Espetáculo “O Cortiço” volta aos palcos de Belém neste final de semana

Na peça são mostradas condições precárias de moradia, racismo e abandono. Além de importantes dramas sociais contados através da arte

Thainá Dias

A Casa de Artes Tiago de Pinho apresenta nesta sexta-feira (14) e sábado (15), a partir das 20h, no Teatro do SESI, em Belém, o espetáculo “O Cortiço”. A peça se trata de uma adaptação do romance de Aluísio de Azevedo. A obra conta a saga de João Romão, imigrante português que constrói um cortiço no Rio de Janeiro. O acaba se tornando um retrato do Brasil do fim do século XIX, em que são mostrados relevantes dramas sociais através da arte.

A peça, que já foi recorde de público do Teatro Margarida Schivasappa dos anos de 2016 a 2019 volta após o período da pandemia. Segundo o diretor do espetáculo, Tiago De Pinho, “é um projeto muito aguardado por nosso público. Porém, com a pandemia, tivemos que deixar adormecer a ideia de voltar. Três anos depois, através de muitos pedidos nas redes sociais e com uma enorme saudade, reunimos o elenco e estamos reapresentando. É uma tradição que a pandemia nos tirou e que a agora retorna aos palcos”, afirmou.

A encenação traz um elenco com 30 atores. “Vamos contar com artistas que fazem ‘O Cortiço’ desde a primeira temporada, como Alle Peixoto, Isabela Arouck, Graciane Gonçalves, Samia Feio e até atores mais novos como Felipe Marques e as crianças Aleide Lua e Ana Vitória”, explicou o diretor. O espetáculo é embalado por trilha sonora ao vivo, interpretada pelas cantoras Renata Del Pinho e Rayssa Silva, com clássicos do samba.

No palco, o público vai se deliciar com personagens que povoam o imaginário popular há décadas, como Rita Baiana, sensual mulata, que desvirtua o sério e dedicado JerônimoPombinha, adorada flor de menina, que acaba se tornando uma prostituta após ser abusada sexualmente por sua própria tia; Bertoleza, fiel escrava de João Romão e que é apunhalada pelas costas pelo grande amor de sua vida.

Tiago fala sobre a intensidade dessa obra. “Atravessa vários setores da nossa sociedade: história, geografia, relações pessoais, costumes! É um retrato fiel do Brasil do final do século 19, onde as primeiras habitações populares começam a se desenhar, habitações precárias e amontoadas de gente”, detalhou. A peça traz questões como preconceito racial, elitismo, violência policial contra populações carentes, machismo e homofobia são retratadas na obra.

“Ao assistir ao espetáculo ou ler o livro, podemos entender o início de muitas mazelas brasileiras, entender melhor os costumes sociais que temos e se perceber dentro de um país que desde sempre, tratou muito mal sua população”, comentou o diretor. Tiago destaca ainda que a peça é uma obra apocalíptica. “ São muitos acontecimentos, uma avalanche de emoções, sensações, situações inesperadas! Você pode em um momento estar rindo sem parar e no outro, se emocionar, se indignar, ficar perplexo com a maldade humana”.

A novidade desse retorno são os atores estreando em papéis importantes como Bianca Brabo interpretando Madrinha Leoni, novas cenas que não existiam nas montagens passadas e Rita Baiana interpretada pela cantora e atriz Júlia Passos que irá cantar em cena.

O elenco está afinado e empolgado para a estreia de sexta-feira (14). A atriz Emanuele Corrêa, que também é jornalista e produtora cultural e fala um pouco sobre como é estar no elenco. Questionada se ela se identifica com a personagem que interpreta, a Dona Isabel, ela explica mais sobre a trama. “Não me identifico com a Dona Isabel, mas é muito interessante dar vida a ela, já que ela é uma personagem complexa e desafiadora”, explicou.

Segundo a atriz, sua personagem é uma mulher religiosa, viúva e mãe da Pombinha. “A Isabel passa por cima da sua religiosidade e ética para se ver livre da vida infeliz que leva no cortiço. Desde a usar o que era para a época feitiçaria, até passar pano para a violência sofrida pela filha”.

Emanuele reforça que o espetáculo é extremamente necessário e se atualiza, conforme as releituras, pois trata com um humor e acidez, os dramas sociais, as injustiças e mazelas sociais. “O público irá com certeza rir, se divertir em muitos momentos e também se sentir impactado e reflexivo. É uma experiência necessária ir ao teatro assistir ao O Cortiço", finalizou a artista.

Agende-se

Espetáculo ‘O Cortiço’

Data: 14 e 15/04

Hora: 20h

Local: Teatro do SESI (Av. Almirante Barroso, 2540)

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