só a ameaça de faltar insumos já deixou a safra passada bem problemática. Os preços estavam se ajustando, mas com a guerra já voltaram a ficar altos, pois quase tudo que utilizamos no Pará é originário de lá", avalia ele.

Impacto doméstico

Quartiero também relata que a preocupação econômica e de produção não pode se restringir apenas à soja e ao milho, commodities dolarizadas que tem despertado a atenção de analistas do mercado. Segundo ele, outras culturas, como a do arroz, enfrentam períodos complicados por conta da explosão de preços dos fertilizantes.

"Isso vai impactar o mercado interno do Brasil e do Pará, já que somos um estado que produz de maneira expressiva diversos grãos. Creio que tudo isso é uma tentativa de manter o preço alto. Pagávamos U$350 em uma toneladas de cloreto de potássio para ser utilizado no Pará. Hoje em dia é U$900", afirma. 

Resposta para a crise

De acordo com Paulo, o momento é de reflexão para a agricultura brasileira. Ele lembra que o mercado de fertilizantes possui um preço uniforme e que o Brasil depende de outros países para manter o ritmo de produção, ou seja, não possui fornecedores nacionais de fertilizantes e defensivos que atendam a demanda em larga escala.

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"A verdade é que está tudo cartelizado. Não podemos ser uma potência agrícola, como é alardeado por aí, sem ter controle nenhum dos insumos. Precisaríamos de uma política que nos desse certa independência para exploração de jazidas de elementos indispensáveis para produção. Não podemos sempre ficar dependendo dos humores de mercados e outros países", conta ele.

O produtor afirma que espera que o governo brasileiro deveria adotar medidas para reduzir as exportações do Brasil enquanto este imbróglio não for resolvido, dando prioridade para o mercado interno.

"Assim você deixaria preocupado quem necessita do nosso alimento. O Brasil atualmente tem uma postura muito subalterna, pequena. Não tem nenhum projeto de substituição de importação de fertilizantes estratégicos. Está na hora de dar uma reavaliada na nossa política, para não prejudicar ainda mais a produção", aconselha. 

Economia globalizada distribui impactos negativos

Guilherme Minssen é zootecnista e diretor técnico da Federação de Agropecuária do Estado do Pará e entende que fica difícil fugir dos impactos da guerra em uma economia globalizada.

Segundo ele qualquer distúrbio atinge todo o mercado, mas ainda está cedo para planilhar todas as consequências econômicas resultantes do conflito liderador pelo presidente russo Vladimir Putin.

"Mas os primeiros problemas que aparecem, claro, são relacionados a insumos. A gente depende muito de insumos desses dois países, incluindo um grande volume de trigo. Também somos fornecedores de carne e soja e tudo precisará ser redesenhado, repensar isso sob uma nova perspectiva, tanto para agora quanto no eventual final da guerra. A preocupação existe em todos os setores, não existe nenhum que não foi afetado. É um impacto muito grande que ainda estamos começando a medir, o que deve causar reações nos preços aqui no Brasil", diz. 

Embaixador de Belarus

O embaixador de Belarus no Brasil, Sergey Lukashevich, disse que o país, aliado de Moscou, já está sendo impactado pelas sanções impostas a Rússia, país parceiro do ponto de vista ideológico e comercial.

Ele afirma que Minsk foi obrigada a suspender as vendas de fertilizantes para o agronegócio brasileiro porque o escoamento foi proibido pela Lituânia, que fechou as fronteiras. Sem esses produtos, a oferta deve diminuir e o preço, subir. Só nos últimos anos, os insumos agrícolas defensivos ficaram 155% mais caros.

“O potássio bielorrusso, que representa 20% do mercado brasileiro, é agora impossível de ser entregue aos consumidores brasileiros, porque a Lituânia 'democrática', nosso vizinho do norte com seus 2,7 milhões de habitantes, proibiu o trânsito de nosso potássio para o Brasil, com seus 214 milhões de habitantes. Esta não é uma maneira elegante de privar o Brasil de fertilizantes para soja, milho e café. Aumenta a fome neste país e diminui a vantagem competitiva dos produtos agrícolas do Brasil nos mercados mundiais”, disse o embaixador.

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