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Caetano Veloso e Maria Bethânia participam de entrevista exclusiva antes de show em Belém

Artistas do Pará e jornalistas do Grupo Liberal enviaram perguntas aos ídolos

Abílio Dantas
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A turnê mais esperada da música brasileira em 2024, Caetano & Bethânia, chega a Belém no próximo sábado, 28, no Estádio Mangueirão. Durante duas horas de apresentação, o público entrará em um universo paralelo, em que 40 canções que marcaram a vida de muita gente vão encher o espaço das mais diversas emoções e memórias.

Como aquecimento para o espetáculo, o Grupo Liberal dá o pontapé inicial neste domingo a uma série de matérias sobre os dois artistas. Para iniciar, uma entrevista exclusiva, em que artistas paraenses de destaque – Fafá de Belém, Dira Paes, Gaby Amarantos, Felipe Cordeiro, Alba Mariah e Monique Malcher – e jornalistas do Grupo Liberal enviaram perguntas sobre a nova excursão, a relação dos irmãos com Belém e com a Amazônia. Como fizeram ao longo de quase 60 anos de carreira, Caetano e Bethânia responderam com sinceridade e poesia.

Felipe Melo (Diretor de Conteúdo do Grupo Liberal): Como vocês entendem a presença de elementos regionais da Amazônia na música popular brasileira hoje, principalmente neste movimento de reflexo da diversidade cultural do Brasil? Para vocês, como isso impacta nas suas próprias impressões em vista do futuro da MPB?

CV - Espero que a música fascinante que ouvi em Belém desde o século passado – e que se desenvolveu eletronicamente ao longo das décadas - mantenha sua força criativa e que o Brasil todo seja tocado por isso.

Marly Quadros (Editora do caderno Cultura do jornal O Liberal): Vocês estão entre os maiores artistas da música brasileira. Como tem sido o contato de vocês com as novas gerações, sua linguagem influenciada pelas mídias sociais e, na era dos feats, o contato com artistas mais jovens? Destacariam algum nome dessa turma nova?

MB - Primeiramente, muito obrigada por nos colocar Caetano e eu entre os grandes artistas do Brasil. Os contatos que tenho, que sempre tive ao longo da minha carreira com gerações mais novas, mais recentes, continua. Eu tenho tido oportunidade de trabalhar com pessoas que admiro, pessoas jovens de movimentos diferentes: Glória Groove, Tim Bernardes, Chico Chico, Liniker, como exemplo. Eu tenho imensa alegria em trabalhar com eles. Mas isso não é uma novidade no meu tempo de trabalho como cantora. Eu falei três nomes pra destacar, que pra mim são destaques imensos, são fortes representantes cada um do seu estilo e são bem recentes, são bem mais novos.

CV - Tenho destacado o nome de Thiago Amud, um talento exuberante, um autor de letras ultra bem-escritas e melodias incomuns. Também a riqueza do trabalho de Tim Bernardes. Mas há a turma do rap e do trap, com MC Cabelinho, TZ da Coronel e muita gente nova que não chego a conhecer. Mas ouço os ecos.

Márcia Azevedo (Editora do caderno Show do jornal Amazônia): Caetano e Bethânia: o que falar desta parceria de irmãos artistas, durante a vida toda, e novamente agora no palco?

MB - Olha, minha parceria com Caetano, que eu saiba, é desde que eu nasci. Somos irmãos de ventre, pai e mãe, ele antes de mim quatro anos, eu a caçula da família. Caetano, como sempre disse, me guiou em tudo, crescemos juntos grudados e com Caetano me orientando sobre todas as possíveis situações do mundo, da música, da poesia, do cinema, da arte de modo geral. Caetano foi, é e será para sempre um mestre na minha vida.

CV - Pra mim, é um orgulho e um fenômeno de profundidade afetiva que isso esteja acontecendo. Vi Bethânia nascer e a acompanhei na sua infância e adolescência. E foi ela quem me trouxe pra o Rio e para o espaço nacional. A pedido de meu pai, tomei conta dela. E ela lançou minhas primeiras canções. Fizemos show juntos em 1978 e agora estamos juntos de novo. É fraternidade.

Abílio Dantas (Coordenador do núcleo de Cultura do Grupo Liberal): Caetano e Bethânia, o amor ainda é “o ato da gente ficar no ar antes de mergulhar”, como na canção Trampolim, composta por vocês? Há outras parcerias entre vocês dois?

MB - Pois é. Eu escrevi essas palavras e Caetano musicou. Eu sou louca por essa música, mas é uma música que ficou assim muito entre nós, não foi uma música que chegou para o público. Eu gravei. Eu não sou autora, eu sou intérprete, mas às vezes eu tenho umas coisas que eu escrevo. Eu mostrava muita coisa a Caetano e mostrei isso que eu escrevi de Trampolim, ele musicou e eu gravei, mas não fui muito adiante, não. Fiz uma canção pra voz de Gal, sobre a voz de Gal, que ela gravou. Fiz acho que umas duas pequenas participações. A canção Baby, gravada por Gal, grande sucesso de Gal é um foi um pedido meu a Caetano. Eu fiquei muito impressionada nesse período em que as pessoas começaram a usar camisetas com pensamentos e opiniões escritas, impressas em suas camisetas, e eu achei bonito um dia que passei e vi alguém escrito “I love you” na camiseta. Fiquei encantada e pedi pro Caetano fazer uma canção, dei um pouco a ideia, o sentido de como eu pensava e ele compôs essa linda música que virou um dos maiores sucessos da carreira de Gal e do repertório de Caetano.

CV - Que bom você relembrar Trampolim! Sim, o amor é o que Bethânia escreveu ali e eu pude musicar.

Fafá de Belém (Cantora): O que mais encanta vocês em Belém? Quais são as recordações da última vez que estiveram na cidade? Quero vocês no Círio! Rsrsrs

MB - Belém. Eu tenho tantas recordações, Fafá de Belém. A última vez que cantei em Belém, eu cantei no teatro, aquilo era uma joia, eu não sei hoje como está, se funciona ainda como teatro, como sala de espetáculos, mas eu tenho uma memória muito viva, muito quente da beleza daquele lugar, da qualidade daquele lugar, do público recebendo meu espetáculo naquele lugar. E, mais do que tudo, saindo após o show atravessando o parque, a pequena praça, onde milhares de pessoas reunidas, saindo do show, outras já deviam estar ali e comentando, eu passei a pé, atravessei porque o hotel era logo defronte, eu fiquei muito emocionada de ver um movimento de amizade ali exposto, e artístico porque tinha música, tinha gente tocando, tinha gente cantando ao vivo, tinha música eletrônica e eu fiquei encantada com isso, nunca esqueci, embaixo daquelas mangueiras deslumbrantes. Eu tenho muita saudade de Belém. Uma cidade que me comoveu sempre muito e, mais do que tudo, a gente não pode falar em Belém sem lembrar Nossa Senhora, que é a minha maior devoção. [Sobre o Círio] Um sonho meu. Até uma das últimas vezes que estive por aí me perguntaram se eu já tinha visto e eu [disse que] não, mas,quando chego, a primeira coisa que eu quero fazer é visitar Nossa Senhora. Mas eu nunca consegui, nunca coincidiu de dar certo na época eu poder ir, mas é um sonho meu.

CV - Fafá, você sabe como eu adoro Belém. É uma das minhas cidades favoritas no mundo. Estive aí com meus filhos no show Ofertório. Levei Tom pra comer açaí de verdade e ele ficou maravilhado com o gosto. Levei todos, claro, mas Tom foi o quereagiu de forma mais emocionante para mim. Adoro as mangueiras, as casas, as praças, o jeito do povo falar. Curiosamente, Belém foi uma das cidades brasileiras que conheci mais cedo em minha carreira. Fui em 1968, antes da prisão e do exílio. Fiquei apaixonado pela cidade e até hoje é assim.

Eduardo Rocha (Repórter de Cultura): A Amazônia está em foco nas discussões sobre as mudanças climáticas e a necessidade de preservação dos ecossistemas naturais, às vésperas da COP30 a ser realizada em Belém no mês de novembro de 2025. Como vocês entendem essa temática ambiental e social da Amazônia? O que se pode fazer para se manter os ecossistemas nessa região?

MB - Primeiro de tudo ter juízo e respeito. A floresta amazônica pra mim é como Deus. Eu reverencio ela como a Deus, como a Nossa Senhora, como os orixás, uma entidade para mim. Então, tudo em relação à Amazônia tem que ser pensado a partir desse sentimento, vendo ela como uma entidade. Eu quando vejo realizar algum desejo muito profundo e bom para o país, para o Brasil e para o mundo eu sonho com a floresta respirando.

CV - Não sou técnico nesses assuntos. Mas ouço os mais avisados. Estamos num momento terrível, com as estiagens longuíssimas, baixa umidade, calor, fogo país afora. Há também todo um enredo criminal envolvendo a Amazônia. E não só ela. Trata-se de um problema tão vasto que as estratégias precisam vir do governo federal.

Ismaelino Pinto (Jornalista e colunista do Grupo Liberal): Como é para vocês fazer shows em grandes estádios do país?

MB - Olha, eu há 60 anos estou em cena, graças a Deus, Caetano um pouquinho menos, mas próximo disso. Fazer show, pra mim, o palco é o palco. Pode ser no estádio, pode ser num circo, pode ser num teatro, pode ser num bar, numa boate, é o palco! Então, agora tem uma novidade de os estádios receberem maior número de ouvintes, de espectadores, que isso é bonito, isso é comovente, grandioso, me alegra muito. Mas palco para mim é sagrado e está ali, onde eu pisar será sempre do mesmo modo com todo respeito.

CV - Pra mim, é uma novidade. Nunca fiz isso antes. Até aqui, tenho gostado muito.

Dira Paes (Atriz e diretora): Somos unidos pela maniçoba, por que sei que a vossa irmã faz uma das melhores maniçobas da Bahia. Vocês costumam comer? Quando e como foi a primeira ida à nossa Belém do Pará?

MB - Pois é, Dira. A maniçoba do Recôncavo é diferente da de vocês, mas é saborosa também. Todo fevereiro na minha casa é maniçoba, é lei (2 de fevereiro e o dia da lavagem do adro da igreja de Nossa Senhora da Purificação, sempre no último domingo de janeiro). Fora isso, a minha casa, a casa onde nasci e fui criada, a casa de meus pais, meus irmãos, sempre teve. Minha mãe sempre ensinou suas filhas e seus filhos. A cozinha sempre foi um lugar aberto, de convívio. E, sim, verdadeiramente minha irmã mais velha, minha madrinha, Clara Maria (que já está na glória de Deus), fazia divinamente. Divinamente! Ela conseguia fazer melhor que minha mãe, mas isso é uma herança. A filha dela, minha sobrinha, faz tão boa quanto, diferente um pouco, é assim. [Sobre a primeira ida a Belém] Tem muitos anos, Dira. Ah, tem muitos e muitos anos. Fui com minha irmã Nicinha, que sempre trabalhou comigo enquanto viveu, e amávamos reverenciar Nossa Senhora, olhar o rio, ir no mercado, olhar as mangueiras, esperar a chuva, os parques, as praças. Eu fiquei muito encantada, eu sou de cidade de praça, então eu acho bonito movimento, reuniões em praça. Eu fiquei muito comovido. Acho Belém linda, linda, linda, linda, linda e com uma música linda.

CV - Fui a Belém bem cedo em minha carreira. E voltei muitas vezes. Amo a cidade. Curiosamente a maniçoba era uma comida tida pelos baianos do recôncavo como um prato típico local. Em Santo Amaro se fazia maniçoba com frequência. Em Belém que descobri que o prato era de origem paraense. E em Belém ela é mais refinada.

Gaby Amarantos (Cantora): Bethânia e Caetano, eu amo você e tô muito feliz que vão trazer essa turnê para nossa capital da Amazônia. A minha pergunta é, para além desse show icônico vai dar tempo de vocês irem curtir uma festa de aparelhagem? Se quiserem eu posso levar vocês para sentirem o Batidão do nosso tecnobrega?

MB - Gaby, que beleza! Um convite irrecusável! Infelizmente, a gente chega e sai. Faz o show e sai. Não sei se teremos oportunidade de ver tão de perto assim, mas de qualquer modo, o seu trabalho traduz muita coisa de Belém, da capital da Amazônia e da Amazônia. Vocês são muito poderosos, são gigantes. Eu admiro profundamente. Muito obrigada! Adorei esse convite.

CV - Sou fascinado pela aparelhagem. Gostaria de poder ir numa noite de festa. Mas tenho 82 anos e o show com Beta é longo e exige muito. Vamos ver se consigo fazer algo além dele.

Alba Mariah (Cantora): Além da música paraense mostrada pela mídia e seus segmentos, vocês teriam curiosidade de conhecer, ou conhecem outros artistas paraenses?

MB - Eu conheço realmente os artistas que estão à mostra no Brasil inteiro. Sei que Belém tem uma música própria. Sei que vocês têm uma escolha para um tipo de música. Confesso que não sei como uma Música Popular Brasileira, a tradicional MPB, funciona hoje em Belém, porque a música de vocês é muito forte em todas as áreas e vocês aí vivem muito da música de vocês, o que é lindo e que não pode ser perdido.

CV - Quero conhecer mais. Vou procurar.

Monique Malcher (Escritora): Muitas vezes a gente pergunta para si e para outros artistas como a poesia se faz presente no modo de criar, mas dessa vez gostaria de saber quais são os assombros, aqueles que nos fazem brilhar e nos instigam, que ainda arrepiam o corpo antes e durante uma música nova ou ao cantar uma música antiga para um público que nunca é o mesmo?

CV - Isso acontece com considerável frequência nesses shows que venho fazendo com Bethânia. Vamos ver como vai ser em Belém, cidade que eu amo particularmente.

Felipe Cordeiro (Cantor e compositor) :  Como sentem hoje a música popular brasileira feita na Amazônia e o que ela diz a vocês? A cultura amazônica inspira vocês de algum modo?

MB - Olha, a Amazônia inspira de todo modo, de toda maneira. Então, detalhar musicalmente, poeticamente ou como for, fica pequeno de tal a força da influência que a Amazônia tem na minha vida, nas minhas escolhas, nos meus pensamentos, nas minhas observações.

CV - A Amazônia inspira desde sempre, de longe e de muitas formas. Mas a música local só vim a conhecer já no começo da minha carreira. Pra mim, foi surpreendente e apaixonante ouvir ritmos quase caribenhos no norte do Brasil. E muito originais em si mesmos.

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