Os 80 anos da Mulher-Maravilha: a primeira super-heroína da DC Comics
A personagem que inaugurou a história das mulheres superpoderosas, segue como inspiração e gera debates sobre o feminismo
No ano de 1941, chegava aos HQs da DC Comics uma personagem que se tornaria uma representante de toda a feminilidade dentro de um universo de super-heróis, naquela época ocupado somente por homens. Criada pelo psicólogo William Moulton Marston e pelo artista H.G. Peter, a Mulher-Maravilha é considerada a primeira super-heroína da DC, e apareceu pela primeira vez na revista “All Star Comics #8”, em 21 de outubro de 1941. Nesta semana a icônica personagem completa seus 80 anos, com uma trajetória marcada como uma figura de representatividade na cultura pop.
CONFIRA
Desde lá, a Mulher-Maravilha seguiu os passos de muitos heróis que nasceram nas páginas das revistas, e ganhou também a TV e o cinema. Além de sua força divina, as marcas que a tornam inconfundíveis são diversas, desde a logo estampada em seu peito que com duas letras W aladas, até o tomara-que-caia vermelho, o shortinho azul estampado com estrelas brancas e as botas vermelhas, tudo combinado a braceletes dourados.
A Mulher-Maravilha sobreviveu ao tempo, e uma justificativa para isso pode vir das mudanças que a personagem acompanhou. Se no início as roupas curtas e posições que sexualizavam o corpo da personagem eram bastante comuns, com o passar do tempo o corpo escultural da personagem foi deixando de ser sua característica mais exaltada. No filme “Mulher-Maravilha 1984”, o mais recente da heroína, por exemplo, um dos destaques é um traje de armadura que cobre o corpo inteiro.
Fora dos quadrinhos, a Mulher-Maravilha foi eternizada no imaginário de muitos fãs no rosto de Lynda Carter, na série de TV clássica de 1975. A versão mais recente da personagem carrega a força de Gal Gadot, que deu vida a super-heroína pela primeira vez no filme “Batman vs. Superman”, e depois seguiu com dois filmes solo.
Gal Gadot conquistou uma série de fãs, como a cosplayer Thassia Albuquerque, que começou a vestir-se como a personagem da DC após o lançamento do primeiro filme com Gadot na pele da heroína.
“A Gal Gadot me conquistou com o jeito dela, a expressão. Foi perfeita, caiu como uma luva”, avalia Thassia, integrante da Liga Cosplay do Pará.
Figura do feminismo desde a década de 40
Sinônimo de força, inteligência e habilidade, a Mulher-Maravilha pode ser considerada uma figura importante dentro do movimento feminista. Por ser considerada a primeira super-heroína mulher da DC Comics, ela abriu uma porta de representatividade num cenário fictício onde, até então, mulheres não eram força essencial como os homens.
“Ela observa uma situação e já elabora resoluções para que dê certo, e vai lá e faz. Então acho que a questão dela ter sido um símbolo do feminismo é perfeito”, avalia a cosplayer Thassia Albuquerque. “É uma representação muito positiva, porque muitas pessoas têm uma ideia distorcida do feminismo, acham que são extremistas, e ela veio como símbolo do feminismo para mostrar o contrário, porque ela tem a força bruta, mas tem a inteligência, a capacidade que todas nós mulheres temos”, diz.
Thassia, que tem no acervo os mais diversos trajes usados pela Mulher-Maravilha ao longo do tempo, fala que prefere aqueles que mostram as pernas, mas entende a importância dos diversos figurinos na construção da personagem. “Não importa o que você está vestindo, o que importa é sua atitude”, diz.
“Mesmo sendo a Mulher-Maravilha da HQ, da série, filme ou videogame, todas são poderosas, todas lutam incrivelmente, todas tem o seu momento de ser forte, de ser heroína, de ser maravilhosa. E é importante realmente focar nos atributos da personagem, não os físicos, mas o que ela tem”, destaca Thassia.
Diana, o nome de batismo da Mulher-Maravilha, nasceu em Temiscera, uma ilha habitada somente por mulheres guerreiras - as amazonas. É dessa jornada que ela parte para suas aventuras de salvação do mundo. “Hoje, acho que ela é um símbolo não só do feminismo, mas um símbolo de luta. É uma inspiração”, define Thassia.
Assim como muitos personagens criados pós Segunda Guerra Mundial para exaltar o patriotismo estadunidense, a Mulher-Maravilha também carrega lá os seus problemas quando trata-se de ser vista como uma representatividade importante dentro de lutas sociais. A jornalista Flávia Ribeiro, feminista negra e pesquisadora de raça, gênero e comunicação, aponta que a narrativa da Mulher-Maravilha, nos filmes recentes, fica apenas na superfície quando se trata de propor discussões feministas.
“É um filme que, por exemplo, não combate a questão racial. Fala da questão de gênero e mesmo assim tem algumas críticas em relação a isso. Eu não acredito no feminismo que só combate as opressões de gênero. O feminismo que eu construo e acredito, combate muito mais do que gênero. Ele combate a questão racial, a questão de classe e outras opressões que são ocasionadas devido a marcadores sociais diversos, além do gênero”, diz a pesquisadora.
Para Flávia, os filmes da Mulher-Maravilha trazem um recorte do que chama de “Feminismos”, já que o movimento tem braços diversos, pois as mulheres também são diversas. “Se a gente só discutir gênero, fica parecendo aquele negócio do pai falando para o filho que ‘na volta a gente compra’. Então primeiro vamos derrubar as opressões de gênero para depois derrubar as outras, porque para nós não temos hierarquia de opressão”, defende Flávia.
LEIA MAIS
É perceptível que a franquia da Mulher-Maravilha tem tentado correr atrás do prejuízo no sentido da representatividade. A personagem Nubia, conhecida como a Mulher-Maravilha negra, teve seu retorno anunciado para um evento que ocorreria nas HQs da DC recentemente. Outro exemplo é o de Yara Flor, a Mulher-Maravilha brasileira, que também ganhou suas páginas.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA