Sociedade sem sentimentos, a sociedade mecânica: problemas da biotecnologia, desafio à bioética Océlio de Morais 24.09.24 8h00 Absorvidas ou imersas nos específicos contextos sociais, econômicos, políticos, culturais e religiosos, grande parte das pessoas não percebem que vivemos na sociedade da infotecnologia e da biotecnologia e que esse novo modelo de sociedade do século XXI modifica tudo – especialmente àqueles que nascemos no século XX – no que se refere à inovação, ao aproveitamento do tempo às tarefas cotidianas e às respectivas consequências no modelo familiar, na educação, nas relações de trabalho e noutros ambiente das relações sociais. Os dois pilares dessa sociedade – deles, tratei no meu ensaio acadêmico “Humanismo: e depois de 0ntem” (Alteridade Editora, 2020, p 91-95) – são a infotecnologia (que considera as pessoas como um conjunto de dados ou regras) e a biotecnologia (a seletividade que passa a planejar e selecionar organicamente a vida humana e a vida do ecossistema natural ). As tecnologias usadas às coletas, ao armazenamento e à divulgação das informações, fatos e notícias pelos diversas meios e formas de comunicação instantâneas compreendem as pessoas como grupo de dados genéricos, mas agrupados por perfis, por idades, preferências, por interesses e costumes que a Inteligência Artificial vai codificando para criar seus nichos de consumo imediatista. A cada compra (quando se fornece o CPF), a cada acesso ao WhatSapp, ao Instagram, ao Facebook, ao Tik-Tok, ao YouTube, ao LinkedIn, por exemplo – seja para relacionamento, entretenimento, para o trabalho ou rede social de nicho – os aplicativos (IA), para permitir o acesso e uso, exigem o cadastramento dos dados pessoais de cada usuário. A justificativa é a necessidade de aceitação à política de segurança, o que é verdade; porém, é mais verdadeiro ainda que, com esses dados, o Big Data passa a ter acesso e controle dos dados de milhões de pessoas que utilizam as redes sociais, à medida que o Big Data utiliza as informações dos usuários para análise e interpretação de mega-volumes de dados armazenados virtualmente. Essa é – como dizíamos no roçado familiar lá no interior da minha cidade natal (Monte Alegre/PA, na mesorregião do Baixo Amazonas) quando eu era criança da colônia – a “arapuca” para capturar a inofensiva ave silvestre que ia na plantação procurar grãos para se alimentar. Os aplicativos de IA são como uma “arapuca”. Eles nos capturam pelas incríveis facilidades que oferecem para a conectividade, interatividade e” inclusão” do indivíduo na “aldeia global” – aldeia da qual já tratava Marshall McLuhan, na década de 1960, através de suas obras “Aldeia Global” (1980), “Os meios de comunicação como extensões do homem” (1964) e ”O Meio é a Mensagem (1954), dentre os seus 15 livros. E depois de capturados, literalmente nos tornamos prisioneiros virtuais. Os aplicativos armazenam os dados dos usuários, dados preciosos para a Inteligência Artificial monitorar os gostos e o passo a passo das pessoas, onde quer que estejam – desde que exista cobertura de internet – como o “Grande Olho que tudo vê” e como a espécie de “cérebro tecnológico” que expande suas mensagens e comunicações instantâneas ao mundo. Na sociedade da infotecnologia, a Inteligência Artificial dissemina o consumismo materialista imediatista como algo possível e acessível a todos e como projeto ou estado de felicidade. Por isso quase ninguém percebe que a todo instante somos cada vez mais reféns das “atraentes arapuca”armada pela IA O que o Big Data fará com os dados das pessoas, no futuro bem próximo ou remoto, ainda não se sabe ao certo, mas é possível razoável projetar que os dados provavelmente serão utilizados para a universalização de padrões de costumes, o que exigirá, como contrapartida, leis universais que proíbam e protejam contra os crimes virtuais ; A biotecnologia é defendida pelas empresas que detém suas patentes como necessária para melhor geneticamente os produtos, também para impulsionar maior quantidade na produção e, ainda, para preservar a biodiversidade do ecossistema. É bem verdade que a crescente população mundial já vem consumindo produtos geneticamente modificados – os denominados transgênicos – desde o início da década de 1950 com a descoberta do DNA, tendo havido o grande impedimento a partir da década de 1970, com a seleção de genes e a simbiose entre espécies. Pode-se reconhecer o espetacular avanço das ciências biotecnológicas na seleção genética dos produtos alimentícios e nas pesquisas de proteção da biodiversidade do ecossistema. Por outro, não é possível ignorar – e isso é atemorizante do ponto de vista da geração natural da vida humana – que a biotecnologia também, e de modo progressivamente acelerado, é utilizada como critério de seletividade planejada pelos controladores do planeta em face da vida humana e da vida do ecossistema natural. Vou citar dois casos reais que estão noticiados em sites seguidos na rede mundial de computadores. Cientistas chineses, segundo o Journal of Biomedical Engineering, inventaram um útero artificial, monitorado pela Inteligência Artificial batizada de “AI NAnny”, para a cultura de embriões animais a longo prazo. E outra notícia diz respeito à criação de placentas e úteros artificiais no Hospital Infantil de Filadélfia (CHOP), na Pensilvânia, nos EUA, para geração de bebês para pais inférteis e outras notícias falam sobre úteros artificiais para salvar vidas de bebês muito prematuros. No Brasil, a Constituição Federativa vigente não dedica artigos para tratar da biotecnologia nem a bioética, apenas, ao defender “direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,”, há uma declaração para “preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País”. Por outro lado, pelo menos o Código de Ética Médica, aprovado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), proíbe a seleção genética de bebês porque é considerada uma prática ética e bioeticamente questionáveis e reprováveis. (“...) excluindo-se qualquer ação em células germinativas que resulte na modificação genética da descendência”, dispõe o artigo 15. Mas, da “AI NAnny” e o da criação de placentas e úteros artificiais, a toda evidência, comprovam que a biotecnologia – porque pode selecionar geneticamente quem deve nascer e com qual fenótipo (características identificáveis de uma pessoa) – poderá se constituir numa perigosa ameaça à procriação natural da vida humana. A possibilidade futura da geração de bebês humanos nascidos em úteis artificiais – na atualidade os testes ainda não com embriões de animais irracionais – pode criar a sociedade sem sentimentos, a sociedade sem humanidade, a sociedade mecânica: problemas da biotecnologia, desafio à bioética. A sociedade humana do futuro terá este grande problema a enfrentar e a controlar, mas a sociedade do presente precisa, desde logo, impor um sistema bioético (normativo, moral e social) em defesa da concepção da vida humana natural. A biotecnologia, que nunca ninguém duvide disso, poderá modificar a genética da descendência humana. Então, ainda há tempo – e com urgentíssima prioridade – de se impor pela bioética severos limites à biotecnologia seletiva da conceção da vida humana, pois tal, de verdade, representará o respeito à vida humana pelo seu modo natural de nascer. Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave ocelio de morais colunas COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Océlio de Morais . Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo! Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é. Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos. Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado! 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