Guerra na Ucrânia também tem impacto direto no preço dos combustíveis no Pará; entenda

Economista explica relação da guerra entre Rússia e Ucrânia no preço do barril de petróleo, usado como matéria-prima para produzir gasolina e diesel

Natália Mello
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O preço dos combustíveis no Pará também deve sofrer aumento se a guerra na Ucrânia, invadida pela Rússia no dia 24 de fevereiro, continuar. O barril do petróleo, principal matéria-prima usada para a produção da gasolina e do diesel, não parava de subir, mesmo antes do início do conflito no continente europeu, mas nos últimos dias ultrapassou os US$ 110 por barril, atingindo um recorde dos últimos oito anos e contribuindo para a preocupação com uma alta ainda maior da inflação.

O último reajuste da Petrobrás ocorreu no dia 12 de janeiro. Porém, esse cenário traz uma tendência de alta no valor do produto, o que irá afetar o bolso do consumidor. E é por isso que o economista Heriberto Pena, atual coordenador do curso de relações internacionais da Universidade do Estado do Pará (Uepa), explica o porquê desse impacto direto na economia do Brasil.

“A Rússia ocupa a 3ª posição na produção mundial do petróleo, atrás dos EUA e Arábia Saudita, e o país está sofrendo restrições econômicas em relação ao sistema internacional de pagamentos e transações. Isso afeta a rede global de fornecimento do petróleo bruto e refinado, o que leva à alteração nas cadeias globais de distribuição e causa a alteração do preço. Tudo isso diminui a oferta global, porque não tem como manter a produção estando em guerra”, explica Heriberto.

O Brasil importa, em média, segundo o economista, 30% do petróleo, porque as refinarias brasileiras não têm a tecnologia necessária para refinar todo o petróleo que produz, o que seria mais um fator para encarecer o valor final dos combustíveis para o consumidor. Um terceiro ponto é a transferência de capital. A Shell, uma das principais distribuidoras de petróleo do mundo, está rompendo com a Rússia, ou seja, o mundo sofrerá com um impacto na distribuição logística da commodity, o que vai gerar um embate na oferta global.

“Por fim, um quatro impacto é o mercado cambial. A guerra muda a logística, que muda o movimento de capitais internacionais. Quando a moeda oferece algum risco de instabilidade política, que no caso do Brasil, o que não falta é instabilidade política, desvaloriza a taxa de câmbio. Ou seja, saindo o dólar, há procura pela moeda estrangeira em maior quantidade do que a doméstica, então sobe a taxa de câmbio. Subindo a taxa, como a gente importa petróleo e outros insumos, se torna um reflexo na inflação e uma transferência disso no preço do combustível. É um impacto direto, porque a composição do preço do combustível depende da variação cambial”, detalha o especialista.

Como diminuir esse impacto?

Uma forma de diminuir esses impactos é garantir subsídios, como, segundo Heriberto, era feito nos governos antes do atual. O economista lembra que os subsídios contrabalanceavam os reajustes internacionais, quando o governo federal entrava com parte do pagamento desses custos para segurar os preços repassados à população, que acaba pagando um preço alto pelos problemas enfrentados política e economicamente.

“É uma defensiva, porque sempre tem custo para a sociedade e a gente acaba pagando tudo, mas o impacto era suavizado pelos subsídios e pela política de preços. Só que essa política da Petrobrás segue uma metodologia de cálculo com variação cambial em cima da quantidade de combustível importado. E na oferta internacional e existem muitas variáveis e isso obviamente é repassado para as refinarias e chega ao bolso do consumidor. O mecanismo seria a suavização de preços por meio de políticas de subsídio, é uma intervenção estatal que vai contra a política liberal do governo atual, por isso que ele está na dúvida do que fazer”, concluiu Heriberto.

Preço no Pará segue mercado internacional

O advogado do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do Pará (SindiCombustíveis), Pietro gasparetto, explica que o preço do combustível na refinaria no Brasil segue o mercado internacional. Então, sempre que há elevação do dólar ou do preço do barril do petróleo, esse custo acaba sofrendo elevação. De acordo com ele, o preço do barril do petróleo está no maior patamar dos últimos 7 anos.

“Portanto, é possível que ocorra elevação natural dos preços neste cenário. Atualmente, segundo informações de consultorias de mercado, o preço de refinaria da Petrobrás está com grande defasagem com relação aos preços internacionais vigentes. A diferença no valor do que é vendido pelas refinarias da Petrobrás e o preço de importação está próximo de R$ 1 por litro, na gasolina, e de R$ 1,30 por litro, no diesel. Esta situação sugere a iminência de reajustes, caso a atual política de preços seja mantida”, explicou Gasparetto.

Quanto ao ICMS, o advogado garante que não houve qualquer alteração recente que impacte o preço do combustível. “Inclusive, o PMPF (Preço Médio Ponderado a Consumidor Final, valor sobre o qual incide a alíquota) foi congelado pelo CONFAZ/SEFA até 31 de março de 2022”, concluiu.

Como é calculado o preço dos combustíveis?

O preço dos combustíveis no Brasil obedecem a uma metodologia da Petrobrás, e a carga tributária representa a maior parte do preço final. A parte que se refere à venda, como importadores, distribuidores, revendedores e produtores de biocombustíveis, também influenciam na composição do preço final. Confira os quatro fatores:

  1. Preços do produtor ou importador de gasolina
  2. Carga tributária
  3. Custo do etanol obrigatório (presente de 22 a 25% na composição da gasolina)
  4. Margens de lucro da distribuição e revenda.
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