Paraense apresenta na COP 27 relação entre violência e desmatamento na Amazônia

O geógrafo Aiala Couto participa da Conferência do Clima da ONU nesta semana

Daniel Nardin
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O geógrafo e professor da Universidade Estadual do Pará (UEPA) Aiala Couto está em Sharm El Sheikh, no Egito, participando da 27ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 27. No evento, Aiala apresenta o resultado da pesquisa “Cartografia da violência na Amazônia”, onde aponta que os crimes ambientais tem relação com crimes organizados na região, “sobretudo com ênfase de facções do crime organizado que se conectaram à exploração ilegal de madeira, ao contrabando e também à questão do garimpo”, explica.

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“Entre 2019 a 2021 coordenei e desenvolvi a pesquisa, em um projeto em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública no qual também sou pesquisador e que foi financiado pelo Instituto Clima E Sociedade (ICS). Buscamos compreender a relação entre os crimes ambientais na Amazônia com o crime organizado, visto que existem conexões entre várias atividades ilícitas que nos últimos anos em função da fragilidade institucional do governo brasileiro em relação às políticas ambientais, ganharam espaço e força política e econômica, tornando-se então, uma das maiores ameaças na atualidade para a floresta e seus povos. Ou seja, há nesse sentido, uma necessidade de incorporar a agenda ambiental a uma agenda de segurança pública que garanta a resolução destes problemas”, avalia.

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De acordo com ele, essa relação torna as atividades ilícitas mais fortes na Amazônia. Segundo o pesquisador, outro aspecto que chamou a atenção no padrão desses crimes é que se constatou a presença de facções próximo a territórios indígenas ou quilombolas, em estados como o Pará, Amazonas, Rondônia, Acre. Para o pesquisador, apenas com estudo e discussão é possível implementar políticas públicas para enfrentar o problema.

“Debater e divulgar o material resultado de uma pesquisa inédita torna-se relevante, sobretudo, em função do ativismo ambiental perceber o quanto se tornou complexa a questão ambiental na Amazônia. Antes falávamos de madeireiros, grileiros, garimpeiros, etc. hoje falamos de narcotraficantes e facções criminosas em territórios indígenas, quilombolas, ribeirinhos, e mais do que isso, criminosos financiando o desmatamento e a invasão de terras indígenas para expandir a atividades de garimpo ilegal. Nestes termos, percebemos que são problemas que não serão resolvidos sem uma agenda específica para Amazônia onde os estados da região devem se comprometer em trabalhar juntos com a união na busca de uma política econômica e ambientalmente sustentável”, destaca.

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Durante a COP 27, Aiala irá entregar o estudo para governadores da Amazônia e também deverá repassar a representantes da equipe do futuro governo federal, uma vez que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva também estará no evento na próxima semana. “Acreditamos que um grande esforço deve ser feito e sem vontade política não conseguiremos resolver tais problemas. Assim, a ideia é que o relatório final e os resultados da pesquisa divulgados aqui na COP-27 sejam explorados por ativistas, sociedade civil organizada, políticos, refletindo então como uma espécie de chamado em relação ao novo governo e que a partir daí possamos contar com um Ministério dos Povos da Amazônia e com uma agenda ambiental séria. Por fim, talvez seja importante retomarmos a verdadeira função de órgãos tão enfraquecidos nestes últimos anos como o Incra, Funai e Ibama”, destaca.

'Relação criminosa'

“Nós entendemos que há uma relação criminosa envolvendo desmatamento ilegal, as queimadas ilegais e essa conexão com outros crimes, e podemos dizer que é um tipo de violência que se manifesta na região e que de certa forma contribui para uma insegurança climática e injustiça ambiental. E por isso é tão importante destacar o papel que os povos da floresta desenvolvem para a manutenção da floresta e combate ao aquecimento global”, ressalta o professor.

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Segundo o geógrafo, esse olhar buscando compreender a relação entre as atividades ilícitas é uma abordagem recente, pois geralmente se analisa separadamente o crime ambiental do crime organizado. “Nós já vamos iniciar outra pesquisa este ano sobre a violência letal na Amazônia Legal, destacando a necessidade de qualificar diversos tipos de violência que atingem os povos da floresta, dando ênfase aos conflitos relacionados aos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e camponeses”, informa. Esse estudo, de acordo com o professor, será fundamental para poder basear a construção de políticas públicas para a região de combate aos crimes ambientais e organizados.

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Para ele, será importante desenvolver mecanismos que garantam maior presença e segurança de povos tradicionais na Amazônia. “É importante destacar que os povos da floresta têm um papel fundamental para a proteção da natureza, ou seja, são espécies de guardiões e garantem uma espécie de segurança climática. Quando temos a presença de atividades predatórias como o desmatamento ilegal, temos também a invasão de terras indígenas e  de territórios quilombolas povos definidos como populações tradicionais. Este fato tem levado à morte e ameaça de lideranças destes grupos étnicos e até mesmo de agentes governamentais comprometidos com a questão ambiental. Ou seja, há, portanto, uma dinâmica de violência que vem se manifestando de forma intensa nos estados do Pará, Maranhão e Mato Grosso. Por fim, posso dizer que só é possível falarmos de segurança climática se tivermos a garantia de proteção e defesa destes territórios que vem sendo tomados por forasteiros”, argumenta.

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