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Colheita do açaí no Pará: novas tecnologias reduzem riscos e aumentam eficiência

Substituição da peconha por varas de alumínio é um exemplo de alternativa segura e sustentável

Gabriel da Mota
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A crescente popularidade do açaí nos mercados nacional e global tem impulsionado significativamente o cultivo do fruto no Pará, consolidando o estado como o principal produtor do Brasil. Dados da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) indicam que entre 1987 e 2022, a produção nacional aumentou mais de 13 vezes, passando de 145,8 mil para 1,9 milhão de toneladas — e em 2022, 90% desse volume foi produzido no Pará. Para acompanhar a crescente demanda pelo fruto, a segurança de quem trabalha na colheita do açaí é um dos desafios, cujo enfrentamento passa pela modernização técnica.

Eliakim Rodrigues, proprietário de uma empresa de plantio de mudas de açaí em Concórdia do Pará, destaca as tecnologias que vêm sendo adotadas para tornar a colheita mais segura e eficiente. A tradicional peconha (apoio para os pés que facilita a subida em açaizeiros) tem sido progressivamente substituída por varas de manobra de alumínio. A utilização das varas, que são ajustáveis em tamanho e equipadas com ferramentas na ponta para cortar e segurar os cachos, garante maior segurança aos trabalhadores, eliminando o risco de quedas frequentes no método tradicional.

Além de melhorar a segurança, as varas de alumínio também aumentam a eficiência do processo.

“O trabalhador pode caminhar entre as linhas de plantio realizando a colheita sem precisar subir e descer constantemente das palmeiras, o que reduz o desgaste físico e aumenta a produtividade”, diz Rodrigues.

Ele também ressalta que as varas são leves e duráveis, representando um investimento acessível para os produtores, com custo em torno de R$ 1 mil e uma vida útil de aproximadamente 20 anos.

image Ferramenta acoplada na ponta da vara auxilia na colheita do fruto de maneira segura e sustentável (Eliakim Rodrigues / acervo pessoal)

No entanto, a transição para essas novas tecnologias ainda enfrenta desafios, principalmente em áreas de produção tradicional, como no Baixo Tocantins e no Arquipélago do Marajó, onde a peconha ainda predomina. "A conscientização sobre os benefícios das varas de manobra é fundamental. Além de serem mais seguras, elas ajudam a melhorar a imagem do estado, que ainda é associado ao uso de mão de obra infantil e adolescente em atividades perigosas, algo que precisa ser combatido”, enfatiza Eliakim.

Ele também menciona que, apesar de a maioria do açaí produzido no Pará ser consumido internamente (cerca de 60%), o restante é exportado para outros estados e países. Com a Ásia emergindo como um novo mercado consumidor, a modernização das técnicas de colheita pode não apenas melhorar a segurança e a produtividade, mas também impulsionar a reputação do açaí paraense no mercado internacional.

Manejo sustentável

O avanço tecnológico também desempenha papel importante na sustentabilidade da produção de açaí no Pará, que se expandiu para além das várzeas, chegando a áreas de terra firme. O presidente da Associação dos Produtores de Açaí da Amazônia (Amaçaí), Nazareno Alves, cita o uso de drones para monitorar e reflorestar áreas degradadas, anteriormente usadas para pastagem ou plantio de culturas como pimenta e dendê. “Todos os municípios do Pará estão plantando açaí”, afirma Nazareno. 

Esse uso da tecnologia permite uma gestão mais eficiente das plantações, transformando áreas antes degradadas em florestas produtivas, contribuindo para o equilíbrio ambiental e aumentando a produção de açaí em áreas de terra firme. “Essa inovação tem ajudado a maximizar o uso dos resíduos do açaí, agregando valor à cadeia produtiva e reduzindo o impacto ambiental”, finaliza.

Fiscalização

A procuradora-chefe do Ministério Público do Trabalho (MPT) no Pará e Amapá, Rejane Alves, destaca as preocupações do órgão com a exploração do trabalho infantil e as condições de saúde e segurança dos trabalhadores na colheita do açaí. Segundo ela, há relatos sobre condições de trabalho degradantes que, em alguns casos, podem ser comparadas ao trabalho escravo. “Temos notícias relacionadas à exploração do trabalho de crianças e adolescentes, mas que ainda são objeto de investigação”, afirma Rejane, sem detalhar dados.

Segundo Alves, o MPT atua junto às administrações municipais, promovendo campanhas de conscientização sobre a proibição do trabalho infantil em escolas públicas, especialmente nos municípios que concentram a produção de açaí no Pará. Além disso, há ações judicializadas em busca da implementação de políticas públicas que previnam a exploração do trabalho de menores. “A perspectiva é sempre fazer uma atuação visando alcançar uma responsabilidade mais ampla, que possa impactar na mudança de paradigmas da própria cadeia produtiva do açaí”, ressalta.

Em nota, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) informou que intensificou seus esforços em 2023 para monitorar as condições de trabalho na cadeia produtiva do açaí no Pará, com destaque para a erradicação do trabalho infantil. Além de fiscalizar, o MTE tem liderado iniciativas de conscientização e capacitação para os trabalhadores do setor, em parceria com universidades, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e organizações não-governamentais. 

Essas iniciativas visam, entre outros objetivos, a adoção de práticas de diligência pelas empresas, a melhoria das condições de segurança e o fortalecimento das políticas públicas para combater o trabalho infantil. Um exemplo é a criação da Comissão de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil em Igarapé-Miri, que busca soluções sustentáveis e permanentes para os desafios enfrentados pelos colhedores de açaí na região.

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