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Com prejuízo de 3 bilhões, produção de soja sofre com mudanças climáticas no Pará

Sementes resistentes são apostas para lidar com estresse hidrico e altas temperaturas

Amanda Engelke
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A falta de chuvas tem impactado significativamente a produção de soja no Pará. Vanderlei Ataídes, presidente da Associação dos Produtores de Soja, Milho e Arroz do Pará (Aprosoja Pará), estima que, na última safra paraense (2023/2024), que contabilizou cerca de 3,2 milhões de toneladas, o prejuízo foi de quase R$ 3 bilhões, devido “ao estresse climático”. Comparada à penúltima safra, ele diz que a “perda de produtividade foi de 10 a 13%”.

O Pará, que atualmente ocupa a 11ª posição no ranking de produção de soja do Brasil, também viu o preço da saca cair na última colheita, de junho/julho. "Quando plantamos a soja, o preço estava em torno de R$ 140 por saca, mas na colheita caiu para cerca de R$ 115. Depois, tivemos alguns pequenos picos de alta. O prejuízo foi grande, e quem sabe o que vem por aí? Está todo mundo arrepiado com o que pode acontecer”, diz Ataídes.

Sementes resistentes são aposta

A verdade é que o mundo está “arrepiado”. A crise climática não é exclusividade da soja, afeta diferentes culturas, até mesmo os tomates da Heinz na Califórnia, nos Estados Unidos, que enfrentaram o julho mais quente da história. Para mitigar os impactos, a empresa investe em sementes resistentes ao calor e à seca, testando 800 variantes e quintuplicando o investimento em seu centro de pesquisa nos últimos cinco anos.

Aqui, Vanderlei lamenta lamenta os prejuízos. “Para além da safra, também tivemos uma safrinha muito afetada, sobretudo em Paragominas (principal produtor), mas também em outras partes do estado. Falo da safra de milho, sorgo e milheto. Neste momento, estou fechando meu pacote de sementes para a próxima safra, e não existe nenhuma semente que ofereça condições de enfrentamento à baixa umidade ou falta de chuva”, diz.

Segundo Ataídes, as sementes que estão sendo utilizadas pelos produtores paraenses são “as mesmas dos anos anteriores”. Ele alega que “as únicas ‘sementes modificadas’ disponíveis no Pará são aquelas voltadas para resistência a lagartas, mas isso não resolve o problema do estresse hídrico". Ainda que a solução não seja imediata, já existem testes em curso no Brasil pela Embrapa Soja com sementes com DNA editado para resistir à seca.

Fase de testes

Em uma entrevista no início do ano, Alexandre Nepomuceno, chefe-geral da Embrapa Soja, explicou sobre a necessidade de tempo e testes dessas sementes. “Precisamos testar por duas ou três safras para comprovar sua eficácia, pois dependemos da ocorrência de seca durante o período de cultivo. A ideia é conduzir esses testes em várias regiões produtoras do país. Se não houver seca, teremos que esperar”, disse, à época, Nepomuceno.

O representante da Embrapa Soja também explicou que a técnica adotada, no caso da “nova soja resistente à seca”, de edição de DNA, é autorizada pela CTNBio, e oferece vantagens ao não ser classificada como transgenia, o que evita um processo caro e demorado de aprovação. No entanto, os experimentos em campo ainda estão em fase inicial, com sementes sendo multiplicadas para testes futuros.

Reforço na safrinha

No Pará, a Embrapa Amazônia Oriental já oferece quatro cultivares de feijão-caupi desenvolvidas por melhoramento genético convencional, com elevado desempenho agronômico e alta qualidade de grãos. As variedades — BRS Bené (grãos marrons), BRS Guirá (pretos), BRS Utinga (brancos) e BRS Natalina ("manteiguinha") — foram lançadas no ano passado e prometem desempenho superior em condições climáticas adversas.

Rui Alberto Gomes Junior, pesquisador da Embrapa, destaca que o feijão-caupi tem se mostrado uma alternativa para os produtores na safrinha. “[Ele] tem uma taxa de sobrevivência muito alta, mesmo com pouca água. Claro que a produtividade diminui com o déficit hídrico, mas ele é mais tolerante do que outras culturas, que acabam morrendo e zerando a produtividade, enquanto o caupi mantém um nível basal e resiste mais”, explica.

image O feijão-caupi tem se mostrado uma alternativa para os produtores na safrinha. (Ronaldo Rosa / Embrapa)

Rui detalha que o principal ponto é a precocidade, já que os materiais de feijão-caupi podem ser colhidos, em média, em 70 dias, e, em algumas condições, até em 65 dias. “Isso representa quase um mês a menos em comparação com culturas como soja e milho, exigindo menos tempo de umidade no solo”. Mesmo com um período de chuva mais restrito, “o feijão-caupi consegue completar seu ciclo”, acrescenta.

No Mato Grosso, um dos maiores produtores de feijão-caupi - o que pode servir de exemplo ao Pará -, a espécie já tem sido usada como safrinha de soja, substituindo o milho, que é mais caro e demanda mais chuvas. Na prática, com a ‘janela de plantio’ restrita, o produtor pode enfrentar limitações de maquinário, não sendo possível plantar toda a área de safrinha com milho, o feijão-caupi é uma escolha mais segura para as últimas áreas de plantio.

Adoção ainda é baixa em relação ao potencial

No Pará, as pesquisas ocorreram nas áreas do produtor rural Benedito Dutra, em Tracuateua. Ele relata que "quem tinha grandes áreas de feijão na região perdeu pelo menos 20% da produção por causa da falta de chuvas", mas acredita que as novas cultivares "são a saída", para reforçar a safrinha, junto com o plantio irrigado adotado pelos grandes produtores de soja e milho, como em Paragominas e região.

Apesar do potencial, o pesquisador Rui aponta que há uma limitação na adoção das cultivares de caupi, que permanece baixa, tanto para as quatro novas variedades quanto para outras já existentes. “Apesar da crescente demanda por sementes melhoradas, a adoção no campo ainda é um grande desafio. Precisamos garantir que a pesquisa tenha impacto, pois há uma deficiência na utilização desses materiais”, observa.

Rui também pondera que a produção dos novos cultivares ainda está no início. Segundo ele, "atualmente, eles são recomendadas para o estado do Pará”. Ele também informa que as cultivares estão sendo validadas pela pesquisa da Embrapa para outras regiões do Norte, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil. “Já existem relatos de agricultores em outros estados - além do Pará -, plantando, com alta qualidade de grão e alta produtividade”, diz.

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