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Lideranças tradicionais da Amazônia definem ações para a COP do Povo em Belém

Evento organizado pelo Instituto Zé Claudio e Maria (IZM) foi realizado nesta sexta-feira (30/8), em Belém

O Liberal

Representantes de comunidades tradicionais da Amazônia se reuniram em Belém, nesta sexta-feira, 30 de agosto, para definir ações da COP do Povo, um evento paralelo à Conferência das Partes (COP-30), que vai ser realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em novembro de 2025 no Pará.

A reunião na capital paraense foi uma preparação para que lideranças indígenas, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas, ativistas e pesquisadores construam uma agenda coletiva a fim de garantir que os povos da Amazônia estejam no centro das discussões internacionais sobre o clima.

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Organizada pelo Instituto Zé Claudio e Maria (IZM), com apoio da ONG Global Witness, o evento juntou 66 representantes de 40 organizações sociais em prol da amplificação das vozes de lideranças historicamente invisibilizadas nos acordos climáticos, a partir de um primeiro nivelamento das informações sobre a COP. “A construção da COP do Povo é para honrar o legado de Zé Cláudio e Maria, dois defensores ambientais assassinados em 2011. Por isso, buscamos construir um ambiente seguro para que defensores ambientais possam discutir”, explica Claudelice Santos, coordenadora do IZM e uma das organizadoras da programação.

Entre os presentes estavam lideranças de destaque na luta pelos direitos dos povos da Amazônia, como Alessandra Korap, do povo Munduruku e coordenadora da Associação Indígena Pariri; Neidinha Suruí, indigenista e defensora ambiental de Rondônia; Marly Lúcia, da Confederação Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas Costeiras e Marinhas (Confrem); e Josias dos Santos, conhecido como “Jota”, liderança quilombola da Amarqualta, no Vale do Acará (PA), e outros.

Alessandra Munduruku afirma que “a COP é um evento com forte presença de bancos e empresários que queimam o planeta, e sem as comunidades tradicionais”. “Eu, enquanto liderança, defendo que os povos tradicionais comecem a agir agora mesmo, ir para os territórios, fazer formação sobre o que é COP. Estamos aqui para mostrar como queremos que a COP seja e que não vamos deixar falarem pela gente, porque somos nós que estamos resistindo e protegendo a floresta todos os dias”, explica.

Democratização do debate

Desde o início das negociações climáticas, defensores ambientais não participam dos centros de tomadas de decisões nas conferências do clima. Durante a reunião, diversas lideranças relataram terem enfrentado dificuldades para obter acessos em edições anteriores da COP, como explica a ativista dos direitos humanos e do meio ambiente, Neidinha Suruí.

Ela defende que é preciso interferir e levar mudanças efetivas para a conferência. “Vamos mapear nossos parentes que falam inglês. Precisamos levar indígenas, quilombolas, extrativistas e afins que falem outro idioma e que nos façam sermos entendidos nesses lugares. Precisamos nos fortalecer e montar estratégias para levar propostas para a COP".

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Claudelice Santos reforça que “a reunião foi o início do processo de estabelecer algo coletivo a fim de envolver as bases que não participam das tomadas de decisão em uma COP”. “Foi um momento de estabelecer um ponto de reflexão diante de uma avalanche de discursos fantasiosos que se dizem em prol da floresta, de uma ‘sociobiodiversidade’, do ‘capitalismo verde’, de uma maquiagem de responsabilidade social e ambiental, enquanto ações de empresas poluidoras são tuteladas pelo Estado”, finaliza.

Legado da COP

Em maio deste ano, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), declarou que Belém está recebendo um investimento de cerca de R$ 5 bilhões em infraestrutura para a realização da COP-30. Desse total, R$ 3 bilhões serão executados este ano e até R$ 2 bilhões em 2025. A falta de investimentos em projetos diretamente ligados às comunidades tradicionais foi um dos pontos de crítica na preparação para a COP-30.

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“Belém merece, sim, investimentos, mas deveriam olhar mais para quem realmente protege a floresta. A cidade já sediou o Fórum Mundial Social, a Cúpula da Amazônia, e nada mudou para nós. A Doca vai receber um pedaço de Paris, a Estação das Docas vai virar um point chique. São obras megalomaníacas e que nada afetam o cotidiano de quem preserva a floresta, enquanto isso estamos mantendo a nossa biodiversidade amazônica à custa de muito suor”, destaca Raimundo Magno, liderança da Associação Quilombola África e Laranjituba.

Até novembro de 2025, outras reuniões preparatórias serão realizadas. A ideia é que as próximas sejam em outros estados da Amazônia Legal, a fim de democratizar a organização da COP do Povo e capilarizar ainda mais a presença das lideranças na construção do movimento.

COP 30