Samba de Cacete é reconhecido como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Pará
Samba de Cacete é uma manifestação cultural encontrada em comunidades quilombolas do baixo rio Tocantins
O samba de cacete, manifestação cultural de origem africana que ganhou raízes em solo paraense na região do Baixo Tocantins, no oeste do estado, passa a ser, a partir dessa terça-feira (27), patrimônio cultural de natureza imaterial do Estado do Pará. O reconhecimento dessa tradição cultural e folclórica se concretizou por meio da aprovação pela Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), por unanimidade, nesta terça, de projeto de lei com esse conteúdo de autoria do deputado estadual Carlos Bordalo (PT PA). Como destacou o parlamentar no projeto, essa tradição abrange a música, o canto e a dança como elementos dos batuques afrodescendentes.
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“Esse reconhecimento do samba de cacete é muito importante para todos nós, do Grupo Cultural Samba de Cacete do Pilão, aqui, de Cametá, com 50 anos de atividades, porque é a valorização da cultura desde os nossos antepassados e, em especial, a minha mãe, a mestra Iolanda do Pilão (Iolanda Lopes dos Santos, 83 anos)”, afirma Iolani Santos Pantoja. O samba de cacete contribui, desde o período da escravidão e até os dias atuais, com a luta e resistência do povo negro na Amazônia. Essa tradição cultural aborda temas muito fortes relacionados à trajetória de crianças, adultos e idosos negros tanto na zona rural como no espaço urbano dos municípios.
Ancestralidade
Segundo integrantes do grupo Samba de Cacete do Pilão, de Cametá (zona rural), as pessoas costumavam se reunir em uma espécie de mutirão para fazer o roçado e, no final dos trabalhos, celebravam com muito samba e bebidas. Essas práticas aconteciam nas comunidades do Mola, Tomazia, Igarapé Preto e Vacaria, que eram quilombos localizados próximo ao Rio Itapocu, em Cametá. A manifestação veio dos quilombos e se espalhou da região rural para a sede da cidade. Atualmente, há vários grupos de samba de cacete espalhados pelo interior. Em Cametá, o único grupo em atividade é o grupo Samba de Cacete do Pilão, criado na década de 70, e que tem como responsável Mestra Iolanda do Pilão. Em julho de 2020, a Lei municipal n.º 348/2020 declarou o samba de cacete patrimônio cultural e imaterial.
Os escravizados levaram a cultura do samba de cacete, a partir de Cametá, para outros municípios do Baixo Tocantins. Cultura essa que é preservada nas comunidades quilombolas da região. No caso do grupo Samba de Cacete do Pilão, são 30 integrantes, entre homens e mulheres, incluindo trabalhadores negros das roças. A trajetória dessa manifestação cultural é contada, inclusive, no documentário “Mestras”, com direção da cantora Aíla e da artista visual Roberta Carvalho. Esse trabalho se tornou o primeiro documentário longa-metragem do Pará a chegar ao Festival de Gramado, o mais prestigiado evento do audiovisual brasileiro, concorrendo ao troféu Kikito de melhor longa documentário. Mestra Iolanda do Pilão compareceu ao evento.
Como descrito no projeto de lei n.º 825/2023, essa manifestação popular surgiu das cantigas tradicionais das comunidades remanescentes de quilombos, principalmente o Quilombo de Itapocu, na região de Cametá. As canções versam basicamente sobre a tristeza de ser escravo.
O nome samba de cacete deve-se ao instrumento usado para marcar a música, os cacetes, ou seja, dois pedaços de pau batidos no curimbó (tambor), cadenciando o ritmo. Essas manifestações estão presentes em localidades como Igarapé-Miri, Cametá, Mocajuba e Baião, assim como nas localidades remanescentes de quilombos, como Mola, Juaba, Tomasia, Laguinho, Igarapé Preto, Carapajó, Curuçambaba e Maranhãozinho. Assim como no siriá, os dançarinos do samba de cacete se apresentam com trajes coloridos enfeitados e as mulheres usam blusas vistosas, saias bem rodadas e amplas, pulseiras, colares e adornos, nos rituais que simbolizam o enfrentamento das relações de poder adversas ao povo negro.
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