Crédito consignado é opção para quem tem renda garantida

A modalidade teve mudanças. Economista dá dicas de como usar

Elisa Vaz/ O Liberal

Desde o começo do ano, o crédito consignado dispõe de novas regras. A modalidade, que é acessada, principalmente, por aposentados, pensionistas e servidores públicos, é vista como uma das melhores do mercado financeiro, por conta dos juros mais baixos; mesmo assim, exige cuidado para que o consumidor não acabe endividado.

O economista Valfredo de Farias diz que este é um tipo de financiamento ou empréstimo mais barato. Geralmente, é feito pelas pessoas que têm a garantia do recebimento de sua renda, salário ou aposentadoria. No caso dos aposentados, pensionistas e funcionários públicos, eles se encaixam na modalidade porque sempre terão aquela renda garantida, mas os trabalhadores de empresas privadas também podem ter acesso ao consignado, dependendo do caso. Como o pagamento mensal daquela dívida é garantido, porque é descontado automaticamente, o risco é menor para as instituições financeiras, por isso elas conseguem operar com juros mais baixos.

A principal mudança deste ano foi na margem do crédito consignado, ou seja, o valor da renda que pode ser comprometido com o empréstimo. A partir de agora, o percentual, que era de 40%, passa para 35%. Até dezembro do ano passado, as pessoas podiam comprometer o limite de até 40% de sua renda líquida com o crédito consignado, sendo 35% no empréstimo convencional e outros 5% somente por cartão de crédito consignado. Agora, o limite passou para até 30% no empréstimo pessoal e 5% para despesas e saques com cartão de crédito consignado. Na prática, o banco não pode descontar do benefício além do limite estabelecido pela margem do consignado.

Valfredo acha que a mudança é positiva, se olhada pelo lado da educação financeira e do endividamento familiar. “O consignado é, também, um fator de endividamento das pessoas, principalmente pela facilidade. Há muitos idosos, funcionários públicos e aposentados que não sabem como é a proposta e o percentual de juros, mas, pelo valor pequeno e a pedido de outros familiares, acabam acessando o crédito e criam um endividamento na família, porque a renda vai diminuindo conforme aquele valor é descontado. Por esse ângulo, é positivo diminuir o percentual para evitar um maior endividamento”, avalia.

Segundo ele, o que falta é a educação financeira. “Tem gente que, se fosse possível, comprometeria até 100% do seu salário com esse empréstimo, a maioria não tem consciência de endividamento, vão muito pelo valor da parcela, que pode ser baixo, e isso é muito como cartão de crédito, se exagerar vai ter muita dificuldade para viver. A diferença é que não há a opção de não pagar, já é descontado direto”, explica o economista.

Outra mudança é que, a partir deste mês, o limite de parcelas passa a ser de 72 meses, ou seis anos. Até dezembro, o número estava em 84 meses. Tanto para os usuários como para os bancos, a mudança é negativa, opina Valfredo. “Mais de 90% das pessoas que pegam empréstimo não estão muito preocupadas com o valor final, e sim com o valor da parcela. Então, quando você diminui a quantidade de parcelas, provavelmente, o valor mensal vai aumentar porque há menos tempo para pagar. Isso impacta diretamente no dia a dia das famílias, especialmente as mais pobres, que precisam mais desse recurso do que outras famílias com mais condições”. Já para as instituições financeiras, o impacto das novas medidas será um ganho menor. Como os bancos que fazem esse tipo de consignado têm lucro em cima dos juros, com menos parcelas e menos comprometimento da renda, o ganho será menor.

Recurso deve ser usado com responsabilidade

Embora o crédito consignado esteja entre as melhores opções de empréstimo, na opinião de Valfredo, com juros baixos e prazo de pagamento extenso, a modalidade ainda exige alguns cuidados. A principal recomendação do economista é que a pessoa só acesse o benefício se realmente precisar. E, principalmente, como forma de investimento.

“A ideia mais recomendada é que a pessoa pegue o dinheiro para fazer mais dinheiro: investir, empreender, montar uma empresa, planejar uma viagem. Algo que vai fazer uma diferença. Pode também investir em uma pessoa da família, pagar universidade de alguém, seria interessante que esse dinheiro fosse usado dessa forma”, argumenta. Mas, não é o que acontece, de acordo com ele. “Principalmente os idosos pegam muito para alguém da família que pediu e para pagar dívidas, como cartão de crédito. Eles não têm uma orientação nesse sentido e acabam se endividando mais”, alerta Valfredo.

Por isso, é importante o planejamento financeiro e o bom uso do dinheiro. Até porque, como lembra o economista, não existe a opção de adiar o pagamento ou mesmo deixar de pagar; o valor é descontado mensalmente e sobra menos recurso para utilizar em outras despesas. Outra dica do especialista é que o usuário procure instituições sérias, bancos comerciais, financeiras conhecidas. Além disso, entender como funcionam os juros, quanto vai pagar no fim do contrato, saber se aquela parcela vai acumular com outra que já se tem, antes de contratar. Também é bom buscar pessoas que já tenham acessado a modalidade para compartilhar a experiência.

O policial militar Lázaro Leonardo Sodré Falcão, de 34 anos, já utilizou o crédito consignado duas vezes: em 2014 e em 2020. O motivo que o fez buscar esse recurso foi a compra de veículos – uma moto e um carro, respectivamente. Ele ainda não acabou de pagar o empréstimo, mas gosta da modalidade. “Acho positiva e acessaria novamente. Acredito que, por ter uma boa taxa de juros, ela é bem fácil de ser utilizada. A dica que daria é: use para comprar ou fazer um serviço que vai ser útil para você ou para a família. E também a pessoa deve ter um cuidado para não comprometer a renda”, indica.

O valor máximo de crédito depende de quanto os usuários recebem por mês para que a renda não fique comprometida. Em dezembro do ano passado, o teto dos juros do consignado voltou ao patamar pré-pandemia, passando de 1,8% para 2,14% ao mês no empréstimo convencional. No caso das operações com cartão de crédito consignado, os juros passaram de 2,7% para 3,06% ao mês. Assim, os bancos não podem ultrapassar esse limite de taxa. Com esse aumento, os juros ao ano podem chegar a 30%.

(Infográfico) Recomendações do Banco Central antes de contratar um consignado

Não faça qualquer pagamento adiantado para obter o empréstimo;
Pesquise e compare as taxas de juros e condições oferecidas por outros bancos;
Verifique se o banco está autorizado a funcionar pelo Banco Central e se tem convênio com sua fonte pagadora;
Nunca assine um contrato ou uma proposta de contrato em branco;
Não aceite a intermediação de pessoas com promessas de acelerar o crédito;
Não forneça o cartão magnético ou senha do banco a terceiros;
Lembre-se de que esse tipo de operação representa dívidas que poderão afetar sua renda pessoal e familiar futura;
Caso queira fazer a transferência do contrato para outro banco, leia atentamente as informações sobre portabilidade de crédito.

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