Escritor indígena lança livro que reflete vivência dos povos originários na cidade
Obra reúne ensaios e poemas escritos entre 2018 e 2024 e é lançado no projeto Diálogos Literários,
O escritor e ativista indígena Porakê Munduruku lança neste sábado (26) sua nova obra literária, 'IMUÊ’EM: por um estar no mundo originário', um livro não ficcional que propõe reflexões sobre meio ambiente, espiritualidade, história, filosofia e arte, a partir da ótica do autor.
A estreia do livro integra a programação gratuita do Projeto Diálogos Literários, que ocorre no Centro Cultural Rosa Luxemburgo, em Ananindeua. O artista indígena faz parte de um movimento crescente no qual povos originários vêm expressando suas visões e vivências por meio da arte e da literatura.
VEJA MAIS:
“Na língua Munduruku, imuê’en quer dizer retribuição. Para mim, este é o princípio fundamental de um estar no mundo originário. Este livro representa minha tentativa de apresentar uma justa retribuição a todos os mestres e mestras, aliados ou inimigos, que me presentearam com seus ensinamentos ao longo de minha caminhada até aqui”, explica Porakê.
O projeto Diálogos Literários, do qual a obra faz parte, é idealizado pela pedagoga Fátima Afonso, presidente do Centro Cultural Rosa Luxemburgo. A iniciativa tem o objetivo de promover entrevistas com autores locais e proporcionar ao público uma imersão nas produções literárias realizadas na Amazônia, além de incentivar a troca de saberes.
A obra de Porakê reúne doze ensaios e seis poemas, todos escritos entre 2018 e 2024, originalmente publicados em blogs, portais e redes sociais do autor. Ele afirma que o livro é marcado por experiências intensas vividas na periferia da cidade.
“Esta miscelânea serve como registro das dores, angústias, entendimentos e esperanças que acumulei ao longo da jornada de retomada do meu pertencimento étnico-racial como uma pessoa indígena, sobrevivendo na periferia da terceira maior metrópole da Amazônia", relata o escritor.
A vivência de Porakê, crescendo distante das terras indígenas, reflete a realidade de grande parte dos indígenas no Brasil. Segundo dados do IBGE, 63,27% dos povos originários vivem fora de seus territórios. A maior proporção está na região Sudeste (82,56% ou 101,9 mil), seguida pelo Nordeste (75,43% ou 398,9 mil) e Norte (57,99% ou 436,9 mil).
Segundo o autor, esse cenário — a presença significativa de indígenas em centros urbanos — deve ser pautado na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), como parte essencial da discussão sobre Amazônia.
“Nós cultivamos esse planeta! Somos Natureza, embora a Natureza seja muito mais do que nós”, afirma Porakê.
A liderança indígena Maria Leusa Munduruku, atuante nos territórios do povo Munduruku no Alto Tapajós, assina um dos dois prefácios da obra. Em sua contribuição, ela reflete sobre identidade e resistência dos povos indígenas.
“Este livro fala da trajetória do meu parente Porakê. Ele traz uma mensagem muito importante para todos nós, indígenas: você nunca vai deixar de ser indígena. Não importa se você não fala mais a língua, ainda somos povos indígenas. Este apagamento é consequência da tutela que fizeram contra os nossos antepassados. E agora, nós, filhos e netos que sofremos as consequências da escravização de nossos pais e avós, é que devemos contar e escrever nossas próprias histórias”, afirma a liderança.
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA