O Papa Francisco, o ativista da teologia da humildade e da amizade social Océlio de Morais 22.04.25 8h05 Quando nascemos – embora não saibamos exatamente, porque vamos descobrindo à medida da nossa evolução – desígnios espirituais são definidos para toda a nossa existência temporal. Deus os define e, apesar da sua Legião espiritual ser encarregada da vigilância dos desígnios – sempre caberá a cada ser humano a decisão de aceitá-los ou não, devido ao princípio do livre arbítrio – aquele que a humanidade bem o conhece, desde a Criação, quando Adão e Eva escolheram comer o “fruto proibido” (Gênesis: 1:1-3), o mesmo livre arbítrio que Moisés fala sobre a escolha da vida e da morte, da bênção e da maldição destacando a necessidade de escolher a vida ligada a Deus. (Deuteronômio,30:19-20). Então, temos o livre arbítrio por toda a existência corpórea, aquele período de testes e de experiências na Terra para trabalharmos nossas virtudes – livre arbítrio como capacidade humana para fazer escolhas entre o bem e o mal, como um dia já disse o teólogo italiano Tomás de Aquino, na sua Summa Theologiae. Pelo que ouvi de falas e pelo que li de suas mensagens epistolares, o Papa Francisco – no meu livro “A vida é uma crônica”, na crônica “Os seios Papas de minha vida”, eu o denominei o “Papa da Simpicidade” – viveu com espiritualidade especial o seu livre arbítrio. Francisco escreveu apenas quatro encíclicas em doze anos de pontificado, a partir de 13 de março de 2013 até 21 de abril de 2025, em sucessão ao Papa Bento XVI: Carta Encíclica “Lumen fidei” (29 de junho de 2013), “Laudato si'” (24 de maio de 2015), “Fratelli tutti” (3 de outubro de 2020) e “Dilexit nos” (24 de outubro de 2024). As encíclicas atestam que as suas escolhas – o seu livre arbítrio como virtude – apresentam dois pilares desafiadores à vida humana: a humildade e a fraternidade. Francisco falava com a docilidade de Alma sobre essas preciosas virtudes. Desde a primeira à última encíclica, Francisco sempre se referiu à humildade como a virtude especial para compreender mais as pessoas e com elas exercer a solidariedade. Na primeira Encíclica (Lumen fidei, datada de 29 de junho de 2013), Francisco definiu a fé como uma gratidão em Deus e apontou que a humildade como prática de vida tem como correspondência a própria fé em Deus: → “A fé é um dom gratuito de Deus, que exige a humildade e a coragem de fiar-se e entregar-se para ver o caminho luminoso do encontro entre Deus e os homens, a história da salvação.” Na mesma Encíclica, Francisco criou a denominada “Teologia da Humildade”, aquela que a pessoa se “deixa tocar por Deus” para “saber explorar a disciplina da própria razão.” – É própria da teologia a humildade, que se deixa « tocar» por Deus, reconhece os seus limites face ao Mistério e se encoraja a explorar, com a disciplina própria da razão, as riquezas insondáveis deste Mistério". O Papa simplicidade, então, deixou claro que a humildade, para explorar a disciplina da própria razão, é a escolha (ou livre arbítrio) consciente como valor humano, de que todos necessitamos para sermos “tocados” pela simplicidade de Deus. A segunda Carta Encíclica – “Laudato SI’, mi’ Signore, “Louvado sejas, meu Senhor” (dada no dia 24 de Maio de 2015) – é um vigoroso lamento contra a perda da docilidade da simplicidade, Veja-se: –“ A sobriedade e a humildade não gozaram de positiva consideração no século passado. (...). O desaparecimento da humildade, num ser humano excessivamente entusiasmado com a possibilidade de dominar tudo sem limite algum, só pode acabar por prejudicar a sociedade e o meio ambiente.” Mas também é um extraordinário clamor devocional à simplicidade como a arte possível do bem contra as arrogâncias e prepotências humanas: – “Não é fácil desenvolver esta humildade sadia e uma sobriedade feliz, se nos tornamos autônomos, se excluímos Deus da nossa vida fazendo o nosso eu ocupar o seu lugar, se pensamos ser a nossa subjetividade que determina o que é bem e o que é mal.” Por causa de sua visão acolhedoras em relação às pessoas menos favorecidas e historicamente excluídas, alguns o confundiram como um ativista – conforme as conveniências dos segmentos políticos de oportunidade – mas, bem a rigor – se bem baseado na encíclica Laudato SI’ …. – o ativismo do Papa Francisco foi em defesa e pela práxis da fraternidade, pela via da simplicidade, tanto que ele foi além: criticou a mera narrativa ecológica relativo ao ambientalismo, e, por outro lado, defendeu e reafirmou que, antes de tudo, é necessário o “exercício dalguma virtude na vida pessoal e social”. Observe-se o excerto da referida encíclica: – “ A sobriedade e a humildade não gozaram de positiva consideração no século passado. Mas, quando se debilita de forma generalizada o exercício d´alguma virtude na vida pessoal e social, isso acaba por provocar variados desequilíbrios, mesmo ambientais. Por isso, não basta falar apenas da integridade dos ecossistemas; é preciso ter a coragem de falar da integridade da vida humana, da necessidade de incentivar e conjugar todos os grandes valores.” A livre escolha pela humildade como o “grande valor” foi a chave que Francisco adotou para a valorização da vida humana. A paz social também esteve nos temas do livro arbítrio do Papa Francisco. Na terceira Encíclica – Fratelli Tutti, Todos Irmãos, dada em 30 de outubro de 2020 – a fraternidade e a humildade são apresentadas como as “sendas desafiadoras mas fecundas da busca da paz.” A “fraternidade aberta” – escreveu Francisco na referida Encíclica – é a que “permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas independentemente da sua proximidade física, do ponto da terra onde cada uma nasceu ou habita.” A “ fraternidade aberta” – nas palavras do Papa Francisco – é o mesmo que “amizade social”, aquela que “não se limite a palavras” e “que não exclui ninguém”, mas é “fraternidade aberta a todos.”, ou seja, aquela que desafia a pessoa humana “progressiva abertura do amor”. Na Encíclica “Dilexit Nos (Ele nos ama), a última de seu pontificado, publicada em 24 de outubro do ano 2024 – Francisco realçou a humildade libertadora de Jesus, para destacar que as pessoas perdem a humildade devido ao ”ego ferido” – Os sofrimentos têm muitas vezes a ver com o nosso ego ferido, mas é precisamente a humildade do Coração de Cristo que nos indica o caminho do abaixamento.” E apontou que o caminho para viver na humildade é o mesmo que Jesus percorreu e viveu, ou seja, dando o exemplo: “Deus quis vir até nós humilhando-Se, fazendo-Se pequeno”. Portanto, à luz dos pilares das quatro encíclicas, se quisermos dizer que o Papa Francisco foi um ativista, podemos dizer que sim, mas não um ativista das ideologias extremas. Porém, um ativista da arte da humildade, da arte simplicidade e da semente da fraternidade – valores especiais que marcaram suas ideias e seu pontificado, plasmando a denominada Teologia da humildade, a teologia desafiadora para os egos feridos pelas arrogâncias humanas. Francisco – o nosso irmão argentino Jorge Mario Bergoglio – viveu o seu livre arbítrio com a razão da fé no seu tempo terreno. Bem escolheu entre a bênção e a maldição, pois soube se deixar tocar pela humildade de Deus e abriu seu coração para a amizade social. Vou finalizar esse singelo tributo ao Papa Francisco, reproduzindo a “Ode” que fiz em sua homenagem, publicada sob o título “Papa Francisco, emocionais minh’alma”, no meu livro “A Vida é uma Crônica" (2020, 21-25) Papa Francisco, emocionais minh’alma. → Aumentai minha fé na esperança da fraternidade real, entre os homens e mulheres, porque dócil é vossa simplicidade, porque magnânima é vossa humildade porque sublime e virtuoso é vosso exemplo de vida. → Papa irmão Francisco, bendito então seja o dia em que nascestes, pois o mundo recebeu uma luz para fraternizar mais a humanidade. → Papa Francisco sorrio dócil e amável, bendito seja o dia em que escolhestes o sacerdócio e fostes ungido à sagrada vocação ao amor universal. → Papa simplicidade Francisco, bendito seja o dia em que fostes eleito Papa, pois a partir desse dia a Igreja Católica inicia uma nova trajetória teológica franciscana pelos mais humildes dentre os humildes, tal como fizera São Francisco de Assis e tal como ensinara Jesus Cristo aos apóstolos. → Papa servo dos servos Francisco, benditos sejam todos os dias de sua existência, pois ela nos ensina a ter fé, a ter esperança e viver o amor fraternal. → Papa Francisco da paz e do bem, “Cristo bota fé” em ti para devolver à humanidade a humanidade perdida. → Papa Francisco, pedes que rezemos por ti, no entanto és incansável rogando por nós, e com isso conjugas espiritualidade em ti e em nós como irmãos fraternos". ATENÇÃO: Em observância à Lei 9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.; Instagram: oceliojcmoraisescritor Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞 Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave colunas océlio de morais COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Océlio de Morais . Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo! Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é. Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos. Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado! 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