Com crescimento dos meios de pagamentos digitais, cheques caem em desuso
Economista diz que PIX trouxe facilidade para vendedores e consumidores, e que no futuro o papel não será mais usado em transações financeiras
Com o avanço dos meios de pagamentos digitais, o uso dos cheques segue em queda, como mostram dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban): no primeiro semestre de 2022, o número de documentos compensados no Brasil atingiu 103,9 milhões, uma redução de 13,8% em relação ao mesmo período de 2021, quando totalizou 120,6 milhões de documentos compensados. Embora a entidade não disponha de dados do Pará ou do Norte, o comportamento é o mesmo localmente, e o economista Douglas Alencar explica que isso ocorre pela facilidade e economia que os sistemas digitais proporcionam.
"Está cada vez mais fácil, tanto para as pessoas físicas quanto para as empresas, realizar transações digitais, como o PIX. E se considerarmos os bancos digitais, não há o pagamento de TED e anuidade, então, conforme essa digitalização do sistema financeiro nacional vai aumentando, vamos reduzindo a possibilidade de usar cheques. É um movimento normal que deve continuar acontecendo", adianta. No futuro, ele acha que o papel não será mais usado, mas o foco será o dinheiro digital.
Outra tendência, segundo ele, com o capitalismo contemporâneo, é a expansão de um novo setor da economia, chamado de setor de bens sofisticados - a junção entre os aplicativos e o produto físico. Um exemplo citado por ele é o celular, usado para mandar mensagens, fazer ligações, acessar o banco, usar o transporte, entre outras funções que unem mercadorias com tecnologia da informação; ou os relógios inteligentes, que hoje até fazem pagamentos. Na opinião do economista, esse alto grau de tecnologia tem mudado a forma como os consumidores se relacionam, inclusive com bancos e o sistema financeiro, e quanto mais essa tecnologia for acessível mais haverá a redução do uso de cheques e dinheiro em papel.
Um desafio para que este cenário se torne realidade é a garantia da inclusão financeira para todos. "A maioria das pessoas vai usar, conforme elas forem incluídas. Ainda tem muita gente, e aqui no Pará isso acontece muito, que não tem acesso ao sistema financeiro. Na Ilha do Marajó, em Breves, tem lugares mais afastados onde a internet é de mais difícil acesso, como aqui no Pará. Mas, no geral, é uma tendência no Brasil, tendência mundial e certamente vai ser uma tendência aqui no nosso Estado", comenta Douglas.
Cuidados
O uso do cheque hoje em dia não traz nenhum benefício, na opinião do economista, por se tratar de uma modalidade mais arriscada. Pode acontecer, por exemplo, de aquele documento não ter fundo, ou seja, quando o lojista vai sacar, o valor não está disponível na conta do pagador. Por isso ele diz que apenas empresas que precisam fazer transferências de valores altos ainda usam o cheque no dia a dia. Outra desvantagem é que se trata de um processo mais demorado e difícil.
"Quando usamos o cheque existe um risco envolvido, principalmente para quem está recebendo o pagamento, porque pode acontecer de não ter fundo e várias outras coisas entre o momento que você recebe o cheque e o momento em que você vai compensar. Uma dica para os lojistas é consultar as informações do cliente no Serasa, por exemplo. Para os consumidores não tem muito risco porque ele que está fazendo o pagamento. A única coisa que pode acontecer é o lojista descontar antes da data", declara.
Empresário deixa de usar cheque
Hoje com 65 anos, Ovídio Gasparetto usou cheques durante muito tempo, tanto como empresário como quanto consumidor. Há mais de três anos, no entanto, ele deixou de usar essa modalidade. Na sua empresa, um posto de gasolina, era mais frequente o uso do documento para pagar contas do negócio e receber pagamentos de clientes que abasteciam no local. O primeiro ele parou de fazer há mais tempo, mas ainda seguiu recebendo cheques de consumidores no posto. Com o tempo, o uso do talão foi substituído pelas transações em aplicativos.
Gasparetto não vê vantagem no uso de cheques, até porque já levou alguns "calotes". "Primeiro que ele tem que ser compensado, nunca acontece no mesmo dia, você deposita e ele aparece na conta, se tiver fundo, apenas no dia seguinte. O comerciante sempre tinha o risco de receber um cheque e não ter a convicção de que seria compensado. Eu tinha coleção de cheques sem fundo, mais de 50. O que eu fazia era criar um cadastro do consumidor, inclusive com a placa do carro, para ir atrás caso não houvesse a compensação", lembra. Outras desvantagens são a necessidade de ir ao banco compensar o valor e ainda correr o risco de ser assaltado na saída.
Em seu negócio, Ovídio se adaptou antes mesmo do PIX, recebendo pagamentos por meio do QR Code há cerca de quatro anos. Dessa forma, ele garantia o recebimento na hora e a certeza de que seria pago pelos clientes. "Era diferente do cheque, que, se não tivesse fundo, seria um prejuízo meu, teria que pagar advogado, protestar o cheque e ainda acabar não recebendo. O QR Code não, a transação entra na mesma hora na conta, igual ao PIX", defende o empresário. Hoje, nenhum de seus clientes tenta pagar o combustível abastecido com cheques. Ele acha que 95% da circulação monetária, inclusive, seja por meio de outros meios que não este.
Já como consumidor, o cheque tinha apenas uma vantagem, na sua opinião: a possibilidade de parcelar compras sem usar o cartão de crédito ou fazer empréstimos e financiamentos. Por exemplo, se um cliente quisesse comprar um carro de um vendedor, poderia combinar o pagamento em três cheques: para o dia seguinte, para 30 dias depois e o último para 60 dias, sendo três parcelas de um determinado valor. Este é o chamado cheque pré-datado.
Como utilizar cheques com segurança
- Emita sempre cheques nominais e cruzados
- Ao preencher cheques, elimine os espaços vazios e evite rasuras
- Controle seus depósitos e retiradas no canhoto, inclusive as realizadas com cartão
- Evite circular com talões de cheques e leve apenas a quantidade de folhas que pretende utilizar no dia
- Quando receber um novo talão, confira os dados referentes a nome, número da conta corrente, CPF e a quantidade de cheques
- Tome o máximo de cautela na guarda dos talões; destaque a folha de requisição e guarde em separado
- Nunca deixe requisições ou cheques assinados no talão
- Destrua os talões de contas inativas
- Separe os cheques de qualquer documento pessoal
- Não utilize caneta hidrográfica ou com tinta que possa ser facilmente apagada
- Não forneça dados pessoais por telefone
- Nunca utilize máquina de escrever com fita à base de polietileno, pois os valores preenchidos poderão ser facilmente apagados e modificados
Fonte: Febraban
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