O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

Diferenças, dignidade humana e felicidade

Océlio de Morais

Dos dois lados da rua,  pessoas esperam o semáforo de trânsito lhes permitir a travessia simultânea de forma segura.   Pessoas  mentalizam seus percursos e destinos. 

Enquanto isso, um incessante ir e vir de carros também cruzam vias e rodovias da cidade em direção aos seus distintos destinos  diários.  

Lá na frente da cidade, desde a sua tímida nascente ao pé da montanha, um grande rio sempre corre mansamente no mesmo e num único sentido até se misturar às águas do mar. 

E ali, o rio e o mar – água doce e água salgada – se tornam um, ampliando as possibilidades de vida da biodiversidade, assim como o rio o fez no seu solitário caminho ao mar.

O que pensa e mentaliza cada pessoa, a propósito de suas metas e objetivos, é apenas um exemplo das nossas diferenças, dentre tantas e tantas  outras que nos caracterizam, distinguem, aproximam ou distanciam umanamente.

Não são, rigorosamente, as diferenças biológicas que substancialmente diferenciam as pessoas, mas, o que as designam verdadeiramente é a cesta de  valores (ou de desvalores) que cada um adota aos seus objetivos de vida.  

E as diferenças biológicas  não podem nos tornar diferentes enquanto pessoas que objetivam a felicidade: isso significa que a felicidade, como objetivo de todos, é o elemento insubstituível que todos devem ter em mente como espécie de alerta para que haja o verdadeiro respeito  à dignidade humana. 

Note-se: o destino final do rio é o mar, onde ali – assim pode-se comparar – alcança o objetivo  principal de sua existência: também ser o próprio mar com suas múltiplas utilidades à vida planetária. 

Dir-se-á que, no mar, o rio encontra a sua  porção mágica da felicidade, pois a outra porção é inerente ao seu percurso solidário e sinuoso cortando florestas ao meio, mas, sendo  ao mesmo tempo, o leito da vida para outras espécies.

O rio segue o curso de sua natureza, enquanto –  para o bem ou para o mal –  a intervenção humana não a altera.  

Assim, também, a vida humana: cada indivíduo percorre caminhos  em busca do seu mar, designadamente suas metas e  objetivos materiais e espirituais. 

O destino final de cada pessoa deve ser a felicidade.  Mas, aqui entra uma questão  que, apesar de fundamental, nem sempre é observada com a atenção merecida: o respeito à dignidade humana como pressuposto da felicidade.

Reflitamos: poderá alguém dizer que é feliz se a sua dignidade não é respeitada? E, por outro lado: alguém que viola a dignidade do semelhante  poderia se considerar uma pessoa feliz, ainda que possua indiscutível poder?

São questões que dizem respeito à situação humana (vítima e violador), que se mostra incompatível com a felicidade, quando a designamos  como estado de espírito livre das percepções erradas acerca das virtudes  – estado que designa a tranquilidade da alma, porque é livre corrupção das coisas.

Nesta perspectiva,  a   busca da felicidade também é uma questão de princípio ético-moral, à medida que a corrupção das virtudes não  possui limites, fato que promove a batalha pelo domínio do poder também corrompido. A corrupção das coisas, verdadeiramente, não  gera  benefícios honestos, pelo contrário, provoca ruptura com  as virtudes necessárias à evolução espiritual de cada indivíduo. 

Ora, a felicidade não é compatível com a natureza humana corrompida pelo exercício  do poder  igualmente corrompido – poder que se revela por diversas formas (inclusive as subliminares manipulações ideológicas), dominador e violador da dignidade humana. 

Nessa ambiência, não haverá verdadeiro  respeito à dignidade humana,  se as mentes e corações não conhecerem e não viverem a magnificência da simplicidade e da humildade, pois são desses valores que todos os demais valores humanos decorrem.

Quando o rio chega ao mar, ele fica mais poderoso e majestoso do que um dia foi. A sua transformação foi para melhor , pois,  embora tenha deixado de ser  um rio, por outro lado, ele não perdeu a sua utilidade essencial à vida. Pode-se dizer que chegar ao mar é o tempo da maturidade para todo e qualquer rio.

Cada pessoa pode chegar ao seu  mar, que é o tempo da maturidade ou da velhice e lá poderá encontrar – apesar das suas múltiplas diferenças – o  objetivo virtuoso tão esperado à sua vida:   o sentimento de felicidade espiritual; portanto,  sem a nódoa violadora da dignidade humana do semelhante. 

Esse desafio – a busca da felicidade pela decidida  opção  à simplicidade e à humildade –  creio ser necessário para valorizar e respeitar com verdadeiro propósito a dignidade humana.

(ATENÇÃO: Em  observância à Lei  9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.;  Instagram: oceliojcmoraisescritor)

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