Demora na exploração de petróleo na Amazônia preocupa setor industrial e político do Pará
Pesquisa por recursos na Bacia Potiguar da Margem Equatorial, localizada no Rio Grande do Norte, deixou Foz do Amazonas sem previsão licença
A notícia de que a decisão para a exploração de petróleo na Bacia Potiguar da Margem Equatorial, localizada no Rio Grande do Norte, deixa sem prazo definido o início dos estudos na Foz do Amazonas, preocupa políticos e o setor industrial do Pará. As perdas, segundo entidades ouvidas pelo Grupo Liberal, como o Centro de Indústrias do Pará (CIP), alcançam desde os investimentos na bioeconomia do estado, até o desenvolvimento de mão de obra qualificada e serviços.
A Petrobras anunciou como mais fácil a perfuração na Bacia Potiguar, sob a justificativa de melhor logística, realinhamento ambiental e frente ao fato de já haver descoberta de petróleo na região. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) já concedeu a licença prévia para tal, enquanto a Bacia da Foz do Amazonas - que fica a mais de 160 km do ponto mais próximo da costa do Amapá e a mais de 500 km da foz do Rio Amazonas - só deve ser foco de pesquisa em 2024.
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“O Ibama verificou maior facilidade de dar a licença na Bacia Potiguar agora. Essa sonda vai subir rumo ao Amapá. Para ter essa licença, nós fizemos uma avaliação pré-operacional, com a simulação de um grande vazamento. A licença foi dada e nós vamos fazer a operação com grande sucesso, sendo que este é um campo que já tem descoberta. E vamos para o Amapá em seguida”, disse o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, na quarta-feira (11), em evento realizado no Rio de Janeiro.
Indefinição de prazo implica em prejuízos para a Amazônia, diz Aldo Rebelo
Aldo Rebelo, ex-ministro dos governos Lula e Dilma, afirma que o Pará, Amapá e Maranhão estão sofrendo “processos de sabotagem, conduzidos por organizações não governamentais”, o que dificulta a liberação dos estudos exploratórios. “Muitas vezes, com o apoio de órgãos ou agências do próprio estado brasileiro, que legitimam as ações dessas organizações, a pretexto de que a exploração de petróleo teria riscos”, protestou o político em entrevista ao Grupo Liberal.
“Enquanto isso, na Guiana, a empresa Exxonmobil e outras americanas e européias, já acumulam reserva de 11 bilhões de barris de petróleo. Para se ter ideia, essas reservas correspondem a 75% do total das reservas brasileiras. Isso implica em vários prejuízos para a Amazônia, Pará e Amapá. O Pará, por exemplo, tem um curso de engenharia de petróleo e o mesmo estado que abre o curso, bloqueia o futuro desses estudantes ao impedir a perfuração”, completa Aldo.
Além disso, o político cita que o atraso para a exploração de petróleo na região também impede a atração de uma série de serviços, como na área da segurança, serviços, tecnologia e alimentação. “Tudo isso é desperdiçado. Perde a atividade de petróleo e gás, quando nós sabemos que é realizada com o máximo de segurança. A Petrobras nunca registrou um acidente grave. Ela é reconhecida no mundo por esse tipo de tecnologia em águas profundas”.
Setor industrial paraense vê demora com preocupação
O setor industrial do Pará também não enxerga a indefinição do processo de estudo na Foz do Amazonas com bons olhos. José Maria Mendonça, presidente do CIP, destaca que, com isso, não apenas o estado perde, mas o Brasil como um todo. “Porque a Guiana já está explorando, o Suriname… Então, todo mundo pode explorar a plataforma continental, só o Brasil que cria regras para ele mesmo se prejudicar. A gente acha que, para a nossa transição energética, precisa garantir a exploração de petróleo na Margem Equatorial”, defende.
“O Brasil precisa ter petróleo para fazer a transição energética para um outro modelo e isso ainda vai demorar, no mínimo, 50 anos. Ou seja, por pelo menos mais 50 anos, o petróleo vai ser o motor do mundo. Então, o país não pode ficar de fora, ele pertence ao mercado internacional e tem que estar preparado para enfrentar o livre comércio. Por isso, a gente acha que essa demora na decisão [de exploração na Foz do Amazonas] é de uma incompetência injustificada”, pontua José Maria.
Bioeconomia
O presidente do CIP abordou, ainda, que os ganhos vindos pela exploração do petróleo poderiam ajudar a financiar estudos envolvendo a bioeconomia do Pará e a biodiversidade. “Estudar isso tudo não é em um estalar de dedos. Vai custar dinheiro, recursos altos que o Pará não tem. Nós poderíamos, através do petróleo, criar uma condição de fazer estudos na nossa biodiversidade para entrarmos de cabeça erguida em uma bioeconomia do futuro. Não podemos acreditar em junto de bondade, política internacional é uma política de interesse econômico”, concluiu José.
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