Espetáculo ‘Com os bolsos cheios de pão’, da Cia Cisco, inicia temporada em Belém no próximo sábado
O texto do dramaturgo romeno Matei Visniec traz ao Teatro Margarida Schivasappa contradições e dilemas contemporâneos

Dois homens indignados, diante de um poço, onde um cachorro agoniza após ser jogado por desconhecidos. A partir dessa cena, os personagens argumentam, discordam, mas não decidem fazer nada para ajudar. Com essa metáfora da vida contemporânea, o espetáculo teatral “Com os bolsos cheios de pão”, peça inédita em Belém, traz a Cia Cisco, de São Paulo, ao Teatro Margarida Schivasappa em duas sessões com entrada franca, nos dias 29 e 30, às 20h, com distribuição gratuita de ingressos a partir de 14h. A apresentação faz parte do projeto “Escambo: Rede Parente”, contemplado pela Bolsa Funarte de Teatro Myriam Muniz.
Criada pelo dramaturgo e jornalista romeno Matei Visniec, a história instiga o público a refletir. O elenco é formado pelos atores Edgar Castro e Donizeti Mazonas, um paraense e um paranaense; e a direção é de Vinicius Torres Machado. Além dos dois dias de espetáculos, a companhia promove também a oficina “A escuta do corpo”, no dia 30, de 9h às 13h, e, logo em seguida, às 17h, a mesa pública “O trabalho do intérprete teatral como ofício”, ambos no Teatro Margarida Schivasappa. Donizeti Mazonas falou com exclusividade ao Grupo Liberal.
“O desejo de fazer o espetáculo nasceu em 2018. Eu, o ator Edgar Castro e o diretor Vinicius Torres Machado tínhamos participado de um projeto da Cia Livre, aqui de São Paulo e, terminado esse projeto, ficou o desejo de seguirmos juntos. Fomos à procura de um texto para dois atores, pensamos em Beckett (dramaturgo e escritor) e chegamos em Visniec, que tem em Beckett uma forte inspiração. No final de 2019 fomos contemplados com o Prêmio Zé Renato, da Secretaria Municipal de Cultura, para a montagem. Começamos a ensaiar, mas a Pandemia de Covid 19 estancou esse processo e somente no início de 2022 conseguimos estrear o espetáculo. A peça estreou no Sesc Pompeia, com excelente acolhida da crítica, sendo indicado ao Prêmio Shell, na categoria de Melhor Iluminação”, afirma Mazonas.
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Segundo o ator, a peça já traz em sua dramaturgia a típica dupla cômica do teatro popular. Os personagens são nominados por seus acessórios, O Homem de Bengala e o Homem de Chapéu. “A primeira coisa que me ocorreu, obviamente, foi pensar que ‘chapéu’ seria o desse homem. Então me veio à memória meus tios que usavam um lenço branco na cabeça, amarrado nas quatro pontas, como um boné. O que cria uma figura interessante, popular, lembrando um pouco as figuras do Brueguel (pintor renascentista belga). Na semana que começamos os ensaios, apareceu no meu portão um cachorro, pequeno, pelagem branca, que ficou por lá, vários dias. Resolvi adotá-lo. Ele era muito simpático, mas muito amedrontado, quando você se aproximava ele se encolhia como se fosse apanhar. Ele não sabia o que poderia vir de um humano, um carinho ou uma agressão. Isso criava um movimento contraditório em seu corpo de desejo e medo ao mesmo tempo. Achei que ele me seria um ótimo “coach”. E assim foi. Ele me deu muitas chaves para a atuação. Ainda mais que tinha tudo a ver com a temática da peça”, explica o artista.
“Belém será nossa primeira cidade dentro do projeto Escambo: Rede Parente. Projeto idealizado por mim e pelo Edgar, financiado pela Bolsa Funarte de Teatro Myriam Muniz, mas que só acontece por conta da forte rede de parceiros que estabelecemos em cada cidade por onde o projeto irá circular: Belém, Manaus, Campo Grande, finalizando em SP. Em Belém, o grupo USINA encabeça essa rede que recebe os grupos participantes do projeto. Vamos encerrar a etapa Belém, com muita alegria, pois o projeto tem acontecido de maneira muito potente. Não poderia ter sido melhor a largada. Belém tem ainda mais um fator de contentamento para nós: é a terra e o berço artístico de Edgar Castro. Precisa dizer mais? Não. A peça dirá por nós”, conclui o ator.
Serviço:
- Espetáculo “Com os bolsos cheios de pão”: 29 e 30 de março, às 20h, com distribuição de ingresso a partir de 14h;
- Oficina “A escuta do corpo”: dia 30 de março, das 9h às 13h, inscrições abertas
- Mesa Pública “O trabalho do intérprete teatral como ofício”: 30 de março, às 17h, inscrições abertas: https://forms.gle/tFDw82HthgKWMMpSA
Programação gratuita no Teatro Margarida Schivasappa (na Fundação Cultural do Pará - FCP, Av. Gentil Bittencourt, 650).
*Coordenador do Núcleo de Cultura do Grupo Liberal
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