Economistas paraenses explicam o impacto da inflação aos consumidores

Em Belém, o índice superou a média nacional e registrou 0,46% em novembro

Emilly Melo
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O preço dos produtos e serviços, assim como o poder de compra dos consumidores brasileiros, é baseado na inflação do país, medida principalmente pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Os índices são levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e considerados oficialmente pelo governo federal para calcular a inflação do Brasil. Em Belém, o índice superou a média nacional e registrou 0,46% em novembro.

“Em linhas gerais, a inflação é o aumento contínuo e generalizado dos preços de bens e serviços em uma economia durante um período de tempo. Esse fenômeno diminui o poder de compra do dinheiro, ou seja, a mesma quantidade de dinheiro passa a comprar menos bens e serviços. Pode ser causada por fatores como aumento dos custos de produção (inflação de custos), crescimento da demanda em relação à oferta (inflação de demanda) ou expectativas inflacionárias”, explica o pesquisador da Universidade Federal do Pará (UFPA) e economista do Conselho Regional de Economia do Pará (Corecon/PA), André Cutrim.

O IPCA dos últimos 12 meses foi de 4,87%, até novembro deste ano, com variação mensal positiva de 0,39% no último mês no país. No ano, a inflação registrada é de 4,29%. De acordo com o relatório mais recente publicado pelo Banco Central, o cenário econômico brasileiro não é favorável, especialmente com o aumento do dólar.

“As expectativas dos analistas econômicos para a inflação voltaram a piorar, atingindo 4,6% para 2025 e 4% para 2026, ficando ainda mais distantes da meta de inflação de 3%. Essa piora do quadro inflacionário ocorre em um cenário de pressão sobre os preços de alguns alimentos, especialmente carnes, de aquecimento da atividade econômica e de acentuada alta do dólar”, destaca o estudo.

Segundo André Cutrim, a inflação afeta o poder de compra das pessoas porque, conforme aumentam os preços dos bens e serviços, a mesma quantia de dinheiro não é suficiente para comprar a mesma quantidade de produtos.

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“Esse impacto ocorre de forma mais intensa em famílias de baixa renda, que destinam uma parcela maior do orçamento a itens essenciais, como alimentação, transporte e energia elétrica. Por exemplo, se o salário mínimo de uma pessoa não for reajustado e o preço dos alimentos aumentar em 10%, ela terá que gastar uma parcela maior de sua renda nesses itens mais essenciais, o que reduzirá a capacidade de consumir outros bens ou serviços”, ressalta o pesquisador.

A inflação é determinante na economia de um país, pois está relacionada ao aumento das taxas de juros, que encarece o crédito e desestimula investimentos. Para famílias endividadas, as variações podem comprometer o orçamento e o planejamento financeiro.

“Ao mesmo tempo, o valor das economias é corroído, especialmente quando os rendimentos de aplicações financeiras não superam a inflação, resultando em uma perda de poder aquisitivo ao longo do tempo. Em suma, a escalada da inflação cria um ciclo prejudicial: aumenta o custo de vida, reduz o consumo, diminui a qualidade de vida das pessoas e afeta principalmente as camadas mais vulneráveis da sociedade brasileira”, declara André Cutrim.

Variação da inflação e os impactos

Apesar da elevação no índice nos últimos meses, o pico mais recente da inflação foi em 2022, quando o IPCA chegou a superar os 10%. A inflação de alimentos, por exemplo, continua a ser uma das grandes vilãs, especialmente no contexto de uma economia global que ainda lida com as consequências da pandemia e da guerra na Ucrânia, ambos fatores que afetaram as cadeias de abastecimento, com aumentos que superam as taxas do período.

O aumento nos custos de energia e combustíveis também tem contribuído para a manutenção da pressão inflacionária, com a alta nos preços de eletricidade e gás impactando diretamente o orçamento das famílias.

Os índices de inflação também são importantes para a estruturação tributária do país, e a forma como o governo utiliza os recursos arrecadados podem ter impactos diretos sobre os preços, o poder de compra da população e, consequentemente, sobre a inflação. O Brasil é conhecido por ter uma das mais altas cargas tributárias do mundo.

“Outro fator relevante é a composição da nossa carga tributária. No Brasil, a maior parte da arrecadação provém de impostos indiretos, como ICMS, PIS e Cofins, que incidem sobre o consumo. Esse modelo é considerado regressivo, pois afeta mais as famílias de baixa renda, que comprometem uma parcela maior de seus ganhos em bens e serviços tributados”, acrescenta Cutrim.

A inflação é um dos maiores desafios econômicos enfrentados pelo Brasil nos últimos anos, afetando principalmente as camadas mais vulneráveis da população. De acordo com o economista Valfredo de Farias, enquanto os mais ricos conseguem, de certa forma, manter o seu padrão de consumo, os mais pobres são fortemente penalizados pela alta dos preços.

“A inflação é especialmente prejudicial para quem ganha menos. As famílias mais pobres começam a fazer escolhas difíceis, trocando produtos mais caros por alternativas mais baratas. Por exemplo, trocam carne de boi por carne de frango. Com o tempo, acabam deixando de consumir certos produtos, o que reduz drasticamente sua qualidade de vida. A inflação corrói o poder de compra dessas famílias, tornando cada vez mais difícil para elas manterem o mesmo nível de consumo”, explica Valfredo.

No cenário atual, o combate à inflação depende, em grande parte, das ações do Banco Central. A principal ferramenta utilizada para controlar a inflação é a política de juros, que visa desaquecer a economia e reduzir a pressão sobre os preços. No entanto, Farias destaca que o papel do governo federal também é crucial para o equilíbrio econômico do país.

“O governo federal tem um papel fundamental no controle da inflação, mas o equilíbrio da economia é uma tarefa delicada. Políticas populistas, como a expansão do crédito, podem ter efeitos negativos. O aumento da oferta de crédito pode até estimular o consumo, mas isso acaba gerando pressão sobre os preços. Além disso, uma grande parte dessa expansão de crédito é financiada por meio do endividamento público, o que aumenta o déficit fiscal e eleva a dívida do país. O aumento do déficit fiscal afeta as expectativas do mercado, o que, por sua vez, pressiona a valorização do dólar. Com o dólar mais caro, os preços de produtos e matérias-primas importados aumentam, o que agrava ainda mais a inflação”, alerta o economista.

Além disso, Valfredo explica que a inflação não é sentida de forma igual em todas as regiões do país. Em locais mais distantes dos centros de produção, como o Norte do Brasil, os impactos da inflação são mais fortes devido ao custo elevado do frete. “O custo do transporte no Norte, por exemplo, é muito mais alto, o que eleva os preços finais dos produtos. Isso acontece porque muitos itens têm que ser transportados por longas distâncias, o que aumenta os custos logísticos e, consequentemente, o preço ao consumidor”, afirma Valfredo.

Variação mensal por grupos, novembro 2024 - IPCA

Brasil

  • Índice geral: 0,39%
  • Alimentação e bebidas: 1,55%
  • Habitação: -1,53%
  • Artigo de residência: -0,31%
  • Vestuário: -0,12%
  • Transportes: 0,89%
  • Saúde e cuidados pessoais: -0,06%
  • Despesas pessoais: 1,43%
  • Educação: -0,04%
  • Comunicação: -0,10%

Belém:

  • Índice geral: 0,46%
  • Alimentação e bebidas: 2,51%
  • Habitação: -2,09%
  • Artigo de residência: -1,71%
  • Vestuário: -0,62%
  • Transportes: 1,39%
  • Saúde e cuidados pessoais: -0,35%
  • Despesas pessoais: 0,45%
  • Educação: 0,18%
  • Comunicação: -0,50%
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