O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

Sobre a arrogância e a simplicidade

Océlio de Morais

Quando Yuri Alekseievitch Gagarin — o jovem cosmonauta de 27 anos no comando da nave espacial Vostok, naquele dia 12 de abril de 1961, às 9h07 (horário de Brasília) —, exclamou que “A Terra é azul”,  certamente suas  emoções, encantadas com o que via,  esqueceu, ainda que  por um instante,  os perigos da guerra fria entre o seu país e o EUA, e que tornava vulnerável a vida no Planeta.

O  privilégio que somente os olhos daquele  primeiro cosmonauta russo   até então tinha visto  – visão que a humanidade desconhecia  a partir da órbita terrestre  –  oito anos mais tarde, o astronauta Neil Armstrong, ao pisar no solo lunar naquela dia 21 de julho de 1969, às 20:17, também revelou suas emoções para a humanidade que, ansiosa,  o acompanhava através das notícias de rádio da NASA: "É um pequeno passo para [um] homem, um passo gigante para a humanidade, exclamou Armstrong.

Um parêntesis: aquela “Terra azul" que encantou os olhos daquele jovem cosmonauta, é assim explicada pela física: quanto mais distante  vemos um objeto, o denominado ponto remoto transmite a sensação de que estamos diante de ponto infinito, que é azul total ou uma escuridão sem fim, da qual não sabemos a dimensão real. Fecho o parêntesis. 

Se tivéssemos, como os astronautas, a oportunidade  de ver  a Terra lá  da  exosfera – a física explica que a exosfera  é a camada atmosférica que está  acima de mil quilômetros, ambiente onde inexiste lei da gravidade e, por isso, as moléculas se perdem no espaço interplanetário  – provavelmente muitos pensaríamos que somos pequeninos, um grão tão minúsculo na grandiosidade misteriosa e fascinante da Orbe, que nos levaria a pensar sobre o sentido da simplicidade como condição indispensável à ascese espiritual.

Acontece comigo e certamente com todos aqueles que também são reflexivos: sinto-me pequenino (assim, quase invisível) todas as vezes que olho para os Céus do dia e da noite e constato que toda arrogância humana resulta de um superego  que se acha esperto e quer  o mundo sob sua soberana  vontade.  A sensação de pequenez  individual aponta, por outro lado,  à grandeza da simplicidade está em compreender e viver concretamente bons princípios humanos aprimoram o sentido próprio da vida.

A arrogância não conhece a mansidão da simplicidade, talvez porque o arrogante perdeu (ou nunca teve) a humildade de se compreender como mais  um  pequenino na imensidão da Terra com seus mais de 8 bilhões de habitantes, – todos, mas todinhos mesmo – com as mesmas necessidades biológicas e fisiológicas, e com uma finitude física  que nos leva ao pó. O arrogante é egoísta, porque ele não se coloca  ao serviço das virtudes. É, por isso, cavaleiro das desvirtudes. Por não conhecer e não viver a simplicidade, o arrogante despreza o semelhante. 

Teriam – o cosmonauta Gagarin e o astronauta Armstrong –  tido a sensibilidade para revelar suas emoções sobre o que viram e fizeram em benefício da humanidade  nas suas viagens espaciais?  Por certo que não!

Pessoas que empregam suas inteligências e habilidade em prol de causas nobres – aqui designo aquelas que contribuem  sem personalismo egocêntrico à evolução do pensamento em todas as perspectivas humanitárias e humanizantes —  são paradigmas que já alcançaram um elevado grau de bem-servir.

O bem-servir com a simplicidade de ser útil  – isto é , sem a troca de favores, marca registrada dos altos escalões do poder – é uma das chaves para vencer a arrogância que teima dominar os pensamentos e vontades humanas. 

Paremos um pouco para refletir nas diferenças entre a arrogância e a simplicidade.  A pessoa  arrogante é um insolente que sempre age com vaidade material, porque não conhece a si mesma e, deste modo, não estabelece limites às suas ações ambiciosas.  

De outro lado, a simplicidade que pode habitar  a alma de  qualquer um – basta que a porta da  boa vontade esteja aberta para isso – revela espírito evoluído, aquele que já entendeu que a inteligência não é má e  não deve ser usada para fazer o mal .

A arrogância, então,  dirá que a simplicidade é ingênua porque, nas relações interpessoais, será engolida pela competitividade, visto que esta potencializa conflitos e as tramas e traições são comumente utilizadas no xadrez do poder.  Mas  a mansidão da simplicidade, inerente  à alma evoluída, subsistirá às tentações corruptivas da alma  doente. 

Bom, tenho consciência que a minha visão  de mundo  não é  do tamanho das necessidades do mundo, porque o mundo é cheio de bilhões de necessidades,  a partir das carências,  vontades e desejos de seus bilhões de habitantes humanos.  

E sei que o mundo tem sua visão múltipla acerca das coisas simples e complexas e ainda  sobre  o que as pessoas fazem (ou deixam de fazer) para alcançar a simplicidade.   

Mas podemos começar pelo mais simples para entender o bem que a mansidão da simplicidade faz à alma: primeiro, olhar para a dimensão dos Céus e cair na real que somos pequeninos diante de tudo que nos cerca; segundo, empregar toda a inteligência para fazer o bem e, terceiro, procurar desenvolver o dom de bem-servir.  A simplicidade,  nessas dimensões evolutivas, tem um propósito maior:  a ideia ou projeto por um mundo melhor, porque a essência da simplicidade é a grandeza de espírito. 

A simplicidade —  como meta humanizante disponível a qualquer um — quer apenas uma oportunidade para dar a seguinte mensagem::  o azul que abraça a Terra é o alerta  constante quanto à nossa pequenez  e finitude materiais, mas também constitui o desafio ao  aperfeiçoamento espiritual.

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ATENÇÃO: Em  observância à Lei  9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.;  Instagram: @oceliojcmoraisescritor

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