Futuros motoristas paraenses reclamam da demora e dos preços para tirar CNH

Segundo pesquisa feita pela reportagem, hoje, o custo do processo para obter carteira A e B gira em torno de R$ 2,2 mil; sindicato diz que é um dos mais baixos do Brasil

O Liberal
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Tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) é, além de uma exigência cada vez mais forte do mercado de trabalho, uma necessidade na sociedade moderna. Obter o documento, no entanto, pode ser sinônimo de um processo longo e caro, somando os gastos com autoescolas e taxas do Departamento de Trânsito do Estado (Detran), por meio do qual o candidato a motorista precisa se submeter a provas teóricas, práticas e exames médico e psicotécnico. Segundo algumas autoescolas consultadas pela reportagem, o processo todo, hoje, custa cerca de R$ 2,2 mil para ter as duas habilitações: A e B (moto e carro, respectivamente).  

Segundo o Detran, atualmente, 219 Centros de Formação de Condutores estão cadastrados no órgão em todo o Estado. De acordo com o Departamento, hoje, os candidatos de primeira habilitação pagam R$ 126,83 para o exame médico, R$ 170,56 para o psicotécnico e R$ 511,16 para os exames de legislação e prático, o que dá, ao todo, R$ 808,55. 

Designer fala de experiência ruim ao decidir tirar habilitação

A designer Rayssa Monteiro, de 23 anos, é moradora de Belém e teve uma experiência ruim ao decidir tirar a carteira de motorista para carro e moto. Ela conta que iniciou o processo em 2021 e escolheu uma autoescola próxima da sua casa. Pagou, de cara, cerca de R$ 950 para iniciar os trâmites e, ao longo do tempo, foi descobrindo que também precisava pagar outras taxas. Ao todo, o gasto ficou em torno de R$ 2 mil, em um período de quase dois anos. “Achei caro porque, no início, você paga uma parte para a autoescola e, no meu caso, não avisaram que ia precisar pagar várias outras taxas. Mas isso não foi o pior, o processo foi lento, burocrático e durou quase dois anos. Depois de contratar a empresa, demorou meses para me colocarem nas aulas teóricas, depois, mais alguns meses para fazer a prova de legislação no Detran, e assim foi indo. Fiquei quase um ano tentando marcar as aulas práticas e isso só se resolveu quando eu e outros alunos chamamos a polícia. Foi tudo muito difícil”, lembra.

Para ela, tudo poderia ser mais simples se não houvesse tanta predominância das autoescolas nesse processo. “Para quem vai começar agora, eu diria que é importante pesquisar bastante a autoescola, pois muitas têm interesse em deixar o processo lento e burocrático, para que a gente precise começar outra vez e pagar tudo de novo. Eu aprendi a minha lição desse jeito”, conclui. 

Motorista dá dica para quem quer tirar a carteira

O profissional de marketing Rogério Lima, de 37 anos, também morador de Belém, teve um pouco mais de sorte do que Rayssa. Ele deu início ao processo em agosto do ano passado, conseguiu pegar uma promoção na autoescola e os trâmites estão caminhando. “O processo em si não achei complicado não, só demorado. Comecei em novembro do ano passado e ainda vou fazer a prova de legislação, pois, como o site do Detran entrou em manutenção, ainda não consegui tirar o boleto para pagar. A minha dica para quem está querendo tirar a habilitação é começar o quanto antes, pois é um processo demorado”, frisou. 

Ainda em nota, o Detran esclareceu que: “o processo de obtenção de CNH continua o mesmo e o Detran está implementando a atualização do parque tecnológico para modernizar o atendimento de todos os serviços de CNH, incluindo os da autoescola”, informou.

Para Sindicato, preço cobrado não dá conta dos custos 

O presidente do Sindicato das Autoescolas do Pará, Sandro Hage, esclarece que,  hoje, cerca de 150 autoescolas em todo o Estado estão vinculadas ao sindicato e que elas buscam, muitas vezes, praticar preços até mais baixos ao que de fato seria o custo do processo para manter os alunos. “As autoescolas são fundamentais para formar novos motoristas, pois há todo um cuidado com o conteúdo ensinado em sala de aula e nas ruas. O nosso objetivo é de fato evitar situações de risco no trânsito, fazendo com que as pessoas de fato conheçam as regras. E o momento não tem sido fácil para o setor, pois a procura tem sido pouca, mas, em relação ao preço, o Pará pratica um dos menores valores do Brasil”, assegura.

Segundo Hage, os custos do negócio aumentaram muito nos últimos anos, por isso, as autoescolas têm procurado oferecer diferenciais para o público. “Tivemos, em 2022, um ano muito duro. As pessoas não imaginam quanto custa a manutenção de um veículo, o licenciamento, o pagamento dos instrutores, por isso, estamos sempre buscando inovar, oferecendo parcelamento, crediário próprio, desconto à vista, pacotes. Tem autoescola que investe, por exemplo, em carros adaptados, para pessoas com deficiência, ou seja, o setor sabe que precisa procurar diferencial, novas tecnologias, que, de fato, vêm para nos ajudar”, pontua. 

CNH Pai D’Égua visa ajudar quem tem menos condições

Para facilitar o acesso de pessoas de baixa renda à carteira de habilitação, o Governo do Pará lançou, em 2021, o Programa "CNH Pai D'Égua", que, desde o início, até dezembro do ano passado, já havia habilitado mais de 1,5 mil paraenses. Pela iniciativa do governo do Estado são formados, qualificados e habilitados jovens de baixa renda como condutores de veículos automotores, de forma gratuita. 

As inscrições começaram em setembro de 2021 e as matrículas para iniciar o processo para a habilitação, ainda em outubro. Alguns municípios receberam mutirões de exames teóricos e práticos específicos para o programa. As entregas das primeiras CNHs, após a conclusão do processo, iniciaram em junho de 2022. 

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