Dólar deve continuar alto em 2025, influenciado pelas políticas de Trump e pacotes fiscais no Brasil

Como a economia brasileira é dependente de produtos importados, a elevação tem impactos significativos nos preços internos

Elisa Vaz
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A escalada do dólar frente ao real tem sacudido o mercado e impactado nos preços aos consumidores. Com o resultado de segunda-feira (30), fechado em R$ 6,17, o dólar acumulou alta de 2,99% no mês e de 27,35% no ano. E é possível que, em 2025, a moeda americana continue elevada, segundo o economista Douglas Alencar, que é professor do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Entre os principais fatores externos que podem sustentar essa valorização, de acordo com ele, estão as políticas migratórias adotadas pelos Estados Unidos e a possibilidade de intensificação de uma guerra comercial sob o novo governo americano, liderado por Donald Trump (Republicanos) a partir de janeiro.

“Se as promessas de expulsão de imigrantes e de uma guerra comercial forem concretizadas, é provável que vejamos um fortalecimento do dólar no mercado global. A redução da força de trabalho nos Estados Unidos, decorrente de uma política migratória mais rígida, pode levar ao aumento dos salários, pressionando a inflação. Isso, por sua vez, obrigaria o Federal Reserve (Fed) a elevar as taxas de juros, fortalecendo ainda mais o dólar”, avalia.

Além disso, o professor afirma que uma guerra comercial que limite a importação de produtos para a economia americana reduziria a concorrência interna, levando a um aumento nos preços, cenário que também pressionaria o Fed a adotar políticas monetárias mais restritivas, como novos aumentos das taxas de juros, o que reforçaria o dólar frente a outras moedas, incluindo o real.

Cenário brasileiro

Também há influências no âmbito interno que podem colaborar para uma manutenção do alto custo da moeda americana. Douglas destaca que há uma percepção entre os agentes do mercado financeiro de que o nível dos gastos públicos no Brasil está “excessivamente elevado”.

“Caso o governo enfrente dificuldades para aprovar os pacotes fiscais propostos, as expectativas desses agentes podem se deteriorar ainda mais, resultando em uma possível saída de capitais do país e na consequente desvalorização do real em relação a outras moedas”, adianta.

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Outro ponto é que as incertezas fiscais geram desconfiança entre investidores, tanto nacionais quanto estrangeiros, que podem optar por retirar recursos do Brasil devido ao receio de que o governo enfrente dificuldades para rolar sua dívida. Em busca de maior segurança, esses investidores tendem a alocar seus recursos em ativos considerados mais seguros, como títulos da dívida americana, o que reforça a valorização do dólar frente ao real.

Uma das medidas que o governo federal pode tomar para conter o dólar em um patamar mais competitivo é fortalecer o diálogo com o Congresso Nacional, segundo o economista, facilitando a aprovação de pacotes econômicos e reformas. Para ele, a recente reforma ministerial pode ser um passo importante para melhorar o entendimento entre o Executivo e o Legislativo.

“É fundamental reconhecer que o Executivo não governa sozinho. O Legislativo exerce grande influência sobre o orçamento público e os rumos da economia, incluindo a taxa de câmbio. Uma relação mais harmoniosa entre os dois Poderes pode gerar maior confiança nos mercados, atrair investimentos e, consequentemente, contribuir para uma valorização do real em relação ao dólar”, opina o estudioso.

Impacto nos preços

A escalada do custo da moeda americana em relação ao real tem impactos significativos nos preços internos. Douglas lembra o conceito econômico “pass-through”, que descreve essa influência. O economista declara que a economia brasileira, sendo altamente dependente de produtos importados, como máquinas e equipamentos, é particularmente sensível a esse efeito.

Quando o câmbio se desvaloriza, de acordo com ele, o custo dos produtos importados aumenta, o que, por sua vez, encarece toda a cadeia produtiva. “Esse movimento tende a pressionar a inflação, afetando diretamente o preço dos alimentos e os custos gerais para a população, uma vez que muitos bens de consumo e insumos essenciais dependem de componentes ou tecnologias adquiridos no exterior”.

Em relação às empresas, os setores que dependem da importação de máquinas e equipamentos estão entre os mais impactados por um dólar mais caro, já que a alta no câmbio encarece esses insumos. Por outro lado, uma taxa de câmbio elevada pode estimular a produção industrial nacional ao tornar os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional. E as empresas exportadoras podem se beneficiar, já que a desvalorização do real aumenta a competitividade dos produtos no exterior, melhorando as margens de lucro.

Tanto os negócios do segmento de importação como os de exportação devem adotar estratégias para proteger suas margens de lucro contra as oscilações da moeda, de acordo com o professor Douglas Alencar. Essas práticas, diz ele, ajudam a reduzir o impacto de variações abruptas do câmbio em suas operações financeiras.

Já para empresas que atuam principalmente no mercado interno e para investidores, é recomendável alocar cerca de 7% de suas carteiras em ativos atrelados ao dólar ou ao ouro, com o objetivo de mitigar os riscos associados a flutuações bruscas na taxa de câmbio, garantindo maior resiliência em um cenário de câmbio elevado.

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