Endividamento cresce e inadimplência cai em julho; veja dicas para evitar descontrole financeiro
Economistas explicam o que motivou as mudanças e como se livrar das contas em atraso
O número de pessoas endividadas tem crescido no território paraense. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), feita pela Federação do Comércio do Pará (Fecomércio-PA), 65,6% do total de famílias do Estado tinham dívidas em julho, percentual superior ao registrado no mesmo mês do ano passado, de 63,3%. Quanto à inadimplência, a taxa passou de 30,7% em julho de 2021 para 30,5% no mês passado, registrando comportamento oposto.
Economista, Luiz Carlos Silva, do Conselho Regional de Economia do Pará e Amapá (Corecon-PA/AP), explica a diferença entre os dois conceitos: endividados são aqueles que realizaram compras parceladas, seja no cartão, carnê ou mesmo financiamento, então eles têm dívidas a pagar em um futuro próximo; enquanto as pessoas inadimplentes são as que não conseguem pagar essa dívida contraída e deixa a parcela atrasar.
Na opinião dele, o aumento do endividamento ocorreu pelo fato de o trabalhador não estar obtendo ganho real nos seus rendimentos em função da inflação elevada. O economista Nélio Bordalo concorda. O aumento de preços de produtos e serviços nos últimos meses é um dos fatores que influenciam, diz ele, especialmente o provocado pela guerra entre Rússia e Ucrânia, que elevou o valor de itens como trigo, óleo de cozinha e leite junto a seus derivados.
“Com esse cenário, as famílias passaram a utilizar o cartão de crédito para suas compras de supermercado, além dos carnês de lojas, ou seja, optaram por utilizar mais as possibilidades de crédito em vez de pagar à vista as compras. Portanto, o aumento do endividamento é uma forma de equilibrar o orçamento, deixando de pagar as compras com dinheiro e utilizando o crédito para conseguir pagar as demais contas do mês, sem entrar em situação de inadimplência. Um exemplo é o pagamento em duas parcelas nas compras de supermercado”, comenta.
Organização
Mesmo com o uso maior das modalidades de crédito, gerando endividamento, Nélio acredita que as famílias estão conseguindo planejar bem os seus gastos, o que é demonstrado pela redução da inadimplência das famílias em 0,2 ponto percentual. As famílias, segundo o economista, procuraram pagar suas contas em dia para evitar perder o crédito e ter o Cadastro de Pessoa Física (CPF) nos órgãos de proteção.
Para quem está inadimplente, a principal dica de Luiz Carlos é negociar a dívida atrasada em busca da redução de juros e para garantir um parcelamento com mensalidades dentro da realidade financeira do consumidor. Além disso, ele indica a organização das despesas por meio de ferramentas como aplicativos e planilhas que possibilitam ao consumidor viver uma vida econômica saudável. “O brasileiro, em geral, adota a política ‘Zeca pagodinho’, de deixar a vida levar. O ideal para evitar o endividamento ou a inadimplência é o planejamento financeiro, por isso a importância da educação financeira ser ministrada nas escolas, para que possamos criar consumidores mais conscientes”, avalia o economista.
A elaboração de um orçamento doméstico é o mais essencial, na opinião de Nélio Bordalo. Ele diz que o documento precisa fazer uma projeção de seis meses a um ano, pelo menos, para que o consumidor tenha noção real da situação dos seus compromissos e dívidas. A pessoa endividada ou inadimplente deve também ajustar o orçamento mensal, reduzindo gastos até que ocorra o equilíbrio entre receitas e despesas - normalmente, equilibrar as contas e sair do vermelho leva de seis meses a um ano, segundo ele. Outra dica importante é não fazer mais dívidas e, se possível, procurar outra fonte de renda para complementar o orçamento.
Endividamento e inadimplência no Pará
- Total de endividados
Julho/2021: 63,3%
Julho/2022: 65,6%
- Total de inadimplentes
Julho/2021: 30,7%
Julho/2022: 30,5%
- Nível de endividamento
Muito endividado
Julho/2021: 16%
Julho/2022: 11,4%
Mais ou menos endividado
Julho/2021: 20,2%
Julho/2022: 32,3%
Pouco endividado
Julho/2021: 27,2%
Julho/2022: 21,9%
Não tem dívidas desse tipo
Julho/2021: 36,7%
Julho/2022: 34,4%
- Principais tipos de dívidas em julho de 2022
Cartão de crédito: 80,7%
Carnês: 16%
Crédito consignado: 12,7%
Crédito pessoal: 11,6%
Financiamento de carro: 9,9%
Cheque especial: 6%
Financiamento de casa: 4,4%
Outras dívidas: 1,9%
Cheque pré-datado: 0,3%
Dicas para evitar a inadimplência
- Elaborar o orçamento mensal para seis meses ou mais
- Verificar o percentual de endividamento em relação à renda mensal. Tecnicamente, o razoável é que ele ocupe até 30% da receita.
- Não fazer novas dívidas
- Usar o cartão de crédito com responsabilidade
- Reduzir gastos supérfluos para ter recursos disponíveis para pagar as dívidas
- Procurar credor para fazer negociação em parcelas compatíveis com a renda
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