Caminhoneiros relatam dificuldades com aumento do diesel, mas descartam paralisação

Trabalhadores afirmam que precisam trabalhar mais e param pouco em casa, com a família, devido à necessidade de compensar a diminuição dos lucros

Natália Mello

Autônomo ou funcionário contratado, a vida dos caminhoneiros deve ser fortemente impactada por mais uma alta no preço dos combustíveis. Os postos foram autorizados pela Petrobrás a corrigir em 14,25% o preço do litro do diesel e em 5,18% da gasolina. A Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava) informou em nota, na sexta-feira, que o Brasil vai "parar novamente". Trabalhadores se mostram insatisfeitos, mas, assim como representantes dos Sindicatos dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens no Estado do Pará (Sindicam/PA), e de Transportadores de Cargas do Estado do Pará (Sintracar/PA) descartam possibilidade de greve da categoria.

Francisco Evaldo tem 42 anos e atua como caminhoneiro há 25. Natural de Pernambuco, ele tem o próprio veículo e transporte diversas cargas, segundo ele, praticamente tudo: gesso, verdura, madeira, etc. A vida do trabalhador costumava ser de períodos longos na estrada, mas, com as dificuldades de lucro devido aos constantes aumentos no preço do combustível e, assim, dos produtos e do frete, o tempo em casa tem sido cada vez menor.

“Está muito imprensado. Tem muito pouco de lucro. Tudo que ganhamos hoje vai 70% a 80% embora quando abastecemos no diesel. O lucro está ficando tão pouco que a gente mal sustenta a manutenção do caminhão, não dá nem para conservar o nosso veículo”, ressalta. “Cheguei a pagar R$ 4,20 no diesel e não faz tanto tempo, no ano passado, e agora vai passar dos R$ 8, imagina. Por conta desses aumentos, a gente mal está tendo tempo de ficar com a família, para trabalhar mais e honrar os compromissos. Tem que chegar em casa e voltar. O caminhão virou meu lar”, diz o caminhoneiro, que passa um dia em casa para cada 10 dias na estrada.

O paranaense José Henrique Gimenes é contratado de uma empresa que transporta tecidos e trafega, majoritariamente, por Minas Gerais, Bahia, Ceará e Pará. Exercendo a profissão há 20 anos de seus 45, ele vem observando as consequências das altas. Sobre os impactos não diretos impostos ao trabalhador, ele enumera a não melhoria de salários, a diminuição de benefícios e as dificuldades às diárias.

“A gente sabe que afeta não só os empresários, como afeta os caminhoneiros, porque é um aumento absurdo e é gradativamente que vem acontecendo. Eu sou funcionário da empresa e para mim não afeta diretamente, diretamente é mais para a empresa, mas tem a questão dos autônomos, do frete que não é compatível com os aumentos constantes, e quem é proprietário do seu caminhão não consegue encarar essa realidade. Fora que varia muito o preço de estado para estado, Nordeste e Norte é sempre mais caro. Com essas dificuldades todas, influencia em como nós, funcionários, recebemos”, analisa.

Juliano Melo é caminhoneiro há seis anos, e compartilha do pensamento de José. “O pessoal diz que não tem como haver reajuste, benefícios, porque com tantos aumentos precisa segurar em algum lugar. Eles têm, inclusive, pedido para a gente procurar postos que tenham valor mais em conta de combustível, para ter equilíbrio com relação a isso. E isso atrapalha na viagem, ficar parando para pesquisar onde é mais em conta”, ressalta.

Sindicatos descartam greve

Diretor do Sindicato de Transportadores de Cargas do Estado do Pará, Edilberto Ventania afirma que, por enquanto, não há possibilidade de paralisação, mas que a entidade entrará em contato com a direção nacional para saber as diretrizes. “Somos vinculados aos trabalhadores que são funcionários e esse movimento está sendo mais liderado pela questão dos autônomos, mas se puder colaborar com a mobilização para baixar claro que vou, porque aí baixa tudo, arroz, energia”, reforça.

Já o presidente do Sindicam, Eurico Tadeu Santos, se demonstra preocupado com esse cenário, e diz que vai faltar combustível no Brasil. “Não é um problema só do caminhoneiro, é do país e do mundo. Isso era previsível, quando o governo Temer assinou a Política de Paridade Internacional (PPI). Quando começou sabíamos que ia dar confusão, mas não sabíamos do tamanho”, avaliou.

O índice da PPI baseia o preço dos combustíveis nos custos de importação, que incluem transporte e taxas portuárias como principais referências para esse cálculo do valor final. “Nós produzimos, mandamos para fora para refinar, industrializar, e compramos de volta em dólar. Por isso pagamos tão caro”, detalha. “Mas nenhuma possibilidade de paralisação, ninguém quer parar. O que estamos preocupados é que vai faltar combustível. A Argentina já está com esse problema há 20 dias, também em algumas cidades dos Estados Unidos, aqui não vai ser diferente, mas só vai paralisar se acabar o combustível”, concluiu.

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