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O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

O tempo fugaz que se dispõe para aprender com o tempo e com as pessoas

Océlio de Morais

A rotina do trabalho, a sobrecarga dos serviços, os prazos judiciais a observar e as metas institucionais a cumprir. Lá se foram 10, 20, 30, quase 40 anos. Sim, ao que parece tudo – para lembrar o salmista – “voou sobre as asas do vento”, (Salmos 18:10).

O magistrado estava prestes a se aposentar. Seria uma mudança radical à sua vida, afinal, foram inúmeras decisões judiciais sobre patrimônios e vidas de terceiros.  

E, por essa condição, as coisas do poder lhes foram inerentes –  ambiente no qual aprendera a difícil arte de separar o “joio do trigo” ao mesmo tempo em que viu crescer o onisciente desafio de  “dar a César o que é de César”, a partir da parábola teológica que ensina a  compreender com sabedoria o  valor do bem espiritual em relação a tudo o que advém do bem material. 

Ele estava de mudança. Ficou de pé no meio pequeno gabinete de trabalho e olhou para as quatro paredes – nela estavam seus títulos, honrarias e diplomas – aquelas que muitas vezes foram suas conselheiras selecionadas nos momentos das decisões mais complexas e difíceis. 

Ele irá sair de cena. Vai deixar a vida pública. Olhou para a sua estante – ali estavam suas próprias obras mais importantes e clássicos do Direito, principalmente –  e lembrou o quanto havia aprendido com elas. 

Mas, agora, já não sabia o que  iria fazer com tantos livros, pois não poderia levá-los à sua biblioteca particular, em casa, onde também outras preciosidades já lhes faziam companhia por décadas de aprendizado. 

Não faltava muito tempo, logo ele sairia de cena. Olhou para a toga  de cetim cor preta pendurada no cabide modelo colonial e percebeu que aquele símbolo da Justiça já não seria parte de seu imaginário e nem do seu dia-a-dia.  O símbolo da autoridade, em breve, já não iria lhe pertencer. 

Ele estava de mudança. Seu olhar fixo nas coisas do gabinete também  levavam a memória aos primeiros dias na magistratura: jovem entusiasta e ávido em fazer justiça. Todas suas energias virtuosas dedicadas à Justiça.

O tempo passou e, agora, ele estava prestes a se aposentar. E começou a sentir só. Pessoas que lhe prestavam reverências, lhe confidenciaram assuntos delicados ou lhe pediam favores, já não o cumprimentavam, não iam ao seu gabinete e nem o tomavam mais como conselheiro. E ele pensou: eram amigos sinceros ou “amigos” do poder que eu representava? 

O magistrado se aposentou. A mudança começa agora. A verdadeira mudança ainda está apenas começando. Pela frente lhe aguardam um novo padrão de vida que precisa ser estabelecido, uma nova visão sobre o outro lado dos tribunais deverá ser construída, um novo período de aprendizado social começará com o dia começou com o dia seguinte à aposentadoria. 

Então, de repente, aquele magistrado – que veio ao mundo para resolver litígios judiciais e exerceu bem o seu mister   – percebeu  como  é pequeno e fugaz o tempo que se dispomos para aprender mais com o tempo e com as pessoas. 

Enquanto usou a toga, certamente percebeu as amizades interesseiras, ambiente onde a inveja ataca as virtudes.  Por outro lado, e doravante, sem a força da toga, logo perceberá com maior clareza que as amizades virtuosas nunca se escondem onde quer possas está ou possas ir. 

Sêneca – “O Moço”, o nascido em Córdoba e que foi filósofo – escreveu que “Tudo o que se exige do homem é que seja útil ao maior número de semelhantes, se possível:  

Vi e convivi – próximo e à distância – com aquele magistrado que começou a sua mudança.  Dele, dou um testemunho: ele procurou ser honestamente justo e dedicadamente útil ao maior número de semelhantes.

Enfim, o magistrado mudou-se: deixou a toga e vestiu a roupa dos comuns.  Dele, ainda pode ser dito, com letras garrafais: Viveu a magistratura decente. Fez a caminhada que o destino lhe traçou, parodiando-se Sêneca, na obra “Da Tranquilidade da Alma” “Vivi. Fiz a caminhada que o destino me traçou”.

 

ATENÇÃO: Em observância à Lei  9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.;  Instagram: oceliojcmoraisescritor

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