Bancários protestam contra taxa de juros no Brasil
Manifestantes pedem redução da Selic e afastamento do atual presidente do Banco Central
O Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários do Estado do Pará, em conjunto com outros movimentos sindicais, realizou um protesto na manhã desta terça-feira, 14, em frente à unidade do Banco Central (BC) em Belém, localizada no Boulevard Castilhos França. O ato pediu a baixa da taxa básica de juros (Selic) e a saída do presidente da instituição, Roberto Campos Neto. Não houve interdição na via.
Para a presidente do Sindicato, Tatiana Oliveira, a revisão do índice é necessária, visto que a alta da Selic impacta em toda a dinâmica econômica. “A gente vive um momento delicado no Brasil, com muito desemprego e alto nível de endividamento nas famílias. Do ponto de vista financeiro, uma taxa elevada provoca um efeito em cadeia em diversos produtos, como empréstimos e cartões de credito. Ou seja, o dinheiro fica mais caro e, em função disso, se desaquece a economia e se gera menos oportunidades de investimentos e de emprego”, afirma a dirigente.
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O movimento ocorreu em um contexto de crescentes críticas e questionamentos sobre a manutenção da Selic na casa de 13,75% ao ano. Nas últimas semanas, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a criticar a política monetária vigente, provocando repercussões no mercado financeiro, que teme por maiores intervenções do Estado no BC, cuja autonomia é regida por lei federal.
Tatiana Oliveira considera que a demanda pela renúncia de Campos Neto não feriria a autonomia do BC, já que, em sua visão, o órgão deve acompanhar a agenda política brasileira.
“Se tem uma leitura de que com autonomia, o Banco Central deve se comportar como um outro poder. Não é essa realidade. Mesmo gozando de autonomia, ele faz parte do Poder Executivo, então é uma presidência que deve ser exercida com responsabilidade e de acordo com o projeto eleito. O BC não pode ir contra os anseios democráticos expressos nas urnas”, critica a sindicalista.
A Selic é definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Até janeiro de 2021, a taxa básica de juros vinha em trajetória de queda, chegando ao patamar de 2%, porém, desde março daquele ano, o órgão vem elevando os índices como forma de conter a escalada da inflação e a alta do dólar em relação ao real. Na virada de 2021 para 2022, o índice estava em 9,25% e chegou a 13,75% em agosto passado. Desde então, o Copom tem mantido a Selic estável, como anunciado na última reunião realizada no início de fevereiro.
“Quando a Selic sobe, os juros cobrados nas operações de financiamentos e empréstimos, e também nos cartões de crédito ficam mais altos, como forma de desestimular o consumo e, em teoria, favorece a queda da inflação no país. Da mesma maneira, a alta da Selic também impacta no câmbio, pois ela interfere no valor do real frente às moedas estrangeiras”, explica o economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia dos Estados do Pará e Amapá (Corecon PA/AP), Nélio Bordalo Filho, que analisa que as decisões do BC tem surtido o efeito esperado.
Alta da Selic desde 2021
“A alta da Selic, desde março de 2021, tem favorecido a redução, mesmo que sensível, da inflação. Lembrando que o Brasil registrou deflação nos meses de julho, agosto e setembro do ano passado, no entanto, é um remédio amargo, pois a alta da taxa Selic provoca a desaceleração da economia brasileira”, complementa.
Apesar da elevação do índice ser considerada negativa para muitos setores da população, Bordalo acrescenta que uma taxa mais alta tende a ser atrativa para os investidores de perfil mais arrojado, que aplicam na Bolsa de Valores, e até mesmo aqueles os mais conservadores, que têm ganhado com a valorização de títulos de renda fixa.
“Na minha opinião, como principal objetivo da Selic alta é frear o consumo e tentar conter a inflação, acredito que o cenário atual da economia brasileira ainda não permite a sua redução. Essa possibilidade deve ser analisada com todas as informações que o Banco Central tem acesso para manter ou até reduzir a Selic”, pontua o economista.
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