Certificação do cacau brasileiro projeta futuro promissor

Meta é alcançar produção de 140 mil toneladas por ano e manter liderança nacional na produção da amêndoa de cacau, considerada de alta qualidade no mercado

Elisa Vaz

Reconhecido como país exportador de 100% de cacau fino e de aroma, o Brasil deve aumentar sua produção nos próximos anos, e essa conquista se deve, em grande parte, ao Pará, que mantém o título de maior produtor de cacau em todo o País, superando a tradicional produção da Bahia, que mantinha a liderança. A inclusão no rol de países certificados no Acordo Internacional do Cacau ocorreu na semana passada, em Abidjã, na Costa do Marfim, e dá ao Brasil um status diferenciado.

Com o reconhecimento feito pela Organização Internacional do Cacau (ICCO, na sigla em inglês) e anunciado pelo Ministério da Agricultura, o Pará deve ganhar destaque internacional nos próximos anos. É o que acredita o titular da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap), Hugo Suenaga, entrevistado pela reportagem.

Segundo o especialista, a maior importância da conquista é que o Pará começa a se projetar no mercado internacional, devido à qualidade do cacau. Entre os municípios do Estado que mais produzem a amêndoa, a cidade de Medicilândia lidera o ranking, com 40% de tudo que é produzido. Atrás dela, vêm os municípios de Uruará (10%), Placas (6%), Brasil Novo (4,71%), Altamira (4,53%), Anapu (4,52%), Novo Repartimento (4,13%) e Tucumã (3,26%).

TOMÉ-AÇU - Apesar de não ser um grande produtor de cacau, o secretário também destacou o município de Tomé-Açu, único que tem a certificação de procedência e certificação geográfica de cacau no Estado. O reconhecimento ocorreu recentemente e, para Suenaga, abre grandes perspectivas de melhora no mercado alimentício paraense.

Segundo relatório da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), a produção no Pará, em 2017, foi de 132.720 toneladas. Já os dados do IBGE apontam que a produção paraense representa 54% de toda a produção brasileira. De acordo com a superintendente da Ceplac, Maria Goreti, o destaque do Estado na produção de cacau se deve a dois fatores: incentivos do governo estadual e a comercialização do produto. "A nossa região já está muito adiantada na questão da produção de frutos de qualidade. Nosso maior desafio, hoje, para nos mantermos no topo, é a verticalização, mas isso leva tempo", comentou.

Conforme adiantou o secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Pesca, a expectativa é de aumentar a produção de cacau no Pará em 5 mil toneladas a cada ano. Daqui a dois anos, o governo espera já ter ultrapassado o marco dos 140 mil em produção do fruto. "Nós temos uma qualidade excelente nas regiões paraenses, e essas certificações só ressaltam isso, são importantes conquistas para o Estado. Vamos começar a trabalhar no aumento da produtividade local, principalmente com fornecimento de mudas e assistência técnica mais ativa no campo, por meio de vários órgãos executores de assistência técnica. Com isso, conseguiremos aumentar a produção", argumentou Suenaga.

O titular da Sedap também disse que todos os municípios produtores de cacau no território paraense buscam o reconhecimento de qualidade, e o governo está engajado nesta missão. De acordo com Suenaga, a gestão estadual atua junto a essas cidades, especialmente na Região Transamazônica, que comporta o maior acervo de produção. Para manter a posição de destaque e aumentar o nível de qualidade, o secretário garantiu que várias entidades atuam na fiscalização e análise dos produtos, por meio de testes. O Estado também vai criar o mecanismo de rastreabilidade do cacau, com atuação da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará). A atividade consiste em conhecer todo o caminho da matéria-prima, desde a origem até o produto final, para manter um melhor controle da cadeia produtiva e garantir uma visualização completa de todo o ciclo produtivo do produto.

Na avaliação de Goreti, o Brasil passará a fazer parte de um grupo muito pequeno de países ao qual a indústria chocolateira vai recorrer, com a melhor matéria-prima. Com a conquista, o País terá mais destaque na cadeia do cacau, e cria-se um estímulo à produção com qualidade, segundo ela.

Inovação é o caminho para crescimento

Para alcançar maior reconhecimento mundial, no entanto, o Brasil ainda precisa caminhar nas inovações. É o que pensa o produtor e diretor científico do Centro de Inovação do Cacau (CIC), Cristiano Villela. Segundo o especialista, o cacau é cultivado e processado de forma tradicional há quase 300 anos no Brasil e não se vê muitas mudanças na área de processamento e beneficiamento do fruto.

“São dois ou três produtores que tentam inovar aqui e na Bahia, mas nada consolidado. Nós temos buscado inovações, especialmente no maquinário, para melhorar a qualidade do cacau fermentado, mas o reconhecimento a nível mundial não se dá tanto pela tecnologia, e sim pela qualidade do produto”. As ações desenvolvidas pelo CIC em conjunto com a Ceplac têm o objetivo de melhorar a produção brasileira e alavancar o destaque mundial do País. Conforme explicou o especialista, a política nacional ainda está sendo regulamentada no País e é importante para estabelecer parâmetros para a produção de cacau no Brasil. “Aqui, a qualidade ainda é muito ruim nas produções de cacau, são muitas interferências. Esses movimentos fortalecem a conscientização dos produtores e, assim, alcançaremos uma produção global do produto”, finalizou Villela.

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