E se tivéssemos um aplicativo tecnológico para medir ética na sociedade? Océlio de Morais 25.03.25 8h53 Como já fui radialista e jornalista, e como não perdi o hábito de sempre ficar bem informado, sinto a necessidade de acompanhar os noticiários. Um dia desses, indo bem cedo ao trabalho no Tribunal, ouvi no rádio o serviço de meteorologia informar as previsões do tempo para as diversas regiões do país. Para cada região, a meteorologia informou e advertiu sobre os temporais no Sudeste, para as secas e queimadas nas regiões Centro-Oeste e Amazônica e, por consequência, para os riscos climáticos para as cidades e para as pessoas. Certamente, ouvindo e se conscientizando dos riscos, as pessoas ficam mais cautelosas para não serem vítimas dos efeitos (ainda que temporários) das variações das temperaturas. Aliás, os aparelhos Iphone ou Smartphone estão repletos de aplicativos que medem a pressão arterial e os batimentos cardíacos, bem como existem diversos outros aplicativos que ajudam a monitorar a saúde ou a pesquisar medicamentos, a controlar a atividade física, dentre outras utilidades. As tecnologias avançadas, neste particular, são cada vez mais úteis à economia do país, porque podem ajudar nos planejamentos, melhorar os métodos produtivos, especialmente no meio rural, assim como podem adotar medidas preventivas contra queimadas. As tecnologias também beneficiam avanços de diversos outros serviços em benefício da sociedade. Então fiquei pensando, estimulado por uma reflexão da ética cristã: como todos esses aplicativos tecnológicos para a própria organização das tarefas e para facilitar as escolhas e as tarefas diárias. Mas, ao mesmo tempo, também pensei: e se tivéssemos um aplicativo para medir o padrão ético do indivíduo? E será que um dia teremos aplicativos tecnológicos para medir o grau ético que repousam nas mentes e nos corações das pessoas? Naquela breve reflexão, imaginei que é possível que isso ocorra, se considerarmos que os aplicativos instalados nos aparelhos celulares, nas residências e nos veículos movidos pela “high technology”, que todos já somos monitorados. E, com isso, a Inteligência Artificial vai modificando nossas preferências, nossos gostos, selecionando as palavras que mais usamos na fala e na escrita, ao ponto de traçar o nosso perfil materialista/consumista e ao ponto de sugerir produtos a partir dessa codificação. Aliás, os projetos das smart cities – as cidades inteligentes do futuro controladas e governadas pelo grande Big Data e que já estão em operação como experimentos em algumas cidades da Europa e na Ásia – são um exemplo de que os aplicativos da Inteligência Artificial poderão ir além do imaginável. Por outro lado, também fiquei refletindo naquele trajeto ao trabalho: ainda que um dia seja inventado o aplicativo tecnológico para medir o padrão ético na mente e no coração das pessoas, a questão, por outro lado, é saber qual será o termômetro do aplicativo para saber se aquele padrão ético coisificado pela Inteligência Artificial representa ou não o perfil ético da mente e do coração da pessoa. Ora, se vivemos numa sociedade que já vai bem além daquela que Zygmunt Bauman descreveu como a sociedade dinâmica, volátil e instável dos anos 1960 a 1990 – veja-se que a sociedade da Era da Inteligência Artificial é incisivamente disruptiva quanto aos valores éticos-morais – isso nos avisa que o padrão ético acerca das coisas e da vida espiritual neste planeta vai se modificando conforme as ideologias políticas de cada tempo. A sociedade da Era da Inteligência Artificial, já o disse noutra pensata, é a sociedade dos valores investidos, porque tudo é relativizado, onde cada vez mais o que é certo é declarado como errado, enquanto que o que é errado é defendido como o certo, onde o sentido ético acerca do que é justo é esvaziado por ideologias que corroem os fundamentos mais sólidos que a humanidade construiu e elegeu como virtudes. Então, pode-se presumir: o possível aplicativo tecnológico até poderá medir padrões éticos das mentes e corações das pessoas, a partir dos dados codificados de cada um. Todavia, é improvável que o medidor da ética alcance a verdadeira ética, aquela que Aristóteles definiu como a ação prática que orienta o comportamento da pessoa na sociedade ou, ainda, a ética que Sêneca definiu como a prática das virtudes (sabedoria, coragem, justiça e autodisciplina) como caminho da felicidade. E não alcançará, por quê? Porque a verdadeira ética é o reflexo da Alma e a Alma – como princípio motor sensível do corpo, na teologia de Agostinho de Hipona – anima sempre a vida humana para as escolhas honestas. Então, assim posso concluir: os aplicativos tecnológicos que medem os fenômenos físicos podem apresentar precisão bem segura quanto às suas previsões. Mas, nenhum aplicativo tecnológico será capaz de medir o tamanho e o vigor da ética da Alma como valor espiritual – o maior e mais importante valor que cada pessoa pode começar, a qualquer momento, a cultivar como a sua ética de vida. ATENÇÃO: Em observância à Lei 9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.; Instagram: oceliojcmoraisescritor Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave océlio de morais colunas COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Océlio de Morais . Desculpe pela interrupção. 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