Conheça Peter Magubane, fotógrafo oficial de Nelson Mandela e ativista contra o apartheid
O fotojornalista, de 91 anos, foi importante ator no combate à segregação na África do Sul
Peter Magubane, fotojornalista e ativista contra o apartheid na África do Sul, morreu na última segunda-feira, 1. O fotógrafo, de 91 anos, ficou conhecido por ser o responsável pelos registros oficiais de Nelson Mandela e pelo combate à segregação. Magubane era sul-africano e negro.
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A morte foi confirmada pela família aos canais de notícias sul-africanos, sem divulgação de mais detalhes. Enquanto atuava como fotojornalista no período do apartheid, Magubane costumava dizer que escondia a câmera entre pães, caixas de leite vazias ou na bíblia. A informação é do The New York Times.
Em 2015, o fotojornalista, em entrevista ao The Guardian, declarou que não pretendia ir para outro país para ter uma vida diferente. “Eu não quero deixar o país para encontrar outra vida. Eu vou ficar e lutar com a minha câmera, como se fosse minha arma. Eu não quero matar ninguém. Eu quero matar o apartheid”, afirmou.
A fotógrafa paraense Jacy Santos diz que a relação entre história e fotografia inicia no século XIX e as duas tornam-se indissociáveis. “Nesse contexto, é comum que algumas fotografias e, consequentemente, alguns fotógrafos se sobressaiam, como foi o caso de Magubane”, fala.
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Zizi Kodwa, Ministro de Artes, Esportes e Cultura da África do Sul, lamentou a morte de Magubane e disse que fotojornalista documentou de maneira destemida as injustiças do apartheid. “A África do Sul perdeu um lutador pela liberdade, um magistral contador de histórias e fotógrafo. Meus pensamentos e minhas orações estão com a família do Dr. Magubane”, escreveu no X (Twitter).
Magubane disse que não pedia permissão para fotografar, mas se desculpava se alguém se sentisse insultado - e continuava com a foto registrada. “Apenas depois que completo minha tarefa que eu penso nos perigos que estão ao meu redor, nas tragédias que acontecem com o meu povo”, falou.
De acordo com Jacy, a principal razão para as fotografias de Magubane ainda repercutirem são seu caráter histórico. “Peter era, sobretudo, um fotógrafo sul-africano registrando sua própria história”, aponta.
A fotografia mais emblemática de Magubane foi tirada em 1956. Na imagem, uma menina branca está sentada em um banco escrito “apenas europeus” ("european only", em inglês), enquanto a babá negra está no banco ao lado.
Diversos livros foram publicados por Magubane, mas a maior parte foi censurada durante o apartheid (entre 1948 até o início dos anos 1990). O fotojornalista também foi preso por registrar manifestações em frente a uma prisão e por ter descumprido a ordem judicial que determinava a proibição de permanecer atuando com fotografia.
Quando Nelson Mandela saiu da prisão após 27 anos, em 1990, Peter Magubane se tornou seu fotógrafo oficial durante quatro anos, até Mandela assumir a presidência da África do Sul - se tornando o primeiro presidente negro do país.
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Apesar da relação “tímida” entre fotografia e história no começo, as duas áreas consolidam um dos maiores encontros, segundo a fotógrafa Jacy Santos.
A fotógrafa ressalta que, além de técnica, os profissionais também contam com a sorte. “As cenas acontecem e nós, fotógrafos, felizmente, estamos lá para registrar. Nos preparamos, principalmente, praticando, antecipando (ou pelo menos tentando) movimentos, observando”, diz.
Para Jacy, na história contemporânea, os fotógrafos têm se tornado figuras importantes, já que são responsáveis por documentar os acontecimentos.
Jacy também explica que cada fotógrafo tem algum tema de interesse maior e isso é levado em consideração. “Cada um de nós tem um olhar aguçado para algo ou alguma coisa, que nos chama mais atenção e estamos mais propensos a registrar”, conclui.
(*Lívia Ximenes, estagiária sob supervisão do Coordenador de Cultura, Abílio Dantas)
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