Arrastão do Pavulagem: saiba como foi criado o chapéu de fitas inspirado em São João Batista
A manifestação popular está conectada à criação de Clayderson Freire, um educador artístico de 45 anos, que, inspirado por São João Batista, criou a estrela que abençoa os participantes do cortejo
Um dos símbolos que mais representa o Arrastão do Pavulagem, além do Boi Pavulagem, é o chapéu de fitas coloridas com uma estrela azul. No último dia 16 de junho, durante o primeiro cortejo deste ano, cerca de 35 mil pessoas balançaram o chapéu de um lado para o outro, ao longo da avenida Presidente Vargas, em Belém, realçando a beleza do evento amazônico, que deve se repetir neste domingo (23/06). A história dessa manifestação popular está entrelaçada à do criador do chapéu como é atualmente, o pedagogo e educador artístico Clayderson Freire, 45 anos, que se inspirou em São João Batista para criar a emblemática estrela que abençoa os participantes do cortejo.
“Durante uma oficina de confecção dos chapéus de fitas, dei minha sugestão para um novo adereço do chapéu, pois eu sabia que já havia tido outras tentativas para elaborar algo que fosse além das fitas coloridas, mas que não haviam dado certo. Primeiro, sugeri a ideia de fazer alguns chapéus de sol e outros de lua, que ficaram legais, porém ainda não eram o que buscávamos. Depois disso, pensei: se somos o Batalhão da Estrela, e a estrela é São João Batista, uma estrela azul estará na cabeça de todo mundo, protegendo a todos. E deu certo!”, lembrou Clayderson, que é conhecido entre os amigos de Pavulagem como Clay.
A produção dos chapéus oficiais do Pavulagem é feita na casa de Clay, no bairro da Pedreira, na capital paraense. Ao todo, ele produz manualmente mais de 600 chapéus por temporada, e às vezes conta com o apoio da mãe ou dos amigos para confeccioná-los. O arte educador explica que os ítens são feitos sob encomenda para o Instituto Arraial do Pavulagem, onde são comercializados na chamada “lojinha pavulagem”, e também para o Batalhão da Estrela, nome dado às pessoas que participam do cortejo.
“Os chapéus da lojinha possuem uma etiqueta, identificando que aquele produto é oficial. Todo valor da venda é revertido ao Instituto para que possam ser feitos os pagamentos de água e luz, além da manutenção da estrutura da sede e dos nossos instrumentos musicais. E o valor estipulado é feito pela própria lojinha. Afinal de contas, uma hora a festa acaba, e é preciso ter recursos para manter a sede do Instituto. Eu também vendo os chapéus a preço de custo, a R$ 40, para o pessoal do Batalhão, que é o povo da dança, da perna de pau e da percussão”, explicou.
Dedicação e capricho
Para conseguir atender as demandas, o trabalho de Clay começa ao nascer do sol e costuma terminar de madrugada. Não há um horário definido para ele colocar a mão na massa, pois, todos os dias, o artesão precisa conciliar a tarefa de confecção dos chapéus com as demais obrigações da vida, como levar os filhos ao colégio, fazer a comida da família e ir para as aulas do cursos de artes visuais e cenografia. Quando não está sentado à mesa, em frente para a máquina de costurar, o pedagogo concentra-se para desenhar, pintar e colar as centenas estrelas azuis nos chapéus.
Ao falar sobre o trabalho, Clayderson mostra estar bastante comprometido com a tarefa de aprimorar os chapéus de fitas que embelezam a festa. Ele explica que as diferenças dos chapéus oficiais para os não oficiais estão na camada dupla, que torna o original mais resistente, e a fita de número 9, que é mais larga se comparada aos não oficiais, que utilizam a numeração 5. Mas a principal diferença mesmo está no capricho, conforme ele mesmo afirma: “Reconheço meus chapéus na rua pela posição da estrela. Gosto de desenhá-las. Se as estrelas estiverem tortas e sem a ponta para frente, sei logo que não fui eu que fiz”, comentou dando gargalhadas.
O trabalho de Clay começa de fato com os desenhos das estrelas nos chapéus: “Pego o chapéu de palha, desenho a estrela só com a caneta, aí começa a pintura da estrela com a tinta azul. Depois disso, espero secar, faço a coloração na cor dourada ao redor da estrela e desenho uma volta azul ao entorno dela. Deixando ele pronto, pintado, começo a parte da costura. As fitas já vão estar cortadas, aí começo a costurar, para fazer na sequência que é: vermelho, verde, azul e amarelo. Repito essa sequência mais uma vez, totalizando oito fitas. Faço duas voltas na costura e finalizo, sempre cortando a pontinha da fita em formato de bandeirinha”.
Amor ao Pavulagem
Para Clay, o Pavulagem teve um impacto significativo em sua vida, pois foi lá que ele descobriu seu talento artístico e musical: “Foi a partir do meu ingresso no Pavulagem que despertei meu lado artístico, incluindo a música e as artes visuais. Foi nesse momento que pude me encontrar, pois até então não tinha tido contato com essas áreas. Atualmente, os cursos que faço são todos influenciados pelas experiências vividas no Pavulagem. Eu já cuidava da cenografia do Arraial mesmo sem ter estudado isso antes, tudo vinha da minha imaginação. Depois dessa experiência, decidi me aprofundar nos estudos de cenografia, então, posso dizer que o Pavulagem é uma presença constante em minha vida”.
Serviço:
2º cortejo do Arrastão do Pavulagem 2024
Data: 23 de junho
Concentração: às 9h
Saída: na praça da República (em frente ao Theatro da Paz)
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