Sobre a arrogância e a simplicidade Océlio de Morais 21.02.23 8h52 Quando Yuri Alekseievitch Gagarin — o jovem cosmonauta de 27 anos no comando da nave espacial Vostok, naquele dia 12 de abril de 1961, às 9h07 (horário de Brasília) —, exclamou que “A Terra é azul”, certamente suas emoções, encantadas com o que via, esqueceu, ainda que por um instante, os perigos da guerra fria entre o seu país e o EUA, e que tornava vulnerável a vida no Planeta. O privilégio que somente os olhos daquele primeiro cosmonauta russo até então tinha visto – visão que a humanidade desconhecia a partir da órbita terrestre – oito anos mais tarde, o astronauta Neil Armstrong, ao pisar no solo lunar naquela dia 21 de julho de 1969, às 20:17, também revelou suas emoções para a humanidade que, ansiosa, o acompanhava através das notícias de rádio da NASA: "É um pequeno passo para [um] homem, um passo gigante para a humanidade, exclamou Armstrong. Um parêntesis: aquela “Terra azul" que encantou os olhos daquele jovem cosmonauta, é assim explicada pela física: quanto mais distante vemos um objeto, o denominado ponto remoto transmite a sensação de que estamos diante de ponto infinito, que é azul total ou uma escuridão sem fim, da qual não sabemos a dimensão real. Fecho o parêntesis. Se tivéssemos, como os astronautas, a oportunidade de ver a Terra lá da exosfera – a física explica que a exosfera é a camada atmosférica que está acima de mil quilômetros, ambiente onde inexiste lei da gravidade e, por isso, as moléculas se perdem no espaço interplanetário – provavelmente muitos pensaríamos que somos pequeninos, um grão tão minúsculo na grandiosidade misteriosa e fascinante da Orbe, que nos levaria a pensar sobre o sentido da simplicidade como condição indispensável à ascese espiritual. Acontece comigo e certamente com todos aqueles que também são reflexivos: sinto-me pequenino (assim, quase invisível) todas as vezes que olho para os Céus do dia e da noite e constato que toda arrogância humana resulta de um superego que se acha esperto e quer o mundo sob sua soberana vontade. A sensação de pequenez individual aponta, por outro lado, à grandeza da simplicidade está em compreender e viver concretamente bons princípios humanos aprimoram o sentido próprio da vida. A arrogância não conhece a mansidão da simplicidade, talvez porque o arrogante perdeu (ou nunca teve) a humildade de se compreender como mais um pequenino na imensidão da Terra com seus mais de 8 bilhões de habitantes, – todos, mas todinhos mesmo – com as mesmas necessidades biológicas e fisiológicas, e com uma finitude física que nos leva ao pó. O arrogante é egoísta, porque ele não se coloca ao serviço das virtudes. É, por isso, cavaleiro das desvirtudes. Por não conhecer e não viver a simplicidade, o arrogante despreza o semelhante. Teriam – o cosmonauta Gagarin e o astronauta Armstrong – tido a sensibilidade para revelar suas emoções sobre o que viram e fizeram em benefício da humanidade nas suas viagens espaciais? Por certo que não! Pessoas que empregam suas inteligências e habilidade em prol de causas nobres – aqui designo aquelas que contribuem sem personalismo egocêntrico à evolução do pensamento em todas as perspectivas humanitárias e humanizantes — são paradigmas que já alcançaram um elevado grau de bem-servir. O bem-servir com a simplicidade de ser útil – isto é , sem a troca de favores, marca registrada dos altos escalões do poder – é uma das chaves para vencer a arrogância que teima dominar os pensamentos e vontades humanas. Paremos um pouco para refletir nas diferenças entre a arrogância e a simplicidade. A pessoa arrogante é um insolente que sempre age com vaidade material, porque não conhece a si mesma e, deste modo, não estabelece limites às suas ações ambiciosas. De outro lado, a simplicidade que pode habitar a alma de qualquer um – basta que a porta da boa vontade esteja aberta para isso – revela espírito evoluído, aquele que já entendeu que a inteligência não é má e não deve ser usada para fazer o mal . A arrogância, então, dirá que a simplicidade é ingênua porque, nas relações interpessoais, será engolida pela competitividade, visto que esta potencializa conflitos e as tramas e traições são comumente utilizadas no xadrez do poder. Mas a mansidão da simplicidade, inerente à alma evoluída, subsistirá às tentações corruptivas da alma doente. Bom, tenho consciência que a minha visão de mundo não é do tamanho das necessidades do mundo, porque o mundo é cheio de bilhões de necessidades, a partir das carências, vontades e desejos de seus bilhões de habitantes humanos. E sei que o mundo tem sua visão múltipla acerca das coisas simples e complexas e ainda sobre o que as pessoas fazem (ou deixam de fazer) para alcançar a simplicidade. Mas podemos começar pelo mais simples para entender o bem que a mansidão da simplicidade faz à alma: primeiro, olhar para a dimensão dos Céus e cair na real que somos pequeninos diante de tudo que nos cerca; segundo, empregar toda a inteligência para fazer o bem e, terceiro, procurar desenvolver o dom de bem-servir. A simplicidade, nessas dimensões evolutivas, tem um propósito maior: a ideia ou projeto por um mundo melhor, porque a essência da simplicidade é a grandeza de espírito. A simplicidade — como meta humanizante disponível a qualquer um — quer apenas uma oportunidade para dar a seguinte mensagem:: o azul que abraça a Terra é o alerta constante quanto à nossa pequenez e finitude materiais, mas também constitui o desafio ao aperfeiçoamento espiritual. _____________ ATENÇÃO: Em observância à Lei 9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.; Instagram: @oceliojcmoraisescritor Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave colunas océlio de morais COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Océlio de Morais . Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo! Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é. Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos. 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