COP 30: Engenheiro florestal e líder regional faz análise para a conferência da Amazônia
A 30ª COP, nesta semana anunciada pela ONU para novembro/2025, em Belém, não vem por acaso. Confira o que diz o mestre em Desenvolvimento Local na Amazônia Wendell Andrade sobre o encontro.
A COP, sigla em inglês para Conference of the Parties, é a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Nasceu em 1995, na Alemanha, puxada pelos bons encaminhamentos dos países durante a Rio-92 e pelo consenso científico de que a desordem climática movida pela ação voraz da espécie humana em modificar o planeta – na época conhecida de modo mais simples pela expressão “efeito estufa” – é uma realidade incontestável. A premissa científica é: transformamos demais o planeta a ponto de ele ficar climaticamente “desalinhado”, o que tem gerado eventos climáticos extremos em todas as partes do globo, trazendo cada vez mais impactos econômicos e sociais, agudizando a pobreza onde ela já existe e trazendo incerteza sobre a vida. Presente e futura.
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Desde 1995, então, uma vez ao ano, cientistas, chefes de Estado, sociedade civil e empresariado do planeta inteiro reúnem-se em uma cidade do mundo durante cerca de duas semanas (às vezes um pouco mais) para debaterem os avanços científicos sobre Clima; negociarem esforços e ambições de Países em razão da emergência climática já vivenciada; apresentarem soluções inovadoras e viáveis em cada continente; e, é claro, se organizarem por meio de decisões governamentais, com peso político e normativo no plano interno dos 198 países signatários da Convenção do Clima.
Além disso, a COP é também uma grande “feira” de parcerias em níveis técnico, científico, financeiro, comercial e comunicacional, em favor de enfrentarmos, como Humanidade, o desafio comum: não permitir que a temperatura média do planeta suba a níveis que façam com que a Terra, da forma como a conhecemos, desande para uma condição em que a vida humana – e a de centenas de milhares de espécies de fauna, flora e micro-organismos - esteja fadada a desaparecer da "Casa Comum", nesta e nas próximas gerações.
A 30ª COP, nesta semana anunciada pela ONU para novembro/2025, em Belém, não vem por acaso. Deve-se a um conjunto de fatores, dentre os quais estão:
- o crescente apelo internacional por uma agenda ambiental séria para a Amazônia – escancarado durante os 4 anos do mandato bolsonarista, que ignorou por completo o assunto;
- o protagonismo do Estado do Pará na agenda ambiental desde 2019, mostrando ao mundo que um Governo subnacional podia pensar, falar e agir em sentido oposto ao de Bolsonaro no Brasil e;
- é claro, a volta de Lula – ladeado de Marina Silva neste tema – à Presidência da República, por todo o “atestado de capacidade” dos dois em reduzir o desmatamento na Amazônia Brasileira em 83,5%, entre 2005 e 2010, com reflexos até 2012.
Combinados, estes fatores foram determinantes para que a COP 30, já considerada por alguns como a "nova grande esperança desde o Acordo de Paris", venha pela primeira vez ao Brasil e à Amazônia.
Apenas para que os paraenses tenham uma ideia do porte de uma COP, as edições dos últimos anos foram sediadas em “capitais globais” como Paris (França), Marrakech (Marrocos), Madrid (Espanha), Glasgow (Escócia), Bonn (Alemanha), além de Dubai (Emirados Árabes Unidos), que é a sede neste 2023. Assim, Belém passa a fazer parte de uma seleta lista de cidades onde a Humanidade aterrissa, por duas semanas, para discutir meios de garantir a continuidade da vida no planeta. Incluindo a nossa.
Wendell Andrade é engenheiro florestal, mestre em Desenvolvimento Local na Amazônia (UFPA), liderança amazônica pelo Projeto Realidade Climática, de Al Gore, e professor universitário.
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