Paixão de Cristo: amantes da sétima arte relembram a tradição do cinema paraense na Semana Santa
O Cine Olympia foi um espaço em que muitas pessoas assistiram filmes da Paixão de Cristo; Belém e outras cidades paraenses paravam as programações para a exibição do filme
Uma tradição comum na Semana Santa, é a exibição na TV aberta de filmes com a temática da "Paixão de Cristo", que mostra a saga de Jesus Cristo até a crucificação. No entanto, no Pará, não somente a TV aberta exibia esses filmes, mas os cinemas de bairros e cinemas comerciais da capital e Região Metropolitana toda Sexta-feira Santa exibiam simultaneamente o filme. Em entrevista exclusiva ao Grupo Liberal, Ismaelino Pinto, Marco Antônio Moreira e Pedro Veriano relembram e compartilham histórias da época.
O Cine Olympia - fechado há 9 meses para reforma - foi um espaço em que muitas pessoas assistiram filmes da “Paixão de Cristo”. O jornalista e colunista Ismaelino Pinto contou que ele e a família assistiam juntos. "Eu não tinha essa noção, porque eu era muito criança, e víamos ‘A vida de Cristo’ nos cinemas. A versão 1903. Dia de Sexta-feira Santa exibiam nos cinemas de bairro, passavam a vida de cristo, tinha a programação do dia santo, do cinema sagrado. Já Adolescente eu ia conhecer os cinemas e ir atrás deste filme; Cinema Nazaré, Cinema Olympia, Cine Palácio, Cine Paraíso, Cine arte, cada bairro tinha uma sala de cinema. Eu ia atrás, na época eu ia para ver os filmes", relembrou.
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O período mudava até a programação do Cine Ópera, conhecido pela exibição de filmes adultos, revelou Ismaelino. "Outra impressão que eu tinha é que as cenas eram reais, era uma tradição esta vida de cristo, era uma comoção... O Cine ópera, por exemplo, parava a sua programação de filmes adultos e na Sexta-feira Santa eles passavam a Vida de Cristo, de 1903... Este detalhe, ele não era exibido só na capital, os cinemas de bairro do interior, Castanhal, Salinas, Capanema, Abaetetuba todos tinham seus cinemas ,e paravam a programação para exibir a vida de cristo", completou.
Ismaelino relembrou que esta tradição se perdeu com o tempo, no entanto, em 2020 ele tentou recuperar, enquanto estava trabalhando na Igreja de Santo Alexandre e realizou uma única exibição lá. Contou também que esta tradição do Pará já foi retratada em filme. "Cacá Diegues, quando fez 'bye bye brasil', que é rodado a maior parte do Pará, mostrou como na sexta-feira tudo parava para exibir o filme, porque é tradição. As últimas exibições aconteceram com Pedro Veriano, foi programador do Cine Olympia. Exibia a cópia de 'A Vida e a Paixão de Jesus Cristo 1903 (La vie et la passion de Jésus Christ)'", concluiu.
A Paixão de Cristo nos cinemas
Marco Antônio Moreira, professor, pesquisador e crítico de cinema também compartilha memórias parecidas com as de Ismaelino Pinto, pois também desde a infância acompanhou a programação dos cinema com a família e era tradição assistir aos filmes religiosos na semana santa. "Sempre foi muito emocionante assistir alguns filmes sobre a vida de Cristo. Era um momento de fé e esperança por meio de belos filmes. Nunca deixei de ir aos cinemas. A partir dos anos 90, muitos filmes foram lançados em vídeo ou DVD ou foram exibidos na TV. Em qualquer plataforma audiovisual é sempre interessante assistir ou rever filmes com temáticas religiosas", arguiu.
"Assisti a maioria desses filmes nos cinemas de rua da cidade. Olympia, Palácio, Nazaré, Cinemas 1,2 e 3.... Lembro que era curioso o silêncio dos espectadores nesses filmes. E tendo que era um respeito dos espectadores ao que acontecia na tela especialmente nos filmes sobre a vida de Jesus Cristo", seguiu.
O médico, jornalista e apaixonado por cinema Pedro Veriano Direito Álvares era o responsável pelas projeções citadas por Ismaelino e Antônio. Sua relação com o cinema começou aos 4 anos de idade. "À época da Semana Santa alguns os cinemas de Belém exibiam a 'Vida e Paixão de Jesus Cristo', de 1903, [filme] mudo, 44 min., realizado por Ferdinand Zecca. Geralmente os cinemas dos bairros. O Olympia, só muito depois, exibiu esse filme. Nos anos 1970 adquiri uma cópia do filme e a exibi na minha casa, no Mosqueiro, praia do Farol. Muitos veranistas como espectadores", recordou.
"Eu não exibia filmes em cinemas comerciais. Exibia em minha casa o que eu chamei de 'Cine Bandeirante', com projetor de 16mm, de 1950 a 1984. Hoje vejo filmes em sessões nas streaming. Principalmente com a chegada da pandemia. Mas nada dublado daí ver só em sites da internet com legenda em português", continuou.
Apreciador da sétima arte, Veriano escreveu também sobre ela nos jornais "Estado do Pará", "A Província do Pará", e em 'O Liberal' e publicou alguns livros. Revelou, ainda, como a sua atuação influenciou na fundação de cinemas, que também exibiram A Vida e Paixão de Cristo. "Talvez tenha influenciado o amigo Alexandrino Moreira a criar os cinemas 1, 2, 3 e ainda Castanheira 1 e 2 e Boulevard 1 e 2. Na exibição do filme da Vida de Cristo, fui com a família, com as filhas. Para ver os espectadores. Porque na Semana Santa muitas pessoas achavam que era uma das exigências rituais", finalizou.
O Cine Olympia espaço que faz parte da memórias dos expectadores paraense está atualmente fechado, no entanto, a A Prefeitura de Belém, por meio da Fundação Cultural de Belém (Fumbel), informou em nota que o “Cine Olympia passará por processo de restauração total, inclusive com aquisição de novos equipamentos, com obra custeada pelos Institutos Pedras e Vale e que, neste momento, segue em análise pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para que brevemente haja a execução do projeto. A obra deve iniciar em maio deste ano e, após a reforma, o prédio histórico, datado de 1912, irá retomar a função de cinema público, especialmente de difusão da produção audiovisual paraense”, esclareceu.
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