Com safra ‘atrasada’, vendedores de Belém afirmam que açaí já deveria estar mais barato
Em julho do ano passado, de acordo com trabalhadores, a quantidade de açaí era maior do que agora, o que deixava os custos menores
A entressafra do açaí, período em que a produção e a colheita do fruto ficam mais escassas, está sendo mais longa neste ano, segundo vendedores do segmento. Neste mesmo mês, em 2022, o alimento já estava mais barato para quem compra de produtores e também para o consumidor final.
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Proprietário de um ponto de venda na rua Mauriti, em Belém, Edson Calandrini diz que o açaí está demorando mais para chegar neste ano. O pouco que está disponível, segundo ele, devido à quantidade, ainda fica um pouco mais caro. “Não está acessível para passar ao cliente. Ainda não começou a cair neste ano, a previsão é de que melhore do dia 20 de agosto para frente, quando deve chegar mais açaí. Porque tem produto, mas não a quantidade ideal para suprir os vendedores”, explica.
No ponto de Edson, o açaí tipo médio está custando R$ 20, enquanto o grosso é vendido por R$ 30 - normalmente, em épocas melhores, o médio fica R$ 15, podendo chegar a uma mínima de R$ 12, e o grosso sai por uma média de R$ 20. “Nessa época no ano passado, já estava mais barato”, afirma o empresário. Por conta do cenário, ele não tem batido o fruto todos os dias, porque nem sempre chega mercadoria, e por isso as vendas não estão muito altas. A expectativa é de que elas cresçam a partir de agosto.
Desempenho
Outro empreendedor dono de dois pontos de açaí em Belém é Milton Santos. Na opinião dele, a queda de preços já começou a ocorrer, mas de maneira atrasada.
“Em relação ao início do mês, já está mais acessível, pelo menos uns 30% de redução nesses últimos seis dias. Na loja da Terra Firme o preço é mais acessível: tenho o popular por R$ 14, o médio por R$ 20 e o grosso por R$ 25; na semana passada estava, respectivamente, R$ 18, R$ 22 e R$ 30”, conta. Já na empresa localizada na Generalíssimo, o custo é de R$ 20 pelo açaí popular, R$ 28 pelo médio e R$ 38 no caso do grosso. No início da semana, os preços respectivos eram R$ 24, R$ 32 e R$ 45.
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A partir de agora, diz Milton, os preços devem ficar mais acessíveis para o consumidor, e ele tem boas expectativas para o pico da safra. Mas, mesmo assim, o ano está sendo atípico, declara. “Geralmente, nessa época, nas ilhas, o açaí já está em pico de safra. Pela minha experiência, isso acontece por causa das mudanças climáticas: sol demais, chuva fora do período. Estamos em pleno mês de julho e continua chovendo. Para o produtor é bom porque a safra deve ser bem longa, deve ficar até início de dezembro”, adianta o empresário.
As vendas, nas lojas que ele administra, já começaram a ter uma boa melhora: crescimento de 60% na Terra Firme e de 40% na Generalíssimo na última semana. A tendência com a chegada da safra, segundo ele, é de uma alta de pelo menos 70% nos dois espaços.
A reportagem entrou em contato com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos do Pará (Dieese-PA) para buscar dados das últimas semanas, mas a pesquisa ainda não está disponível. O levantamento mais recente é referente a maio, quando houve uma queda de 4,2% no litro do açaí tipo médio e de 2,57% no grosso, na comparação com abril, o primeiro recuo do ano. O acumulado até aquele mês era de 3,2% no açaí médio e de 5,41% no grosso.
Exportação
Para quem trabalha vendendo açaí para fora, as expectativas também são otimistas. Marcelo Silva é gerente de exportação em uma empresa de açaí que atua desde 2017 e vende para 23 países, com volume exportado de mais de mil toneladas no ano, e afirma que tem presenciado uma redução de preços do fruto por conta da safra. “Normalmente, é de julho até dezembro, porém nem sempre essa máxima se repete ano após ano por causa da sazonalidade do fruto. Às vezes começa apenas em agosto, às vezes começa no final de junho. Neste ano começou em meados de julho, então vai baixando e atingindo uma precificação menor”, afirma.
As exportações, de acordo com Marcelo, são diretamente influenciadas pela sazonalidade do fruto, tanto que 70% do volume de compras se dá durante a safra. A expectativa das safras, segundo o gerente, sempre “nos enche de otimismo”, e assim é possível garantir qualidade aos clientes e o estoque.
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