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O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

Os dois primos

Océlio de Morais

Isso é pura verdade; qualquer  pessoa  quer ser reconhecida com alguma importância. Alguns, por motivo de superego mesmo; outros,  porque querem ser o maior dentre todos e, outros ainda, como forma de exigir respeito e reconhecimento às suas qualidades.

 Essa conduta, no sentido da natureza ou condição própria de existir,  é variável entre cada uma das pessoas, seja como consciência virtuosa das próprias limitações, seja  como soberba –  aquela  prepotência de superioridade em relação aos demais, sendo reveladora da disfunção da simplicidade.

Humildade e soberba é o tema desta breve reflexão filosófica.  Minha argumentação  – a humildade é uma espécie de sabedoria espiritual, enquanto que a soberba revela a demência da alma   – quer demonstrar que o ser humano, no domínio da sua razão, será capaz de dominar a soberba se compreender e adotar concretamente a simplicidade como regra de vida, qualquer que seja o seu papel na sociedade. 

João Batista e Jesus – faço a referência nessa ordem pela precedência do nascimento – são o paradigma da temática adotada  à  reflexão.

Na Era Cristã, conforme o Novo Testamento, os dois são os  maiores profetas que a humanidade já conheceu.  Primos de 2º grau – Maria, mãe de Jesus  era prima de Isabel, mãe de João Batista – mas, curiosamente,  eles nunca tiveram a oportunidade de brincar juntos ou de fazer uma refeição sob o mesmo teto.  Pelo menos inexiste relato bíblico nesse sentido. 

As potestades divinas dos dois se encontraram pela primeira vez na Terra – assim pode ser dito e compreendido – quando Isabel, no povoado de Ein Kerem (Região montanhosa da judeia) e  grávida de três meses, recebeu a visita da prima Maria, que acabara de ser ungida pelo Espírito Santo para ser a mãe de Jesus. Esses relatos histórico-teológicos estão em Lucas 1,5-31 e 1:39-47. 

Verdadeiramente foi um encontro de seres iluminados.  João Batista agitou-se no ventre da mãe ao receber a visita do primo também em gestação. E Izabel ficou cheia do Espírito Santo, exaltando a beatitude de Maria, bem como o ventre mais sagrado dentre todas as mulheres e o esperado messias”, relata o Evangelho de Lucas (1:39-47).

O único outro encontro entre os dois – assim consta em Marcos 1:10-11 – foi no batismo de Jesus por João Batista, no rio Jordão. “Assim que saiu da água, Jesus viu o céu se abrindo e o Espírito descendo como pomba sobre ele. Então veio dos céus uma voz: "Tu és o meu Filho amado; de ti me agrado".

A falta de relatos históricos-teológicos entre os dois na infância, na adolescência e na juventude não desvirtuou a missão de cada qual.  Ambos tinham o DNA da humildade e da simplicidade,  a tônica de suas existências – humildade e simplicidade como transcendências da missão profética que encorparam plenamente com palavras e atitudes.

João Batista – o mensageiro  anunciado por outro profeta (o Elias) como aquele que viria  à frente para preparar as “veredas retas” ao profeta Maior (Jesus) –  revelou toda a sublimidade de seu espírito, confessando-se  menor com seu batismo com água, visto que maior seria o batismo com o  Espírito Santo, que seria feito por Jesus – primo de  “cujas correias das sandálias”, disse ele. “não sou digno de desamarrar”. (João, 1:20).

Jesus foi grande em humildade e caridade. E assim recomendou aos seus discípulos e seguidores que aquele  desejasse ser o maior (prepotente, soberbo e tirano) fosse o menor como condição para ganhar o Reino dos Céus. “ (...) o maior entre vós seja como o menor; e quem governa, como quem serve.”. Lucas 22:24-26).

Essa recomendação à arte da  humildade – que é imortal, portanto vale para os dias atuais – veio a propósito da pergunta dos discípulos, que queriam saber "Quem é o maior no Reino dos céus?", ao que Jesus respondeu, conforme Mateus 18:4,  que “ quem se faz humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos céus.”

João Batista e Jesus, em momentos distintos, foram vítimas da corrupção  do sistema e do poder de sua época.

Por um capricho sexual  de Herodes I, rei do território da Judeia – tido como o soberbo-louco que mandou matar a própria família e vários rabinos com receio das conspirações e de perder o poder – também mandou decapitar João Batista. 

Isso aconteceu porque o Profeta que pregava no deserto, comia gafanhotos e mel silvestre, para fazer prevalecer a lei matrimonial da época, disse a Herodes que “Não te é lícito tomá-la por mulher”. Referia-se a Herodíade, que era mulher de seu irmão Filipe. O assassinato foi consumado mediante o pedido da filha de Herodíade,  que também havia agradado aos olhos de Herodes,  e, sedutora, pediu-lhe para entregar-lhe “acabeça de João Batista numa bandeja!” (Marcos, 14:6). 

Quanto a Jesus, a história registra: O Messias da simplicidade e da humildade foi vítima da conspiração e da corrupção do sistema (veja a crônica  “As corrupções que Jesus sofreu”). 

O sistema não o aceitou porque – apesar de todo o poder que detinha, sendo o maior de todos os profetas  – não se deixou envolver pela soberba, nem pelas armadilhas do poder. 

Ao contrário, num exemplo de extrema humildade, na festa de páscoa, Jesus lavou os pés dos discípulos. “Depois, derramando água numa bacia, começou a lavar os pés dos seus discípulos e a enxugá-los com a toalha que tinha na cintura.” (João, 13:5).

O exemplo dos dois primos – a humildade e a simplicidade por toda a vida – aponta para duas coisas que sempre atormentaram os homens: o dinheiro e o poder corrompidos.  A história das grandes tragédias pessoais e  familiares – podem observar isso – sempre têm no enredo o dinheiro e o poder corrompidos. 

Essas duas coisas, quando desejadas com obsessividade, invariavelmente levam a pessoa à perda da humildade. A usura pelo dinheiro corrompido leva à cegueira pelo poder também  corrompido. E este, por suas vez,  oferece banquetes, mas cobrará, oportunamente, o respectivo preço.

Então, penso que já é possível confirmar que a humildade é um pressuposto da alma sábia e a soberba o veneno que cega a razão e corrompe o espírito. 

Também é possível concluir que o exemplo de simplicidade e humildade dos dois primos – João Batista e Jesus Cristo – é o antídoto-chave para, em qualquer nível de relação de poder, evitar as tentações que podem levar à corrupção da natureza das coisas. A simplicidade  e a humildade devem ser regras de vida, qualquer que seja o seu papel  de cada pessoa na sociedade.

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ATENÇÃO: Em  observância à Lei  9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.;  Instagram: oceliojcmoraisescritor.

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